Inventada por Samuel Finley Breese Morse em 1844, a primeira linha entre o País e a Europa tem início somente três décadas mais tarde, entre as estações de Recife e Carcavelos, em Portugal.

A era do Rádio
Das trincheiras para as casas, o primeiro grande meio de comunicação de massa começou como um telefone sem fio
O pai, a mãe, os filhos e o cachorro colados em frente à TV. A cena batida – e meio obsoleta – já existia nos anos 30, bastando trocar a TV pelo rádio. Era então um aparelho enorme e solene, ricamente construído em madeira. Foi pelo rádio que as famílias americanas, brasileiras, soviéticas, alemãs e japonesas nervosamente recebiam as notícias da Segunda Guerra, tentando imaginar em suas cabeças as cenas muitas vezes protagonizadas pelos próprios filhos.
O rádio foi inventado décadas antes de realmente pegar. Como o avião, é uma criação com muitos pais. O italiano Gugliemo Marconi costuma levar a fama, por lançar o radiotelégrafo em 1896, dando origem a um império industrial. O italiano foi, no entanto, contemporâneo de muitos outros cientistas, como Nikola Tesla, que um ano antes já estava transmitindo numa distância de 80 quilômetros. Teve até um brasileiro, o padre Landell de Moura, que projetou um transmissor de rádio e fez a primeira transmissão de voz através de ondas eletromagnéticas na Avenida Paulista, em São Paulo, em 1893, quando Marconi ainda estava no início de radiotelégrafo. Em 1899, o padre virou notícia no Estado, ao fazer nova transmissão a partir de um colégio no bairro de Santana, na zona norte. “Ele só foi reconhecido após sua morte”, afirma a pesquisadora Magaly Prado, autora de História do Rádio no Brasil. “Ele recebeu propostas de empresários americanos, mas decidiu voltar ao Brasil.”
Seja quem for o autor da invenção, até os anos 20, o rádio era visto como um dispositivo de comunicação de duas vias, um telefone sem fio. Foi nessa função que a tecnologia foi impulsionada imensamente pela Primeira Guerra. No começo do conflito, o equipamento era enorme e nada prático. Em 1916, o Mark I britânico, o primeiro tanque de guerra, foi concebido com portinholas para a saída de pombos-correios. Aviões se comunicavam por bilhetes enrolados em pedras. Com a necessidade impulsionando a invenção, ao fim do conflito tudo estava pronto para a revolução da comunicação de massa.
Só faltava alguém perceber o potencial. David Sarnoff era um empregado da Companhia Marconi de Telégrafos Sem Fio. O jovem imigrante russo foi o operador de radiotelégrafo que recebeu o pedido de socorro do Titanic, em 1912, e passou 72 horas trocando mensagens com navios para coordenar o resgate. Em 1916, Sarnoff falou para os executivos da Marconi sobre a “caixa de música de rádio”, um aparelho de uma via só, para ser instalado na casa das pessoas, que receberia de uma emissora com grande potência.
Em 1920, foi fundada a primeira emissora comercial do mundo, a KDKA, propriedade da Corporação Elétrica Westinghouse – a ideia era tentar incentivar a venda de aparelhos da empresa, não um negócio em si. Sarnoff, pela rival RCA, acabaria por transmitir uma partida de boxe em 1921, no que é considerado o primeiro “hit” da transmissão radiofônica, com 300 mil ouvintes – isso foi a fagulha que iniciaria a Era do Rádio. Percebeu-se, então, que o negócio ia muito além de vender aparelhos.
Roquette-Pinto. Em 1922, a transmissão radiofônica chegava ao Brasil, através de Edgar Roquette-Pinto, fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. No ano seguinte, a Rádio Educadora Paulista abriu as portas. Essas estações funcionavam por assinaturas, e não tinham anúncios. “Os colecionadores [de discos] é que faziam a programação. Era uma rádio de elite, tocava música erudita”, diz Magaly Prado.
Isso ocorria não apenas por falta de publicidade, mas pelo fato de os aparelhos serem ridiculamente caros – nos Estados Unidos, um rádio custava em média 139 dólares em 1929 (quase 2 mil dólares hoje). A produção em massa, com uma mãozinha da Grande Depressão, levou a um rápido barateamento no início da década de 30, de forma que, em 1933, o preço era um terço de quatro anos antes.

‘Meu Deus, isso fala’
Com um empurrãozinho de D. Pedro II, o Brasil tornou-se pioneiro da telefonia
“Meu Deus, isto fala!” É bem conhecida a história de D. Pedro II que se espantou ao ouvir pela primeira vez um telefone funcionando na Exposição Centenária da Filadélfia, de 1876, ano seguinte à fundação do Estado. Geralmente a história é contada em tom quase folclórico, do brasileiro estupefato com a tecnologia de fora, mas o fato é que nosso imperador deu uma imensa mão ao inventor. Na feira, D. Pedro reconheceu Alexander Graham Bell, professor da Universidade de Boston, que havia conhecido anos antes, ensinando em uma classe de surdos- mudos.
Foi assim que o imperador poliglota se apresentou ao inventor, como encontrando um velho amigo, em bom inglês: “Professor Bell, I’m delighted to see you again!” (estou encantado em vê-lo novamente). Imediatamente, todo comitê de premiação, do qual ele fazia parte, juntou- se em volta do estande até então ignorado. Bell tinha que concorrer com invenções como a lâmpada elétrica, a máquina de escrever e um telégrafo musical por Elisha Gray, que havia inventado um sistema concorrente de telefonia. D. Pedro, por outro lado, estava curioso. “O invento não tinha despertado interesse até o momento que D. Pedro II parou para examiná- lo”, afirma o professor Paul Jean Etienne Jeszensky, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Ver o prestigioso imperador – que teve a honra de ligar o motor a vapor que inaugurou a exposição – se descompor com “Santo Deus, isto fala!” – ou, mais provavelmente, “My God! It talks!”, como foi registrado por quem estava na exposição, foi a senha para o início da telefonia e da gigante AT&T, a descendente da empresa de Bell.
No ano seguinte, o Rio de Janeiro recebia os primeiros telefones, no início estabelecendo a comunicação entre o Palácio da Quinta da Boa Vista e as casas dos ministros, e depois com o quartel-general dos bombeiros. Em 1881, o imperador autorizou a operação em território nacional da Telephone Company of Brazil, primeira empresa a oferecer linhas que passavam por um cabo submarino ligando Rio a Niterói.
O Brasil foi o segundo país a ter linhas telefônicas (ainda que não comercialmente). O aparelho rapidamente se tornou parte do cotidiano. Em São Paulo e no Rio, números de telefones (com dois ou três dígitos) eram anunciados em jornais. Nos classificados do Estado, as linhas telefônicas surgiam como atrativos, diferenciais, de mansões à venda. A nova tecnologia influenciou até a música. Em 1916, era registrado Pelo Telefone , o primeiro samba gravado, de Donga e do jornalista Mario Almeida. O novo ritmo anunciava o Brasil moderno, urbano e conectado.

O mundo em sua sala
Com a TV, a informação ficou mais rápida e ganhou vida; veículo criou um novo gênero de dramaturgia, as telenovelas
Em 1884, o alemão Paul Nipkow inventou um dispositivo redondo com 24 furos que permitia enviar uma imagem em movimento de um ponto a outro. A novidade gerou pouco interesse na época — mas foi a base para as primeiras televisões mecânicas da década de 1920. Era o início de uma revolução. Menos de uma década depois, em 1936, ela se consolidaria com o primeiro serviço regular de TV inaugurado no mundo, o da inglesa BBC (British Broadcasting Corporation).
No Brasil, a revolução televisiva começou em 18 de setembro de 1950, quando o dono dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, inaugurou a TV Tupi. “Chatô” trouxe dos Estados Unidos equipamentos de transmissão e 200 televisores para espalhar pela cidade, uma vez que o aparelho era inacessível para a população. “As TVs foram contrabandeadas com vista grossa do governo (Eurico Gaspar) Dutra, já que a importação levaria muito tempo”, lembra Igor Sacramento, doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos organizadores do livro História da Televisão no Brasil. O programa inaugural foi o TV na Taba, uma revista eletrônica de variedades que tinha no elenco artistas como Lima Duarte e Amácio Mazzaropi.
Como é comum em mídias recém-nascidas, as atrações aproveitavam ideias já testadas em outros meios. O “Repórter Esso”, levado à TV em 1952, se limitava à leitura das notícias, tal qual se ouvia no rádio. Já as novelas, que se tornariam marca registrada da televisão brasileira, eram adaptações de peças radiofônicas ou teatrais – e por isso mesmo chamadas de “teleteatro”. “Eram usados textos já conhecidos, para apagar a imagem de improviso e trazer um certo romantismo para a TV”, explica Sacramento.
A TV brasileira foi amadurecendo com o surgimento de programas que, com o passar dos anos, se tornariam clássicos. Na TV Paulista, o jornalista e humorista Manuel de Nóbrega levava ao ar A Praça da Alegria, em 1956. Mesmo ano em que Abelardo Barbosa, o futuro Chacrinha, estreava na Tupi com o Rancho Alegre. Enquanto isso, a Record lançava o Mesa Redonda, primeiro programa de discussão futebolística.
Na década de 1960, a TV brasileira foi dominada pela TV Excelsior. A emissora de vida breve — criada em 1960, encerrou as atividades em 1970 —, porém de vida intensa, tem em seu currículo atrações que fizeram história, como Moacyr Franco Show, o programa de luta-livre Telecatch e a Beto Rockfeller, até hoje considerada uma das novelas mais inovadoras de todos os tempos.
Novo gênero. Por falar em novela, a primeira a ser transmitida diariamente foi 2-5499 Ocupado, também da Excelsior. Mas foi a Rede Globo, criada em 1965, que popularizou o gênero Janete Clair, autora de tramas como Irmãos Coragem e Selva de Pedra, que ajudaram a consolidar a tradição da “novela das oito”. Com o “padrão Globo de qualidade” e a grade de programação criada por Boni e Walter Clark, a emissora passou definitivamente a influenciar as atrações das concorrentes na busca pela audiência.
A década de 1980 viu surgir a TV Manchete e o SBT, enquanto que, na Globo o Cassino do Chacrinha consagrava de vez o “Velho Guerreiro”. Sabendo que praticamente ninguém estava fora do alcance das telinhas e da importância da telenovela, o Estado criou, em 1992, o “Telejornal”, caderno especializado no tema.
Com a popularização da internet, a televisão viu a audiência ameaçada e teve que se reinventar. Hoje caminha para um convívio não só pacífico, mas integrado com a mídia digital. “Muitas atrações já são pensadas pra ter a participação do público na web. Assim eles voltam de lá para a frente da TV, e a audiência passa a ser compartilhada. O Big Brother é o maior exemplo”, aponta Sacramento.

O mundo depois de @
A era digital encurtou distâncias, diminuiu fronteiras culturais, e transformou a forma como que as pessoas se relacionam
Assim como o telégrafo de Samuel Morse e o telefone de Alexandre Graham Bell, o e-mail também teve um criador, o engenheiro americano Ray Tomlinson — bem menos popular que os dois predecessores. Foi em 1971, em um dos laboratórios da Universidade de Cambridge, Massachusetts, onde era desenvolvido um projeto para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que ele passou a primeira mensagem de correio eletrônico. Era um teste. O e- mail saiu de um computador e foi para outro na mesma sala. Dizem que o engenheiro escorregou na cadeira, assim que enviou a mensagem, para aguentar a expectativa. Para conseguir elaborar esse e-mail, Tomlinson precisava de um símbolo que separasse o nome do usuário da máquina do endereço para onde a mensagem seguiria (domínio). Escolheu o @, que em inglês significa “at” – em português “em”. E o símbolo que poderia ter desaparecido das máquinas de escrever virou símbolo universal de comunicação eletrônica. Em 1999, o Estado, que sempre teve um grande olhar para as mudanças tecnológicas, trouxe a seguinte manchete: “Perdida nos teclados, @ ressuscita no e-mail”. O texto trazia a informação de que para dar uma aura de modernidade a Atlanta, nos Estados Unidos, alguém havia proposto mudar o nome para @tlanta. Também apontava para o fato de Bill Gates ter usado o mesmo símbolo no best seller que havia escrito na época: Business @ The Speed of Thought. Apesar de muito usado nos Estados Unidos é curioso o fato de o símbolo ter surgido pela primeira vez na Europa Medieval. Arroba é a abreviatura de “ad”, que em latim significa “vindo de”. Tratava-se de uma ligadura, como tantas outras que apareceram no latim, para economizar tempo e espaço nos pergaminhos.
A World Wide Web nasceu em 1989, no Cern, o centro de pesquisas europeu responsável pelo acelerador de partículas para atender a demanda da gigantesca troca de informações dos cientistas envolvidos no projeto. Seu criador foi Tim Bernes-Lee. O primeiro site do mundo tratava, claro, da própria Web. A sacada de Bernes-Lee foi criar os links – palavras ou símbolos que remetiam a outras páginas.
O Brasil entrou na era digital em 1991. No início, a internet era uma exclusividade de órgãos do governo e de instituições de pesquisa. Um ano depois, o acesso foi aberto para a população. O grande salto, porém, veio em 1995, quando os Ministérios das Comunicações e da Ciência e Tecnologia criaram, por portaria, a figura do provedor de acesso privado à internet e liberaram a comercialização — o primeiro provedor por ligação telefônica nos Estados Unidos foi o The World, em 1989. Em 1995, outro marco importante foi o lançamento da Agência Estado digital, a primeira agência de informação na rede no País.
O pioneiro provedor nacional foi a DGLNET, que nasceu em Campinas e logo ganhou filiais nas cidades próximas. A chegada da internet numa cidade era um acontecimento tão importante que os proprietários da provedora eram tratados com a mesma pompa que figuras oficiais. O problema é que faltavam linhas telefônicas para expandir o acesso. O usuário abria o ícone de conexão discada no computador, acionava a função, ouvia o barulhinho do modem e esperava a conexão. Enquanto o acesso não acontecia, o usuário podia sair para tomar um café e dava tempo até para ler o jornal.
A velocidade só melhorou depois de 2008, quando começaram os testes com banda larga pelo cabo de TV. Surgiram sites de compartilhamento de vídeos, imagens, blogs, wikis e as redes sociais. As empresas de comunicação começaram a lançar sites e portais. Em 2000, chegou à rede o estadao.com.br.
Três anos antes de o portal do Estado surgir, o indiano Sabeer Bhatia havia vendido o Hotmail, o primeiro e-mail gratuito popular, para a Microsoft por cerca de US$ 400 milhões. Desde então, o correio eletrônico evoluiu e a ponto de hoje ser possível acessá-lo no próprio pulso. É o que oferece o Apple Watch, “o mais pessoal produto que a gigante Apple já criou porque, como a própria gigante da tecnologia afirma, é o primeiro produto criado para usar em você”, afirma Elizabeth Nicolau Saad Corrêa, professora titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e estrategista de mídias digitais.
Hoje há mais de 2 bilhões de pessoas conectadas à rede em todo o mundo. Somente no Brasil, segundo pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), divulgada em junho de 2014, os usuários chegam a 86 milhões.

O mundo dentro do bolso
Já são 7 bilhões de celulares no mundo, 1,5 bilhão dos quais smartphones, quase um aparelho por terráqueo
É difícil se lembrar como era o mundo antes da emergência e expansão massiva do telefone celular. Como toda grande revolução esta inovação tecnológica gerou – e está gerando – importantes mudanças sociais. O aparelho celular, e seu sucedâneo, o smartphone, substituiu aparelhos como o despertador, a máquina fotográfica, e o rádio. Ainda possibilita acesso às redes sociais, transações bancárias, dicas de trânsito e de linhas de ônibus entre milhares outros serviços. Virou acessório indispensável na vida de muitas pessoas tão presente que chega a causar constrangimentos em eventos sociais. Isso já levou o badalado restaurante Eva, em Los Angeles, nos Estados Unidos, a oferecer descontos de 5% na conta do cliente que passasse a refeição inteira sem usar o celular.
A dependência do aparelho tem até nome: nomofobia, o medo de ficar sem bateria, sem rede ou internet. A doença foi descrita em 2010, quando um instituto de pesquisa britânico observou que 53% das pessoas pesquisadas tendiam a ficar ansiosas quando perdiam algum tipo de acesso a seus smartphones.
O smartphone faz parte de um complexo contexto de múltiplas transformações tecnológicas que aconteceram ao mesmo tempo na última década. “Trata-se da unificação de duas grandes linhas de tecnologia que fizeram o celular virar um computador”, diz o diretor de tecnologia do Grupo Binário de Telecomunicações, Juliano Dias. Ele acrescenta que, hoje, a presença do 3G no mundo é maior do que da internet fixa, o que é facilitado pelos planos de telefonia móvel.
Um marco na evolução deste mercado foi o desenvolvimento do iPhone em 2007 e do Android em 2008, aparelhos responsáveis pela popularização do smartphone. O iPhone, com a beleza instintiva da Apple, virou objeto de desejo, enquanto o Blackberry conquistou o uso profissional. “Hoje, 60% dos celulares vendidos no mundo são smartphones”, diz Dias.
Custo. No início dos anos 80, os aparelhos eram caros e não existiam planos porque ainda se tratava de um produto em teste. Nos anos 2000, chegaram ao mercado aparelhos simples de baixo custo. Hoje, a batalha é outra. “Atualmente, tem muita gente disposta a pagar pela tecnologia mais alta existente”, diz Dias. Isso explica o sucesso dos celulares da Apple. O último modelo da marca, o iPhone 6 Plus, custa R$ 3.499 no Brasil.
“O smartphone nada mais é do que um instrumento que revela uma mudança da sociabilidade do indivíduo nos dias atuais”, diz o professor do departamento de ciências humanas da Universidade Federal de Lavras, Conrado Pires de Castro.
“Ainda estamos em fase de aprendizagem sobre como lidar com este encurtamento tão brusco de tempo e espaço, de recebimento e processamento das informações. Isto também traz um problema de credibilidade, já que mesmo sem saber a origem de boa parte dos dados, as pessoas são chamadas a responder prontamente a eles”, afirma. Segundo Castro, é preciso se adaptar aos prós e contras deste utensílio, mas uma coisa é certa: “Ele veio para ficar.”