Qual a chance de você precisar de atendimento médico em um passeio turístico? Ou de um oficial da imigração pedir que você mostre um seguro viagem para liberar sua entrada no país? A possibilidade é pequena, mostram as estatísticas. Mas o fato é que estamos menos dispostos a arriscar quando o assunto são as tão merecidas férias. Tanto que a procura por essas apólices cresceu nos últimos dois anos, quando os brasileiros tiveram de deixar de viajar por causa da crise.
Só entre 2015 e 2016, o mercado teve um aumento de 72%, segundo os dados da Superintendência de Seguros Privados (Susesp). O prêmio (o valor pago pelo segurado para ter o direito ao benefício) passou de pouco mais de R$ 220 milhões para R$ 420 milhões.
Especialistas recomendam que se tenha um seguro, principalmente para as viagens internacionais, quando os custos de um imprevisto podem ser muito altos. Especialista em planejamento financeiro, Mauro Calil diz que nesses casos ter uma apólice não é um luxo, mas sim uma segurança, ainda que o país escolhido não faça exigência do seguro para permitir a entrada do viajante.
Destino muito procurado por brasileiros, os Estados Unidos, por exemplo, não pedem seguro, ao contrário da maior parte das nações da União Europeia. Vinte e cinco delas, as signatárias do Tratado de Schengen, definiram que o viajante tenha uma apólice que cubra pelo menos 30 mil euros em despesas médicas. E o oficial de alfândega pode exigir o documento antes de deixá-lo entrar. Imagine só, ter de voltar para casa sem conhecer o país escolhido e ainda assim arcar com custos de troca de voo e cancelamento de hotéis?
A segurança é especialmente necessária para turistas idosos, que estão entre os que mais precisam dos atendimentos. De acordo com dados da Sul América, esse grupo representa 14% do total de contratantes da empresa, mas usa o serviço 36% das vezes em despesas com hospitais e medicamentos.
O aposentado Milton Augusto, de 83 anos, foi um dos que precisaram acionar sua seguradora, durante uma viagem à Irlanda, em 2016. Ele tropeçou e fraturou a perna ao tentar subir em um barco para fazer um passeio turístico, enquanto visitava os netos. O hospital para o qual o aposentado foi encaminhado não tinha convênio com o seguro. Ele pagou pelos serviços e, na volta ao Brasil, mostrou os recibos para obter o reembolso dos gastos com os exames e o tratamento. “Não teve problema, eles reembolsaram todo o valor que paguei lá. Foi tudo correto”, afirma Augusto.
Tanto na Sul América quanto na Mapfre, a taxa geral de acionamento dos seguros fica entre 1,5% e 3%. Ou seja, são poucos os que de fato usam o benefício. Na maior parte das vezes, o apoio médico é para problemas comuns, que exigem somente uma visita ao especialista para receber orientação sobre medicamentos, em cerca de 76% do total de chamadas, de acordo com a Mapfre. Os acidentes correspondem a outros 22% dos casos.
Confira, abaixo, as dúvidas mais comuns sobre esse serviço:
Vale a pena contratar?
O seguro viagem é um serviço que não pesa tanto no valor total do passeio e pode se mostrar extremamente útil em caso de imprevistos, diz o especialista Mauro Calil. Uma simulação simples mostra que uma apólice para sete dias custa em média R$ 95 para os Estados Unidos e R$ 120 para a Europa. Existem sites onde é possível fazer simulações sobre quanto o seguro vai custar, como o da ComparaOnline, que simula diversos seguros, e o da Sul América.
Vale lembrar que o serviço já pode estar incluído como benefício do seu cartão de crédito. As principais bandeiras incluem esse adicional para os clientes de seus produtos considerados premium, com ou sem a necessidade de a pessoa ter usado o cartão para pagar uma despesa como a passagem aérea ou o pacote turístico. Por isso mesmo, vale a pena ligar na operadora do seu cartão e verificar se você tem direito ao benefício sem pagar nenhum adicional. Há bandeiras que deixam o cliente até imprimir uma apólice para mostrar ao agente de alfândega. Em outros casos, a pessoa estará coberta, mas não será possível emitir esta apólice. Neste caso, leve o número de contato de emergência fornecido pelo cartão com você durante a viagem.
Qual a diferença para a Assistência Viagem? Qual o mais recomendável?
Segundo a regulamentação 315/2014 da Susep, os serviços de Seguro Viagem e Assistência Viagem foram unificados e não podem ser comercializados de forma separada. Até essa nova regra entrar em vigor, a forma como o cliente era atendido que diferenciava os produtos. O serviço de Seguro Viagem funcionava como reembolso, já a Assistência Viagem encaminhava o cliente para atendimento em sua rede conveniada. Com essa unificação entre os serviços, os seguros viagens são obrigados a contar com reembolso e também ter uma rede credenciada de atendimento. Mas é sempre bom conversar e entender direitinho a cobertura que você está comprando.
Escolha bem a empresa
De acordo com o advogado Daniel Pollarini, é preciso escolher com cuidado a empresa prestadora do serviço. Ou seja, não basta só encontrar uma operadora na internet e fechar a compra. É preciso verificar se a seguradora tem um CNPJ válido, por exemplo - a consulta pode ser feita rapidamente no site da Receita Federal. “Só com esse registro é que será possível cobrar na Justiça, caso ela não cumpra o que estava no contrato”, explica Pollarini. Também vale consultar o nome da empresa no Reclame Aqui, para ver como foi a experiência de outros clientes. Outra possibilidade de fazer essa checagem é no site da Susep, que traz dados das empresas que oferecem o serviço.
Veja alguns países que demandam o seguro viagem
Os 25 países da Europa que assinaram o Tratado de Schengen, um acordo de livre circulação de mercadoria e pessoas, exigem seguro viagem para todos os turistas, independentemente da idade ou da nacionalidade. A cobertura mínima é de 30 mil euros. Outros países, como Cuba, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Catar, também exigem algum tipo de seguro. Vale visitar o site do Itamaraty e conferir a regra para o país visitado e as coberturas mínimas. Mesmo se a apólice não for obrigatória em seu destino, tenha em mente que os custos de um tratamento de saúde podem ser muito caros no exterior e, por isso, ao menos a cobertura pelo cartão de crédito torna a viagem mais tranquila.
Coberturas imprescindíveis para idosos
É fundamental ficar bem atento à cobertura contratada para idosos. “Acho de extrema importância que o seguro cubra UTI e o retorno para o Brasil. Se não tiver essas coberturas, o seguro é, em minha opinião, meio capenga”, diz Calil. O planejador financeiro também recomenda que o seguro inclua despesas de hospedagem para o cliente e um acompanhante e se também arca com as despesas aéreas para ambos. Embora felizmente esse serviço não seja muito requisitado, a apólice ainda tem de incluir o traslado do corpo para o Brasil, em caso de morte.
O preço das apólices para idosos costuma ser mais alto, porque esse é o grupo que mais aciona o seguro. Acima de 70 anos, o seguro tem um sobrepreço médio de 50%. O preço médio de um seguro para os Estados Unidos sobe de R$ 95 para R$ 140 e para a Europa, de R$ 120 para R$ 170 reais.
Coberturas para grávidas
A grávida deve tomar cuidados adicionais na hora de contratar o seguro. O primeiro passo é conseguir uma autorização de um obstetra, senão, a gestante ficará sem cobertura. Outra coisa que se deve pesquisar é se o seguro cobre todo o período da gestação e não só os dias em viagem e se cobre tratamento por eventuais complicações na gravidez - alguns seguros só cobrem acidentes. A maioria das seguradoras não faz seguros para gestantes acima de 40 anos e cobra valores diferentes de acordo com o tempo da gestação.
Diga a verdade
Para garantir que o seguro funcione conforme o prometido pela seguradora, o caminho é sempre falar a verdade, nunca omitir nada quando for contratar o serviço. “Não dá para economizar alguns dólares e ter uma dor de cabeça mais para frente. Sempre fale de doenças pré-existentes, se toma algum remédio. Você vai pagar um pouco a mais, mas vai ter a segurança”, disse Mauro Calil. Isso serve para pessoas de todas as idades. E ainda mais para os idosos, que costumam ter mais problemas crônicos, e as grávidas, que devem falar a idade gestacional correta ao adquirir o serviço, para não ter problemas na cobertura de atendimento e mesmo em um parto antecipado.
Intercambista precisa de seguro viagem?
Assim como qualquer viajante internacional, o seguro viagem é necessário para o intercambista. A apólice geralmente é vendida com o pacote de intercâmbio. Até porque alguns países, como a Austrália, exigem o documento de todos que partem para uma temporada de estudos em seu território. Existem sites, como o da Central de Intercâmbio, onde o intercambista pode simular o quanto pode gastar com seguro viagem ao longo da estada fora do País. E também existem produtos próprios para esse público, como o oferecido pela Mondial Travel que custa R$ 427,08.
Preciso utilizar o seguro. Como proceder?
A primeira coisa que se deve fazer é avisar a empresa - e se lembrar de levar sempre na bolsa o telefone que a companhia deixa disponível para emergências. Todas são obrigadas a ter atendimento telefônico 24 horas por dia e em português. A seguradora vai dar orientações para onde encaminhar o paciente e se há hospitais conveniados. Fora esse apoio em um momento difícil, existem cláusulas do contrato que podem eximir o seguro de reembolsar o cliente, caso não seja avisado assim que o problema ocorre. Portanto, avisar a seguradora é fundamental. Também é preciso guardar todos os recibos, exames e laudos médicos para garantir o reembolso, se o atendimento não for feito na rede conveniada.
E se não der certo?
Agora, caso você esteja no exterior e tenha acontecido alguma coisa, como garantir que a seguradora cumpra a sua parte caso ela se negue? “É importante ter o contato com a embaixada ou consulado brasileiro mais próximo. Um advogado do corpo diplomático vai ajudar a resolver a situação e, caso for necessário, obrigar o seguro a cumprir a sua parte”, diz o advogado Pollarini. A Susep, órgão que regula esse setor também tem uma ouvidoria que recebe as reclamações.