A necessidade de adaptar o sistema de saúde ao rápido envelhecimento da população não é exclusividade brasileira. Outros países da América do Sul enfrentam hoje as mesmas dificuldades que nações desenvolvidas da Europa encaram há décadas. Mas encontrar soluções é um desafio em que o Chile e a Holanda têm conquistado bons resultados.
Considerado o melhor país sul-americano em qualidade dos serviços de saúde pela revista britânica The Lancet, o Chile decidiu concentrar esforços na prevenção precoce e no diagnóstico de doenças associadas à idade - 88% dos idosos usam o serviço público no país. “A mudança no perfil demográfico e epidemiológico transformou as prioridades para a saúde”, analisa a ex-diretora do Centro de Políticas Públicas para Idosos do Chile e Relatora Especial de Direitos dos Idosos da Organização das Nações Unidas (ONU), Rosa Kornfeld.
O Programa Nacional para a Saúde dos Idosos, lançado em 2011, começa a cuidar dos chilenos antes mesmo de eles chegarem à terceira idade. Os adultos que quiserem ter acesso à atenção básica precisam passar por exames de medicina preventiva. “Esses resultados ajudam a criar um plano de atenção integral para cada pessoa”, afirma Rosa. Nos últimos anos, o país aumentou em 20% os gastos com saúde, chegando a investir US$ 1.700 por pessoa em 2015. No Brasil, o valor per capita anual não passa de US$1.318, ou seja, é 24% menor.
O projeto inclui ainda iniciativas para melhorar a alimentação da população, em especial os idosos. Para aqueles com deficiências funcionais, o governo provê também locais de longa estada, onde recebem assistência para realizar tarefas triviais.
Referência europeia. O sistema de saúde da Holanda foi eleito o melhor da Europa pela sexta vez no ano passado, em ranking do Euro Health Consumer Index. A situação atual, no entanto, é bem diferente da que os holandeses viviam até o início dos anos 2000. Isso porque o grande salto de qualidade no atendimento só ocorreu a partir de 2006, quando o governo tomou a decisão de transformar o sistema em uma parceria público-privada.
Seguradoras passaram a oferecer planos de saúde à população, ficando a administração responsável por regulamentar e fiscalizar as empresas. “O poder executivo define o pacote básico que a empresa deve oferecer, garantindo acesso aos mesmos serviços com a mesma qualidade”, diz o diretor executivo do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação do Consulado Geral do Reino dos Países Baixos em São Paulo, Nico Schiettekatte.
O holandês paga, em média, US$ 114 mensais pelo plano, ajustado de acordo com o salário da pessoa. Quem ganha menos, inclusive os idosos, pode ter até 90% dessa quantia subsidiada pelo governo. Hoje, a Holanda gasta aproximadamente US$ 5.200 anuais por pessoa no sistema de saúde.
O país ainda desenvolve projetos específicos para a terceira idade. É o caso do Buurtzorg (Cuidado de Bairro), que leva enfermeiros às localidades onde os idosos vivem. Assim, eles não precisam se deslocar ao hospital com tanta frequência - em 2015, um quarto dos holandeses já tinha mais de 60 anos.
Com um conceito parecido, voltado a manter a autonomia dos mais velhos, a chamada Vila da Demência é formada por condomínios adaptados, onde pessoas com doenças degenerativas podem realizar com mais tranquilidade atividades cotidianas, como ir ao supermercado.