Do raio X ao DNA, clareza e precisão

Descobertas científicas importantes sempre tiveram amplo noticiário no ‘Estado’ ao longo das últimas décadas

José Goldemberg

Desde a segunda metade do século 19, nosso conhecimento da natureza passou por uma verdadeira revolução. Não só foi formulada a teoria da evolução por Wallace e Darwin como também foi descoberta a radioatividade e desvendada a estrutura do átomo. Esses progressos não poderiam ter sido feitos sem as teorias de Einstein sobre a relatividade do tempo e do espaço. Mais recentemente, ainda em meados do século 20, foi esclarecido por Crick e Watson o código genético que comanda o crescimento dos seres vivos e sua reprodução.

  • Os testes da bomba atômica foram capa do 'Estado' de 7 de agosto de 1945 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Foto de Marie Curie, duas vezes vencedora do Prêmio Nobel. Recebeu o Nobel de Física em 1903 e o Nobel de Química em 1911, pelo descobrimento dos elementos rádio (Ra) e polônio (Po). O 'Estado' noticiava com frequência os avanços dos estudos sobre radiação(ACERVO/ESTADÃO)

  • 'Estado' noticia os nomes dos ganhadores do Nobel de Física de 1903. Pierre Curie, Marie Curie e Antoine Henri Becquerel foram laureados por suas descobertas no campo dos “estudos dos corpos chamado radiocondutores”, dizia a nota (REPRODUÇÃO)

  • Os cientistas Ferdinand Ellerman, Albert Einstein, Walther Mayer e Edwin Hubble no Observatório de Mount Wilson, onde o astrônomo Hubble começou a trabalhar na teoria do universo em expansão (REUTERS)

  • Francis Crick com James D. Watson, descobridores da estrutura e função do DNA, em imagem da década de 1950 (REUTERS)

  • Especial publicado no 'Estado' de 18 de fevereiro de 2001 tratou do Mapeamento do Genoma Humano (ACERVO/ESTADÃO)

Muitos desses desenvolvimentos foram a base dos avanços tecnológicos que mudaram para melhor a vida de bilhões de pessoas. Todos eles, contudo, complexos e objeto de minuciosos estudos por cientistas de grande criatividade e competência. Como explicá-los aos não cientistas e ao público em geral é um desafio permanente.

Nos Estados Unidos e na Inglaterra existem revistas especialmente dedicadas a fazer a ponte entre os cientistas e o público leigo mais esclarecido como a Scientific American, cujo primeiro número foi publicado em 28 de agosto de 1845. A revista é mensal e tem sido publicada ininterruptamente desde então por 169 anos.

O que surpreende é verificar que o jornal O Estado de S. Paulo, fundado em 1875, sempre deu amplo noticiário às descobertas científicas mais importantes, o que só é feito pelos grandes jornais do mundo, como The New York Times, nos Estados Unidos, e Le Monde, na França.

Em Manguinhos. Einstein (à frente à dir.) visita o Instituto Oswaldo Cruz, no Rio, em 1925: Adolfo Lutz e Carlos Chagas ajudaram a recepcioná-lo (REPRODUÇÃO)

Essa observação foi feita a um jornalista que o entrevistava pelo próprio Einstein em 21 de março de 1928, ao chegar ao Rio de Janeiro para uma visita, onde fez uma conferência na Academia Brasileira de Ciências sobre a teoria da relatividade, visita esta amplamente coberta pela imprensa e pelo Estadão.

Dolly. O primeiro animal adulto clonado no mundo (REUTERS)

Ao longo dos anos, o jornal não apenas noticiou a visita, mas publicou artigos de matemáticos brasileiros explicando as teorias de Einstein e até um artigo do próprio Einstein intitulado A unidade da vida, na edição de 11 de março de 1979, e um artigo de Mario Schenberg intitulado Albert Einstein: o homem no mesmo dia.

Em 7 de agosto de 1945, o jornal publica na primeira página uma ampla notícia sobre o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima, tema que jamais saiu do noticiário desde então. Em 25 de setembro de 1956, noticia resultados da Conferência de Genebra que deu início aos trabalhos de utilização de energia nuclear para fins pacíficos.

Um ponto alto do noticiário é o de 19 de outubro de 1962 sobre o Prêmio Nobel de Medicina de Crick e Watson, poucos anos depois de eles terem descoberto a “dupla hélice” descrita como a “fórmula da vida”. Em 24 de fevereiro de 1997, é noticiada a clonagem de um mamífero adulto – a ovelha Dolly –, à qual o jornal dedicou um caderno completo.

Antimatéria é discutida com destaque em 24 de março de 1975 com artigos de pesquisadores da USP.

Muito antes disso, o Estadão, em 25 de julho de 1897, publicou uma longa matéria sobre a descoberta dos raios X por Roetgen e o início dessa técnica para a radiografia médica.

As descobertas da radioatividade por Becquerel e os trabalhos da Madame Curie são descritos em detalhes em várias edições no começo do século 20, incluindo controvérsias com outros cientistas que são naturais numa área de vanguarda.

Mais recentemente, em 23 de agosto de 1954, são publicadas notícias sobre a descoberta da expansão do universo e também suas consequências filosóficas por Flavio Pereira. Em 23 de dezembro de 1973, o Estadão publica uma página inteira chamada Atualidade Científica, que tem entre outros um artigo de Isaac Asimov.

O que é notável em todas essas matérias publicadas no Estadão – escolhidas por meio de uma pesquisa superficial no seu arquivo – é a clareza e a objetividade das informações. Apesar da linguagem jornalística, elas são escritas com suficiente cuidado para transmitir ao público informações claras e corretas, características do bom jornalismo!

É PROFESSOR EMÉRITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO