Escadas, desníveis, pisos de madeira e iluminação fraca podem parecer inofensivos, mas tornam-se ameaçadores depois de uma certa idade. Geralmente, a partir dos 60 anos, quando mudar de endereço não é uma opção tão atraente para muita gente. Segundo pesquisa encomendada em 2015 pela empresa Senior Concierge, 100% dos entrevistados entre 65 e 78 anos pertencentes às classes A e B preferem envelhecer na própria casa para aproveitar o que conquistaram. É quando a reforma pode ser uma maneira de reduzir as dificuldades físicas dos idosos.
Depois de algumas quedas e problemas para se movimentar, o aposentado Marco Leide decidiu que era a hora de adaptar a moradia da mãe, Nair Clara Leide, de 82 anos. Antiga, a casa localizada em Carapicuíba, na Grande São Paulo, apresentava alguns desníveis que não garantiam a mobilidade. Com dois quartos, um deles foi transformado em um banheiro espaçoso. O piso de tacos de madeira foi substituído por antiderrapante, a lavanderia na parte externa foi integrada ao interior da casa, que ganhou barras nas paredes e uma rampa para facilitar o deslocamento da mãe sem perder o equilíbrio.
“Agora a casa não oferece tantos riscos, mas a reforma não saiu barata. Fiz há uns quatro anos e gastei cerca de R$ 20 mil com tudo”, conta Marco Leide. Foi a melhor opção, segundo ele, para que sua mãe continuasse no mesmo lugar em que viveu durante os últimos 59 anos, onde conhece as redondezas e tem parte da família morando na casa da frente.
“A casa tem o jeito da gente, tem muita história. Foram vários nascimentos, aniversários, tristezas, alegrias. Eu jamais cogitei sair daqui”, diz a aposentada. Depois da reforma, Nair sente-se mais segura. “Eu sempre tive bastante cuidado, mas com as novas conveniências, eu me sinto mais confortável. Agora tenho tudo na mão dentro de casa.”
Envelhecer na própria casa tem algumas vantagens como, por exemplo, conhecer a vizinhança, o comércio nas proximidades e estar familiarizado com ruas e semáforos. “Eu gosto daqui porque conheço o comércio, a minha acupuntura é perto e porque tem vezes que saio e encontro amigas antigas no supermercado” comenta dona Nair.
Como fazer. Para adaptar a casa, antes de tudo, é preciso analisar as necessidades e o perfil do idoso. Segundo o especialista em economia da longevidade, Jorge Félix, a diferença nos graus de dependência é o que define as alterações que devem ser feitas. Ao pensar em envelhecimento, ele recomenda focar em dois aspectos: independência e autonomia. A partir da adaptação, a pessoa pode ter maior mobilidade para desenvolver atividades básicas e comuns, além de ter um risco menor de quedas dentro da própria casa.
Segundo Félix, um dos pontos positivos é que há cada vez mais produtos inclusivos — acessíveis para as pessoas das mais variadas faixas etárias e necessidades — no mercado da construção civil. Por exemplo, hoje é possível comprar materiais de acabamento como piso antiderrapante, piso que não esfria, além de tapetes e interruptores inteligentes. Mas é preciso estar preparado para gastar porque os custos de adaptação costumam ser altos.
Custos. Além das necessidades do idoso, o valor de uma reforma vai depender da estrutura da residência. Sem considerar o mobiliário, o valor médio para adaptação de uma casa de 80m² é de R$ 20 mil. Para orçamentos mais apertados, o designer de interiores da ARPA - Arquitetura e Projetos para Acessibilidade, Robson Gonzales, explica que os parentes devem priorizar o banheiro, onde as quedas são mais comuns e perigosas, e em seguida realizar as mudanças no quarto e nos demais cômodos.
Uma reforma completa no banheiro pode custar até R$ 12 mil, incluindo barras de apoio, iluminação, pisos e revestimentos, banco para boxe, entre outras adaptações. No quarto, os valores chegam a R$ 2,5 mil, considerando campainha sem fio, luz interna para armários, duas luminárias do tipo arandelas, novo colchão e pintura. A troca de maçanetas arredondadas por retas custa R$ 110 com a instalação.
Porém, o arquiteto da ARPA alerta que o trajeto quarto-banheiro, principalmente à noite, é considerado o de maior risco na moradia, já que 46% das fraturas em domicílio ocorrem no deslocamento de um ambiente para o outro, de acordo com dados do SUS. “Os idosos levantam de madrugada para ir ao banheiro e muitas vezes não acendem a luz do corredor no percurso”. Gonzales indica a instalação de luzes de balizamento a 40cm do chão ou de luminárias do tipo arandela a cada metro do trajeto. Respectivamente, as peças custam R$ 35,90 e R$ 100, cada.
Na sala, a principal recomendação é evitar tapetes, fios soltos e mesa de centro. “Quanto menos móveis, melhor”, afirma. O designer também aconselha substituir as luzes do teto por arandelas, para que o idoso não precise subir escadas para trocar as lâmpadas. O m² médio é estimado em R$ 1 mil.
Já na cozinha, por ser o ambiente mais caro para se reformar, o m² médio custa R$ 2,5 mil. A conta considera bancadas de granito (necessárias para melhor visualização de objetos), o piso e armários.
Outra empresa que presta serviços personalizados para adequar a casa para idosos é a Senior Concierge. A companhia possui terapeutas ocupacionais gerontólogos, que avaliam as necessidades para as alterações, cobrando R$ 485 a visita. “As adaptações variam de R$ 500 a R$ 10 mil”, afirma o sócio da Senior Concierge, Julio Cesar Peres. Pelas contas dessa prestadora de serviços, a reforma do banheiro custa entre R$ 1,2 mil a R$ 1,5 mil. O pacote inclui a instalação de barras de apoio, elevação de vasos sanitários e cadeira higiênica para banho. A troca de degraus por rampas, para facilitar a locomoção do idoso pela casa, varia entre R$ 500 a R$ 1,3 mil. E para ampliar uma porta, a empresa cobra em média R$ 1 mil.