O jovem brasileiro está demorando mais tempo para sair de casa. Mais de 30% dos chefes de família acima de 60 anos ainda têm morando junto filhos com mais de 29 anos, segundo pesquisa da Kantar Worldpanel. A hora da independência é agora, ao menos do ponto de vista do mercado imobiliário. O crédito está fácil e os imóveis caíram de preço, tanto para comprar como para alugar.

Com o aumento da demanda por crédito imobiliário, especialistas acreditam que a crise no setor possa estar chegando ao fim. A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) prevê um aumento de 6% no volume de empréstimos para 2017 em relação ao ano anterior.

Apenas a Caixa, que detém 67,5% do mercado de crédito imobiliário no Brasil, liberou R$ 18,7 bilhões nessa modalidade no primeiro trimestre de 2017, resultado 22,17% acima do mesmo período de 2016. A retomada da demanda por financiamentos de imóveis mostra, na avaliação do vice-presidente de habitação do banco, Nelson de Souza, que a tendência é de mais disponibilidade de crédito no curto prazo. “A velocidade de contratação de crédito está muito maior. Sem dúvida, há um reaquecimento do mercado imobiliário”, diz.

Ao mesmo tempo em que o crédito imobiliário mostra algum otimismo para quem procura seu primeiro endereço próprio, a estabilidade dos preços no mercado de aluguel também pode ser interessante para declarar independência dos pais. O preço dos aluguéis, medidos pelo índice FipeZap, está no mesmo patamar de abril de 2013.

Aproximadamente um quarto dos domicílios brasileiros possui um jovem de 25 a 34 anos vivendo com os pais, de acordo com a pesquisa do IBGE Síntese de Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da população brasileira, de 2016. O número é o mais alto já registrado pelo instituto. A geração canguru, como é conhecido o fenômeno, pode ser explicada por fatores econômicos, sociais e psicológicos, como o aumento no tempo de estudos, o alto custo nas cidades e novos rearranjos nas famílias.

De acordo com um estudo publicado pela Zap Imóveis, os millennials, geração nascida nas grandes cidades entre 1985 e 2000, têm 40% a mais de interesse em viver de aluguel do que pessoas nascidas em outras gerações. E segundo dados da Caixa, em 2016, 61,8% dos contratantes de financiamento imobiliário tinham até 35 anos, para imóveis no valor de até R$ 200 mil. De acordo com Souza, o número reflete a cultura arraigada do brasileiro de investir em imóveis. “Só vai preferir o aluguel o jovem que ainda não tem condições de arcar com um financiamento”, opina.

O momento das chaves, entretanto, requer planejamento financeiro. Uma pesquisa da SPC mostra que 25% das pessoas que moram sozinhas estão com alguma conta em atraso, sendo que 45% delas acreditam que o fato de morarem sozinhas contribuiu para o descontrole das finanças pessoais.

O especialista em crédito imobiliário Marcelo Prata, fundador do Canal do Crédito e da Resale, faz ressalvas à ideia de que é melhor comprar do que alugar nessa faixa etária. “A parcela de um financiamento chega a ser três vezes maior que o valor do aluguel de um imóvel. É preciso muito cuidado para isso não gerar um rombo no orçamento”, avalia. Segundo ele, para quem está querendo sair do aluguel e entrar no financiamento, a estratégia é juntar de 50% a 60% do valor do imóvel e parcelar o restante da dívida em 30 anos. “Com isso, a prestação do financiamento será parecida com o valor do aluguel”, calcula.

Para o professor de inglês Jones Nunes, de 31 anos, o aluguel dá mais liberdade ao morador. Ele passou a morar sozinho aos 28. “Sempre quis sair da casa dos pais, mas nunca dava, por causa de questões financeiras. Tive de cortar gastos. Agora que consegui, a longo prazo quero ter minha casa própria”, comenta.

Na opinião de Prata, comprar um imóvel depende do desenvolvimento de uma cultura de poupança, além de previsibilidade de emprego e renda. Uma opção é buscar um consórcio, para que a pessoa vá desenvolvendo ao longo dos meses o hábito de guardar dinheiro. Ainda há a alternativa de comprar imóveis retomados por bancos em leilões, que possuem um preço atraente. Porém, especialistas alertam para o risco de que os imóveis podem estar ocupados pelos antigos proprietários, demandando tempo e gastos com advogados para a desocupação.

Já o CEO da Zap Imóveis, Eduardo Schaeffer, acredita que o momento de crise é uma boa oportunidade para fazer negócios. “As incorporadoras estão com estoques grandes e dispostas à negociação. Para quem reúne condições, agora é um momento muito bom para comprar um imóvel.”

Seja comprar ou alugar, a decisão de sair de casa requer estudo prévio e organização das contas, segundo o planejador financeiro Rogério Nakata, da consultoria Planejar. É recomendável, inclusive, adiar essa decisão, caso o jovem não reúna condições para fazê-lo com tranquilidade. “Iniciar a vida profissional endividado pode comprometer muitos anos para voltar a ter uma estabilidade financeira”, diz Nakata. “Se, por exemplo, você vai comprometer 30% da sua renda em gastos com moradia, experimente guardar esse dinheiro antes de, de fato, sair de casa. Se você tiver dificuldades para fazê-lo, talvez não consiga arcar com esse custo.”

Outra dica que ele dá é anotar todos os gastos, nem que seja em um caderno, para então ver quais podem ser reduzidos. Também pode vale a pena nesse primeiro momento de independência dos pais optar por morar com outra pessoa, e assim dividir os custos de moradia, como água, luz, internet, entre outros. “Busque também um local para morar que vá reduzir seus gastos com o transporte para ir até o trabalho”, indica Nakata.