Como fechar as contas quando o rendimento cai com a aposentadoria e a mensalidade do plano de saúde só aumenta? A solução encontrada por muitas famílias têm sido os filhos assumirem essa responsabilidade financeira para os pais que passaram dos 60 anos. Foi o que fez o diretor industrial José Carrieri, de 53 anos. “Garanto o plano da minha mãe para que, se ela adoecer, não fique dependente do SUS”, conta. “Isso dá mais tranquilidade para ela e para nós.”

Carrieri tomou essa decisão há três anos, depois que o pai dele passou a receber de aposentadoria um valor menor do que o salário que tinha como executivo de uma empresa do setor de plásticos. Neste intervalo, o valor dos planos individuais, determinado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), vem subindo constantemente. A alta autorizada em 2017 foi de 13,55%, superando em mais que três vezes a inflação medida pelo IPCA, acumulada até abril deste ano.

A ideia de mais tranquilidade em ter um plano de saúde é observada na pesquisa mais recente do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), em que 82% dos entrevistados disseram que mantêm o plano “por mais segurança, em caso de doença ou acidente”. Na mesma pesquisa, 65% das pessoas entrevistadas acreditam que encontram, nos planos de saúde, profissionais mais qualificados do que pela rede pública. O número aumentou dez pontos porcentuais desde a pesquisa de 2015.

Justamente a crença nessa qualificação fez a paulistana Mônica Piastrelli, de 47, assumir a responsabilidade, junto com a irmã, de custear o plano de saúde da mãe, de 72. Dona Cida, como é chamada pela família, não tem nenhum problema grave de saúde. Mas a mensalidade estava pesando no orçamento da idosa. “Há dez anos, a pensão que ela recebia por conta da morte do meu pai passou a ficar defasada em relação às despesas. Ela não precisa usar tanto assim (o plano), o que é uma grande sorte para nós”, afirma Mônica.

Oficialmente, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), apenas 2.586 pessoas com mais de 60 anos eram dependentes em planos de saúde em 2016. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última Pesquisa Nacional de Saúde, de 2013, identificou que aproximadamente 4.200 pessoas com mais de 60 anos poderiam ter, na época, o plano pago por outro familiar.

A realidade do mercado, porém, supera em muito os números oficiais, segundo Carlos Lima, presidente do Sindicato dos Corretores de Planos de Saúde do Estado de São Paulo (Sincoplan). Ele afirma que em torno de 30% dos clientes idosos têm o plano custeado por parentes, sendo geralmente o filho quem assume a conta. Em muitos dos casos, o nome do idoso continua como responsável financeiro, mas ele não paga esse boleto, diz Lima.

A falta de números dificulta até mesmo os pesquisadores a entenderem o mercado de planos de saúde. Elisabeth Hernandes, doutora em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP USP), reconhece que isso pode ser “uma mina de ouro” para as universidades que estudam a saúde da população. “Com o envelhecimento da população, esse comportamento será ainda mais comum no futuro. Não poderemos identificar isso daqui a alguns anos se não temos nenhum perfil traçado nos dias atuais”, afirma a especialista.

O corretor Lima destaca, ainda, que a mudança de responsabilidade financeira acontece quase que apenas nos planos de saúde individuais. Quase, pois algumas empresas permitem que funcionários mais antigos mantenham os pais como dependentes. A mineira Eliana Abreu, de 53, tem a mãe como dependente há 20 anos no plano de saúde pago pela empresa em que trabalha. “Aos 89, minha mãe já fez quatro cateterismos e duas angioplastias, além de ter três stents instalados no coração. Ela não pode ficar sem plano”, afirma Eliana.

O benefício que Eliana possui na empresa vem se tornando exceção no universo corporativo. Conforme uma pesquisa divulgada em junho, a consultoria de saúde Aon identificou que nenhuma das 536 empresas pesquisadas permite que os pais dos funcionários sejam incluídos como dependentes.