100 anos de corinthians e palmeiras
Estatísticas do clássico Corinthians x Palmeiras, desde 1917
Nas contas do Corinthians
Nas contas do Palmeiras
O levantamento do clube inclui os jogos válidos por torneio início e pela Taça Augusto Henrique Mündel, com 15 ou 30 minutos de duração
O dia 6 de maio de 1917 marcou o início da rica história entre Corinthians e Palmeiras. Um dos maiores clássicos do futebol brasileiro completa o centenário em um clima parecido ao do início desta história. A data marca a aproximação dos rivais, com a utilização do aniversário para ações em conjunto de marketing, de âmbito social e nas redes sociais.
Se agora Alvinegros e Alviverdes caminham juntos, por décadas a história de ambos foi construída por combates. Os confrontos decisivos, de grandes jogadores, curiosidades, heróis e títulos, também acabaram permeados por brigas de torcida e violência. Tristes ou alegres, tais episódios estão na história e deram aos jogos entre os adversários o status de Dérbi.
A trajetória dos rivais começou há cem anos com os clubes, quem diria, como aliados. Os dois eram os únicos times paulistanos fundados pela classe operária em uma época em que o esporte era de elite. A união, é claro, durou pouco, pois já no começo dos confrontos a rivalidade e as provocações começaram a aparecer, ainda com penas de galinha e ossos de animais.
O Estado resgata todo esse percurso iniciado em 1917 com fotos, números, histórias e um grande reencontro de dois ídolos das equipes no Estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, para marcar a data e a dependência um do outro. Roberto Rivellino e Ademir da Guia trocaram camisas e reviveram boa parte desse dérbi brasileiro. Afinal, o clássico, tão gigante e de tamanha importância, só existe porque os clubes amargaram derrotas e festejaram vitórias sobre o outro para construírem grande parte dos seus melhores momentos.
Primeiro jogo da História
Paz nos bastidores colocou em campo os rivais pela primeira vez
Caetano foi o primeiro herói do dérbi O encontro inaugural de Corinthians e Palmeiras, em 6 de maio de 1917, só se tornou possível porque os adversários históricos deixaram desavenças de lado e foram unidos após a solução de um racha nos bastidores da organização do futebol paulista da época. O campeonato estadual na década de 1910 vivia a primeira crise no comando, com a dissidência entre duas entidades organizadoras. A LPF (Liga Paulista de Foot-Ball) media forças com a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos).
A LPF comandava a organização desde a primeira edição do torneio, em 1902, porém, dez anos depois começou a ter de lidar com o descontentamento de algumas equipes. Naquela época havia o preconceito de se abrir espaço no campeonato para clubes que não representavam a elite paulistana, os chamados "varzeanos", além de uma polêmica sobre quais estádios poderiam receber as partidas. Então, entre 1913 e 1916, a APEA manteve uma disputa paralela ao tradicional Paulista, com regulamento mais inclusivo. A cisão acabou em 1917, quando os dois torneios foram unificados, com o encerramento das atividades da LPF.
Naquele ano, portanto, a APEA mudou o Estadual e pela primeira vez Palmeiras, Corinthians e Santos estiveram juntos no mesmo torneio. O Corinthians havia sido campeão invicto no ano anterior pela LPF, e antes disso, havia pleiteado sem sucesso entrar na competição chancelada pela outra entidade, que já contava com a presença do Alviverde. A resolução do imbróglio possibilitou dos dois a se enfrentarem no antigo Palestra Itália em 1917, pela terceira rodada da disputa.
O primeiro herói de um dérbi foi o atacante Caetano Izzo. Cinco dias antes de completar 20 anos, em 1917, o palmeirense marcou no segundo tempo todos os gols dos 3 a 0 sobre o Corinthians, pelo Campeonato Paulista, no encontro inaugural entre os rivais. Filho de imigrantes italianos e revelado no extinto time do Ruggerone, do bairro da Lapa, Caetano havia estreado pelo clube meses antes. O bom início lhe rendeu a participação como titular da seleção brasileira no Sul-Americano daquele ano. A passagem dele pelo Palmeiras teve como ápice o título paulista de 1920, o primeiro conquistado pelo clube. Na temporada seguinte, o atacante deixou a equipe e se transferiu para o São Bento, de Sorocaba.
Os dois adversários não se encontraram mais naquele campeonato. A disputa terminou com o Palmeiras como vice-campeão e o Corinthians, como terceiro colocado. O título ficou com o Paulistano.
Vira-casacas
Curiosidades
- Um ano após o primeiro confronto houve também o primeiro entrevero. Os jogadores do Corinthians almoçavam em um restaurante no centro da cidade horas antes do clássico quando um objeto estilhaçou o vidro do local. Era um osso, arremessado por um palmeirense, que vinha com um bilhete: "O Corinthians é canja para o Palestra". Após o empate em 3 a 3, os corintianos retrucaram, com outra mensagem no osso: "Esse osso era para a canja. Mas não cozinhou por ser duro demais".
- O Corinthians ganhou em 1923 um clássico sem precisar entrar em campo. O Palmeiras não foi ao estádio em reclamação a uma decisão dos tribunais da época sobre o jogo com o Germânia. O Alvinegro venceu por WO.
- Em 1940, no Parque São Jorge, uma provocação alviverde deu errado. Um torcedor levou um galo pintado de verde para provocar os corintianos, mas com a derrota por 2 a 0, os corintianos caçaram e depenaram a ave. Duas penas estão guardadas até hoje dentro de um estojo de veludo na sede do clube alvinegro.
- Ademir da Guia foi quem mais jogou o dérbi, com 57 partidas. O último dos 903 jogos dele pelo clube foi uma derrota para o Corinthians por 2 a 0, pelo Campeonato Paulista de 1977;
Ademir da Guia Arquivo Estadão
- Claudio Pinho, do Corinthians, é o artilheiro do confronto, com 21 gols;
Claudio PinhoArquivo Estadão
- O clássico tem 978 gols marcados. Ou seja, o milésimo gol do dérbi deve sair nos próximos anos;
- O goleiro Émerson Leão é o jogador com passagens pelos dois clubes que mais disputou o clássico, com 36 participações pelo Palmeiras e cinco pelo Corinthians;
Emerson LeãoArquivo Estadão
- Em 1930, os jogadores do Alviverde deixaram o campo após o árbitro anular um gol da equipe. O gesto causou a anulação do resultado;
- A maior goleada do dérbi foi em 1933, com os 8 a 0 do Palestra Itália. Do lado corintiano, a maior vitória foi por 5 a 1 em 1982, com três gols do então garoto Walter Casagrande;
- As equipes já se enfrentaram por 24 diferentes competições, de torneios amistosos até a Copa Libertadores. Curiosamente, jamais houve um confronto pela Copa do Brasil;
- Em 1940 foi disputado o último duelo entre os rivais no Parque São Jorge. A partida valia pontos tanto para o Paulistão quanto para o Rio-São Paulo;
- Os rivais se uniram em 1945 para a disputa de um clássico conhecido como "Jogo Vermelho". A renda foi destinada ao Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), entidade ligada ao Partido Comunista;
Estádios
De estádios já inutilizados a arenas modernas, o dérbi já foi jogado em 15 locais diferentes. O mais utilizado é o Pacaembu, com 151 clássicos recebidos, seguido pelo Morumbi. Nos últimos anos, a lista de palcos onde Corinthians e Palmeiras se encontraram aumentou com a entrada das recém-inauguradas Arena Corinthians e Allianz Parque.
Apesar disso, outras praças esportivas paulistanas também estão na centenária história de rivalidade. O estádio da Ponte Grande foi a primeira casa do Corinthians até ser demolida, em 1937. O local recebeu quatro partidas. Já o Estádio da Floresta, onde o São Paulo era o dono, foi palco de seis confrontos. O Parque São Jorge, com 15 jogos, também integra a lista.
O primeiro clássico fora da capital paulista foi em 29/8/1954, em um amistoso realizado em Barretos, com vitória do Palmeiras por 1 a 0. O novo encontro no interior viria apenas em março de 1970, pelo torneio quadrangular de São José dos Campos, no estádio Martins Pereira. Houve empate: 2 a 2, com vitória corintiana por 2 a 1 nos pênaltis.
Já em 1987, os times se enfrentaram pela primeira vez fora do Estado. Pelo torneio quadrangular de Campo Grande (MS), os rivais empataram por 1 a 1 no estádio Morenão, em março daquele ano. O novo encontro longe das cidades paulistas ocorreu no Nordeste, em julho de 1998, pela Taça Governador do Estado da Bahia. Na Fonte Nova deu 1 a 1 no tempo normal e de novo o Corinthians se saiu melhor nos pênaltis, com vitória por 4 a 3.
A realização de partidas fora da capital se intensificou na década de 1990. Em 1995, por exemplo, Ribeirão Preto foi palco das duas partidas da final do Estadual. O título ficou com o Corinthians, graças ao gol de Elivélton, já na prorrogação. Depois desses duelos, o interior se fixou no calendário do dérbi, com a realização de clássicos em cidades como Presidente Prudente e São José do Rio Preto.
Jogo de maior público
120 mil torcedores foram ao Morumbi para acompanhar a decisão do Estadual, em dezembro de 1974. O Corinthians estava há 20 anos sem ganhar e era o favorito diante do Palmeiras, que tinha um elenco mais técnico e vinha de dois títulos brasileiros nas temporadas anteriores. A ansiedade pelo empate sem gols se prolongou até o segundo tempo, quando o palmeirense Ronaldo marcou o gol do título, aos 24 minutos.
Os jornais da época trazem a informação de que a presença de palmeirenses nas arquibancadas não chegava a 15% do total, mas ainda assim eles gritavam: 'Zum, zum, zum, é 21", em referência aos anos de jejum do Corinthians. O fim da fila só viria em 1977.
Jogos históricos
CORINTHIANS CAMPEÃO
Campeonato Paulista de 1954
O Estadual de 1954 só acabou em fevereiro do ano seguinte, como parte das comemorações pelos 400 anos de São Paulo. O Corinthians garantiu o títuloArquivo/Estadão
O Corinthians precisava apenas do empate e conseguiu. Abriu o placar aos 10 minutos do primeiro tempo, com Luizinho, e o Palmeiras deixou tudo igual aos 7 da etapa final, com Nei. Depois deste título, o time alvinegro só voltou a ser campeão em 1977.
Campeonato Paulista de 1995
Após empate por 1 a 1 no primeiro jogo, o Palmeiras largou na frente, com Nilson. Marcelinho Carioca empatou. Na prorrogação, o meia Elivélton fez 2 a 1 e garantiu o título alvinegro.
Campeonato Paulista de 1999
Famoso jogo das embaixadas. O Corinthians venceu o primeiro confronto por 3 a 0. Na segunda partida, saiu na frente com Marcelinho Carioca. Evair fez dois e virou, mas Edilson empatou e depois ficou fazendo embaixadas com a bola, desencadeando uma briga generalizada em campo.
PALMEIRAS CAMPEÃO
Campeonato Paulista de 1936
O Palmeiras, ainda como Palestra Itália, saiu na frente com Luizinho, logo no primeiro minuto. Moacir, aos 10, ampliou a vantagem e Filó descontou aos 16 minutos da etapa final.
Campeonato Paulista Extra de 1938
O Palestra Itália abriu vantagem com Barrilote, aos 16 minutos do primeiro tempo, e ampliou com Rolando, aos 9 do segundo tempo. Teleco descontou, aos 15, mas já era tarde demais.
Torneio Rio-São Paulo de 1951
Embora tivesse vantagem por ter vencido o primeiro jogo por 3 a 2, o Palmeiras foi para cima e abriu o placar com Jair Rosa Pinto, que marcou aos 17 do primeiro tempo e aos 7 da etapa final. Aquiles, aos 33, fez mais um para o time alviverde e Luizinho, aos 34 do segundo tempo, descontou para o Alvinegro.
Campeonato Paulista de 1974
No jogo em que teve o maior público da história do clássico (com 120.902 pagantes), o Palmeiras venceu por 1 a 0, gol de Ronaldo, aos 24 minutos do segundo tempo
Torneio Rio-São Paulo de 1993
O Palmeiras abriu boa vantagem no primeiro jogo da decisão e fez 2 a 0, gols de Edmundo, que acabou sendo expulso na partida. No jogo da volta, empate por 0 a 0 e mais um título alviverde.
Campeonato Paulista de 1993
Após 16 anos, o Palmeiras voltava a ser campeão e ainda sobre o maior rival. A partida foi realizada no dia 12 de junho e o time alviverde goleou por 4 a 0, com gols de Zinho, Evair, Edilson e Evair.
Campeonato Brasileiro de 1994
Em dois grandes jogos, o Palmeiras venceu a primeira partida por 3 a 1, com gols de Rivaldo (2) e Edmundo. Marques descontou. No confronto da volta, dia 18 de dezembro, houve empate por 1 a 1, com Rivaldo marcando para os palmeirenses e Marques, de novo, para os corintianos.
Brigas de torcida
Clássico tem histórico de brigas e assassinatos
Corinthians e Palmeiras, quando se reúnem, cativam a torcida na mesma em intensidade em que, infelizmente, costumam causar brigas. Ao longo da história, foram 11 mortes em dias de clássicos, as últimas delas, inclusive, motivaram a adoção da torcida única. Conflitos pela cidade em abril de 2016 fizeram o Ministério Público pedir a restrição da presença de apoiadores do time visitante. A medida está em vigor desde então.
A violência nos dias dos dérbis é um fenômeno recente. Na centenária rivalidade entre os clubes, o primeiro caso de morte no clássico e no futebol brasileiro foi em 1988, com o assassinato do palmeirense Cleofas Sóstenes da Silva. A tensão entre os adversários continuou nos anos seguintes, com brigas em estádios, emboscadas nas ruas e, anos mais tarde, a combinação de conflitos pela internet.
O passado de brigas teve mortes causadas tanto por golpes, como por atropelamento ou armas de fogo. O temor das autoridades com essa tensão se estendeu também ao Carnaval, pela competição direta entre Gaviões da Fiel e Mancha Alviverde.
Memória
"O que faz um clássico é a capacidade de resistir ao tempo. Nisso, nenhum outro clássico em São Paulo se compara a Corinthians e Palmeiras. Assim foi no tempo do meu avô, no do meu pai, no meu, e será com meu filho e meu neto. Nos anos 60 enquanto o Palmeiras era a Academia, o Corinthians estava na fila. Já na década de 1980, o Palmeiras não ganhava nada e o Corinthians era o time do Sócrates e da Democracia. Nem por isso o clássico morreu." Celso Unzelte, autor do livro Almanaque do Corinthians
"Os dois clubes têm uma participação italiana na sua fundação. O Palestra foi um clube de operários e o Corinthians, mais do povo. As duas torcidas conviviam entre si nos mesmos lugares, nos cortiços do Bixiga, em um ambiente comum, a rivalidade parte disso, da proximidade. Os times cresceram juntos. Eu brinco que são rivais inseparáveis. A história mostra isso, porque mesmo com a rivalidade dentro de campo, nesses cem anos os clubes fizeram muita coisa em conjunto. Formaram quatro vezes um combinado para enfrentar outros adversários, ou se juntaram para ajudar na arrecadação de causas." José Ezequiel Filho, pesquisador da história do Palmeiras