Cinco anos atrás, a universitária Daniela Cilento, de 26, não poderia imaginar que hoje estaria trabalhando em uma escola. Afinal, se formou em administração, com especialização em Gestão Ambiental, em 2012. Só que ela não demorou a perceber que havia cometido um equívoco na escolha da primeira graduação e decidiu recomeçar. Há um ano, estuda pedagogia. Esse redirecionamento de rumo, segundo especialistas, será cada vez mais frequente entre os millenials, geração formada por jovens que nasceram entre 1982 e 1996.
Daniela conta que a insegurança sobre a profissão a seguir existia desde o ensino médio. “Estava em dúvida em Gestão Ambiental, Nutrição e Pedagogia”, diz a universitária, que acabou escolhendo gestão ambiental por pensar que a carreira poderia trazer mais ganhos financeiros. “Era uma área que estava crescendo.” Mas acabou se decepcionando ao entrar no mercado de trabalho. Ela só conseguiu vaga em administração, bem distante do trabalho com meio ambiente que imaginou.
O redirecionamento veio depois de sessões de aconselhamento profissional com uma coaching. “Ela me indicou para fazer trabalho voluntário em uma creche, ao me confrontar com perguntas sobre minhas habilidades, sobre quais contribuições tinha dado”, lembra Daniela. “Depois disso eu acabei me apaixonando pelo trabalho com as crianças e optei pela pedagogia.”
De acordo com especialistas, a falta de planejamento de carreira, a grande oferta de cursos e a pressão da família fazem muitos millennials, desistirem da faculdade ou apostarem em cursos técnicos, graduação ou pós-graduação. De acordo levantamento da consultoria em recursos humanos ManpowerGroup, 35% da força de trabalho em 2020 no mundo será composta por esse grupo, que hoje têm entre 20 e 29 anos. “Boa parte dos jovens que estão hoje se inserindo no mercado de trabalho não permanecerá até o fim da carreira na mesma profissão”, afirma a professora de administração Viviane Narducci, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Isso pode se modificar duas, três, quatro vezes.”
Foi o caso de Mariana Camargo, de 31, que abandonou a carreira de advogada aos 28, depois de trabalhar em 14 lugares diferentes. Ela resolveu empreender no segmento da moda plus size com uma loja online. Após se envolver com a produção de conteúdo para um blog, Mariana propôs para os pais uma marca voltada para esse público específico. “Sempre fui frustradíssima com a minha carreira. Trabalhei primeiro no mundo corporativo, mudei para o terceiro setor, mas sentia-me inadequada”.
Ela diz que fez um curso de capacitação em moda a distância pela internet e também recorreu ao coaching. ”Esse profissional foi fundamental, e só assim fui atrás de ajuda dos meus pais para captar recursos para o meu negócio”, lembra. “Durante os três meses do coaching, tive um duro processo para me descobrir e rever meu valores.”
Para a especialista de carreira Viviane, muitos querem a receita para o sucesso, que não existe. “Digo a um jovem de qualquer classe social: preste atenção no seu entorno e nas mudanças que estão ocorrendo, mantenha-se informado e fique ao lado de quem possa te ensinar e demonstre interesse. Não tenha medo de dizer não sei.”
A produtora multimídia Juliana Moraes, de 25, passou por três faculdades para terminar a graduação. “Eu queria ter feito fotografia, mas minha mãe não deixou, ela queria que eu entrasse na faculdade assim que terminasse o ensino médio”, conta Juliana. “Acabei entrando em marketing, depois tentei publicidade e propaganda. Mas achei um outro curso que tinha mais aulas de fotografia e fiz transferência interna para produção multimídia.”
Serviços de orientação profissional ou coaching têm sido procurados por quem está em um dilema sobre o planejamento de carreira. O coaching, que ainda não é regulamentado no Brasil, agrega técnicas da psicologia em encontros individuais ou em grupo, com foco para o aumento da performance de um indivíduo. Há no Brasil mais de 25 mil coaches formados, segundo dados da Sociedade Brasileira de Coaching (SBCoaching). De acordo com a entidade, um profissional cobra próximo de R$ 200 por sessão.
Para Liamar Fernandes, sócia da SBCoaching, a oferta de cursos aumentou muito, e isso faz o jovem ter uma espécie de paralisia de análise ao escolher uma profissão. Ao mesmo tempo, segundo Liamar, a educação dos pais hoje em dia é muito protetora. “Os filhos são passivos, não sabem tomar decisões, acabam aceitando qualquer coisa. As pessoas se formam e acabam infelizes.”
Um dos métodos para o direcionamento profissional no coaching é por meio de perguntas que levam a fazer um plano de ações, explica a lifecoach Lívia Teixeira. Primeiro, é preciso ter clareza dos valores pessoais. São perguntas como: o que realmente importa para você? Entregar resultados com rapidez ou desempenhar tarefas desafiadoras? Na hora de agir, afirma Lívia, o profissional deve definir pelo menos três caminhos. “Um bom plano de ação deve ter metas específicas, datas de acompanhamento e o máximo de detalhamento possível.”
Dentro das universidades, projetos para o empreendedorismo podem ajudar o jovem que não tem uma visão do mercado de trabalho, afirma o professor Márcio Sanches, coordenador da Universidade Corporativa do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). Para ele, além dos problemas de financiamento da faculdade, uma das causas para a evasão e as transferências de curso nas universidades são as próprias mudanças no mercado de trabalho. “Os alunos têm buscado outras alternativas de curso. As grades deveriam ser mais interdisciplinares.”