Futebol ajuda a reforçar e projetar imagem do País
No decorrer do século 20, no cenário internacional, o esporte foi utilizado como ferramenta para construção de identidades nacionais. Internamente, em cada país, possibilitou experiências de simultaneidade e autoidentificação, contribuindo para que os indivíduos se sentissem parte de um coletivo chamado “nação”. Externamente, foram encarados como representações dessa nação, simulacro das supostas conquistas e qualidades de cada povo.
No caso do Brasil, a qualidade do seu futebol, que se tornou mais notável com as conquistas de 1958, 1962 e 1970, ajudou a projetar e/ou reforçar uma certa imagem do País. Obviamente se tratam de construções ideais, mas foram amplamente consideradas como expressão das características do povo brasileiro – hábil, alegre, resultado da suposta (absolutamente suposta) mistura de raças na sua formação societária e cultural.
No passado, o envolvimento do brasileiro com o evento era maior. Talvez porque grande parte dos jogadores não jogue mais no Brasil, reduzindo-se a identificação. Ou talvez possa ser algum desdobramento da última Copa do Mundo, quando tivemos algumas decepções.
As coisas mudaram, mas nem tanto assim. Basta ver que a essa altura muitos estão a colecionar as figurinhas do álbum do evento. As propagandas já nos lembram que, daqui a pouco, muitos estarão vidrados na televisão, desfrutando partidas memoráveis ou sofrendo por perder alguns jogos. Em breve, surgirão milhares de técnicos, todos entendidos de futebol, o fascínio do velho esporte bretão tomará conta de nossa vida.
* PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO JANEIRO (UFRJ) E COORDENADOR DO SPORT: LABORATÓRIO DE HISTÓRIA DO ESPORTE E DO LAZER