Sucesso nos Estados Unidos, venda de impressoras 3D não deslancha no País

Preços altos e falta de investidores atrapalham popularização da principal ferramenta da cultura maker

Gabriela Caesar e Luisa Pinheiro

Em apenas um dia, o empresário André Skortzaruv conseguiu mostrar que era viável fazer na impressora 3D um tecido de plástico flexível, bom para a indústria de roupas. O sucesso do teste mostra o poder da ferramenta que se tornou central para a cultura maker, por sua capacidade de produzir itens exatamente como se quer. E essa característica faz o negócio ganhar espaço. Só em 2014, a indústria movimentou US$ 3,3 bilhões no mundo, segundo a empresa britânica de pesquisa Canalys.

Empresário André Skortzaruv, de 36 anos, desenvolve protótipos e revende impressoras importadas de quatro países. Crédito: Daniel Teixeira/Estadão

Por enquanto, as impressoras estão mais presentes nas empresas e nos Fab Labs - o teste de Skortzaruv, por exemplo, foi feito a pedido do Senai, que está montando um laboratório do gênero em Nova Friburgo, no Rio. Mas especialistas já imaginam benefícios de um futuro uso doméstico. Para a pesquisadora na área de consumo e fundadora da Casa Semio, Clotilde Perez, a impressão 3D pode diminuir a dependência das pessoas em relação às empresas. “Você tira intermediações e reduz custos”, explica a também professora da USP e da PUC-SP. “Faz algo mais barato, com a sua cara, dentro do seu controle.”

Responsável pela pesquisa da Canalys, Joe Kempton confirma o mercado incipiente no Brasil. “Muitas empresas daí estão começando a pesquisar e investir nessa tecnologia”, diz Kempton. “Mas o nível de participação ainda é relativamente baixo.” Os países desenvolvidos respondem pela maior parte das 133 mil impressoras 3D vendidas em 2014, montante 68% maior que no ano anterior.

A startup gaúcha Cliever criou o primeiro modelo nacional em fevereiro de 2012. Desde então, vendeu 600 máquinas. “Infelizmente, o mercado maker não tem volume muito grande para sustentar a empresa. Vimos que o mercado que lidera é a prototipagem rápida”, diz o fundador Rodrigo Klug, fornecedor de impressoras para Embraer, Nissan e General Motors.

Crowdfunding

Foi a queda das patentes de uma das principais técnicas de impressão 3D, em 2009, que impulsionou o mercado mundial de equipamentos de menor porte. Se antes a tecnologia era controlada por empresas americanas como Stratasys e 3D Systems, a fabricação passou a ser alvo de startups, que tiravam seus projetos do papel com crowdfunding, o financiamento coletivo.

O caso mais emblemático foi o da empresa Formlabs, que vendeu mais de mil unidades de sua primeira impressora no site Kickstarter, em 2012. Arrecadou quase US$ 3 milhões, muito acima da meta inicial. A plataforma, que concentra a maioria dessas iniciativas de crowdfunding, já levantou mais de US$ 10 milhões para dez projetos de produção da máquina apenas nos Estados Unidos. A impressora 3D mais barata saiu por US$ 100.

Uma única fabricante brasileira, a Metamáquina, conseguiu financiamento para desenvolver a impressora, também em 2012: arrecadou R$ 30 mil em dois meses, por meio do Catarse. Os recursos pagaram a tecnologia e o primeiro lote de dez máquinas, produzidas com peças já existentes. Mas a produção não foi adiante, e as vendas foram interrompidas em março de 2014. “Para o negócio valer a pena, seria preciso uma escala muito grande, e o mercado brasileiro não teria capacidade de absorver”, disse Rodrigo Silva, sócio da Metamáquina.

O desenhista industrial Murilo Lana, fundador da PMK 3D Printers, de Brasília, diz que os apoiadores ainda têm dificuldade em confiar nos projetos. Ele optou por incluir a opção de compra de impressoras por meio da plataforma - modelo bastante comum nos Estados Unidos. Até agora, só 3 das 240 oferecidas na campanha foram compradas, e o prazo precisou ser prorrogado nesta semana. “Independente do resultado, é uma forma interessante de divulgar a marca e ganhar certa visibilidade. Atingir a meta seria bom pra começar, mas o objetivo primário é conseguir investidores”, afirma Lana.

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