O fotógrafo Jorge Maluf Ferreira, de 31 anos, está sem plano de saúde desde 2013. Profissional autônomo, ele aproveitou uma temporada no exterior para cancelar o contrato que mantinha havia três anos. A mensalidade de R$ 300 não compensava as poucas consultas médicas com um oftalmologista, de tempos em tempos. Desde então, quando precisa de atendimento médico, Ferreira recorre às clínicas populares de saúde.
Segundo o Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS), o fotógrafo faz parte de um perfil tratado como “não-beneficiário padrão”: são brasileiros com idade entre 18 e 32 anos e sem emprego formal. Boa parte daqueles que hoje estão fora dos planos de saúde já contratou seus serviços em algum momento, seja por planos particulares ou empresariais. “Quando fui demitido da empresa em que trabalhava, há alguns anos, perdi minha apólice. Para continuar protegido, resolvi fazer um plano particular, mas percebi que não compensava”, justifica Ferreira.
Naquele momento, a crise econômica no Brasil ainda não havia dado as caras, nem atingido tanto os mais novos. De acordo com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), a faixa etária que mais registrou perdas nos últimos 12 meses foi a de 25 a 29 anos. Entre abril de 2016 e abril deste ano, a indústria de planos de saúde perdeu mais de 250 mil beneficiários desse grupo. Muitos deles, diz o presidente da FenaSaúde, José Cechin, saíram do plano por ter perdido o emprego ou por estar desempregado e não ter mais condições de arcar com a mensalidade.
Plano B. O público que hoje não pode ou não quer depender dos planos de saúde, assim como Ferreira, está sendo absorvido tanto pelo SUS quanto pelas clínicas populares. A dr.consulta, de São Paulo, se tornou referência no País em serviços rápidos de saúde com baixo custo. O foco, segundo o CEO da companhia, Thomaz Srougi, é atender quem precisa. “Não queremos ser clínica popular, mas sim um grupo de gestão de saúde.” Com 38 centros médicos espalhados pela Grande São Paulo e pela Baixada Santista, a previsão de Srougi é alcançar chegar a 45 unidades em 2018.
Para o executivo, a empresa conseguiu absorver a demanda de desempregados, especialmente os jovens, porque este não é um público que procura os serviços médicos com tanta frequência. As especialidades mais procuradas são ortopedia (reflexo da prática de atividades esportivas), ginecologia e urologia (em decorrência do início da vida sexual) e gastroenterologia.
Mesmo ampliando o atendimento médico, abrindo clínicas para exames de sangue e de imagem, a empresa não atende internações hospitalares e nem pretende oferecer esse serviço. O fotógrafo Jorge Ferreira, que trocou o plano de saúde pelas clínicas populares, faz uma reserva financeira para emergências que venham a exigir internação. “Espero usar para qualquer coisa, menos com internação”, afirma.