Sim, a vida está estabilizada. Carreira nos trilhos, apartamento próprio, carro na garagem. É justamente nesse momento que bate a vontade de partir para uma temporada fora, seja para fazer MBA, estudar um idioma ou mesmo conhecer outras culturas. Mas quem faz isso depois dos 40, quando tudo parece tão encaminhado? Com bom planejamento, dizem especialistas, não há motivos para cancelar o sonho. Muito pelo contrário. A pausa pode representar boas perspectivas na volta, do ponto de vista pessoal e profissional.

Pensando nisso, o gerente de contabilidade Alexandre Magno, de 45 anos, deixou o emprego e partiu com a mulher e dois filhos em uma grande aventura, fazer um MBA. “Decidimos que esse intercâmbio não era apenas um projeto profissional: era algo que iria beneficiar toda a família, dando a cada um de nós experiências sensacionais em um país com outra cultura e língua”, conta.

A aposta de Magno foi nos benefícios que teria após a temporada na americana Berkeley: atualização profissional e fluência em inglês. No Brasil, se sentia em um eterno dilema. “Meu nível profissional era alto, mas eu não conseguiria emprego em multinacionais porque meu inglês era fraco, em comparação com o exigido”, explica. “Como gerente sênior, eu não teria como me reportar para um diretor ou presidente estrangeiro.”

Antes de partir, ele se preparou financeiramente não só para arcar com os custos de US$ 119 mil para o curso de dois anos, mas também para manter a família no período em que ele e a mulher, dentista, estariam sem trabalhar. “Nesse processo, também tivemos de tomar bastante cuidado com as diferenças cambiais, que poderiam arruinar seus planos da noite para o dia.”

Professor de Liderança e Gestão de Pessoas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), João Brandão diz que é natural repensar o futuro profissional após os 40 anos, como ocorreu com o gerente de contabilidade Magno. “Nessa fase as pessoas estão em busca de um ano sabático para descobrir o que está surgindo de tendência no mercado, se especializar, fazer um MBA fora ou mesmo um curso de autoconhecimento”, afirma Brandão. Entre os MBAs, ele destaca os programas nas áreas de administração e economia, que têm sido bem eficientes para pessoas na fase de 40 anos.

Brandão explica que, dependendo da idade e da configuração familiar, a pausa na carreira costuma durar um ano. De acordo com ele, há três períodos em que se costuma fazer essa pausa. “Geralmente, quando a pessoa ainda não têm filhos, ou quando os filhos já estão mais crescidos e a criança também faz um intercâmbio, ou quando o filho já está prestes a sair de casa.”

O tempo fora foi a oportunidade que o administrador Renato Serigni, de 45, teve para conhecer mais de um país. Foram 27 territórios, passando por todos os continentes, numa aventura que durou um ano e sete meses. Cansado do estresse do trabalho e decidido a repensar a importância do tempo e do dinheiro, ele planejou com cuidado seu sabático. Em seis meses, vendeu tudo o que tinha. “Vendi um carro, uma moto e saí do meu apartamento”, afirma. “A princípio, eu planejava ficar um ano lá fora. Para isso, me programei para gastar US$ 100 por dia.”

Ficou sete meses mais. Fez cursos de terapias indianas, autoconhecimento, virou instrutor de mergulho e até professor no Timor Leste. Neste período fora, diz que que ganhou mais capacidade de aceitar o diferente e outras culturas, assim como facilidade de negociar, administrar o tempo e de ter empatia para com as pessoas.

Serigni conta que a fase pós 40 anos foi complicada e a viagem ajudou muito. “É a época que gente começa a perceber que, muitas vezes, as pessoas gostam do que fazem, mas nem sempre fazem o que gostam”, conta Serigni. O que o administrador é um fenômeno conhecido pelos especialistas em carreiras. “É normal que os indivíduos nessa idade tomem consciência da vida e analisem o que conquistaram até o momento e comecem a se questionar”, explica o presidente do Instituto Brasil Coaching, José Roberto Marques.

Mas nem sempre é possível ficar um ano. Mãe de três filhos, que tinham 15, 11 e 8 anos na época,- em 2009- a pedagoga Gisela Testa, atualmente com 51 anos, não poderia ficar muito tempo longe de casa, porém também não queria abrir mão de reforçar seu inglês. A solução foi partir para um curso de apenas um mês, na International House London. “Na minha idade, já não se tratava exatamente de formação e sim descobrir que há vida após a maternidade”, brinca Gisela. “A gente se acostuma a não ser a primeira na lista dos desejos.”

Como a escola era em uma área central da cidade, perto do British Museum, a pedagoga aproveitou para fazer turismo. “Depois da aula, à tarde, ia passear e conhecer a cidade, os museus as galerias e os parques.”

É preciso planejar

Antes de viajar, é necessário cautela porque a troca pode ser marcada por um período de insegurança para o trabalhador. O diretor da consultoria de recrutamento Page Personnel, Ricardo Haag alerta sobre os possíveis problemas da transição. Para ele, mudar de profissão nesta etapa de vida envolve alguns riscos. “Se olharmos a carreira convencional, nesse período o profissional está consolidando a sua reputação. Por isso, largar tudo pode ser perigoso”.

O diretor da Page Personnel destaca as dificuldades e desafios financeiros para viver fora. Para realizar o ano sabático, a pessoa precisa pelo menos ter caixa, ou seja, ter condições financeiras e capital para investir nesse tipo de tranquilidade e se sustentar durante um bom período.

Apesar das dificuldades, Haag afirma que essa etapa da vida é excelente para parar, planejar o futuro e construir uma reserva financeira. Segundo ele, caso haja um planejamento prévio aos 40 anos, a fase dos 60 pode ser a “melhor época profissional da pessoa” e a mais tranquila.

SERVIÇO

Para quem busca um MBA

O básico: Um bom caminho é começar pelo MBA Tour, quando algumas das melhores universidades do mundo todo apresentam seus cursos. O próximo evento será realizado no dia 19 de agosto, em São Paulo.

Admissão: o principal teste para ingressar em 1.500 em faculdades de negócio pelo mundo é o Graduate Management Admission Test (GMAT). A prova tem três horas de duração, com 75 questões e dois ensaios. O candidato deve alcançar, na média, 717 pontos. O teste deve ser feito com antecedência. Confira mais no site da organizadora. Muitas faculdades ainda fazem entrevistas e pedem que os alunos expliquem, em uma carta, o motivo da escolha. Logo, estudar a história da instituição e saber o que ela espera dos seus alunos é importante.

Nível de inglês: é preciso obter certificado de proficiência em idiomas como TOEFL, o IELTS, para o inglês, o DELF para o francês e o CELI para o italiano.

Alternativas: empresas como a Central do Intercâmbio, a STB e a World Study têm parcerias com algumas universidades do exterior e oferecem cursos mais acessíveis e de menor duração.

Cursos