Desigualdade

Homens têm 72% das mil melhores notas do Enem

Eles têm as melhores notas em todas as áreas, mas a diferença é ainda maior em Matemática

Mais de 70% dos estudantes que tiraram as mil maiores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são meninos. No entanto, as meninas são maioria entre os candidatos. Dados tabulados pelo ‘Estado’ mostram ainda que o total de jovens do sexo masculino se sai melhor nas quatro áreas cobradas pela mais importante avaliação do País. A maior diferença está nos exames de Matemática e Ciências da Natureza.

Os resultados indicam também disparidade de desempenho entre as raças. Garotas negras (pretas e pardas), que são a maior parte dos inscritos no Enem, representam só 6% das notas mais altas. O meninos brancos são quase 50% dessa “elite” da prova e 15% dos candidatos.

Veja a representação desta disparidade no gráfico abaixo

1000 pessoas

575 mulheres

425 homens

346 negras

202 brancas

252 negros

153 brancos

Cada ponto representa aproximadamente 4.850 pessoas

Cada ponto representa 1 pessoa

Imagine que os mais de 4 milhões de candidatos do Enem fossem representados como 1000 pessoas
Assim fica a divisão entre gêneros – as mulheres são maioria entre os candidatos
Esta é a distribuição de negros (pretos e pardos), brancos, amarelos e outros (indígenas, não declarados e os que não dispõe de informação)
Note como os negros são maioria em ambos os sexos
Porém, entre as 1000 melhores notas do exame, a divisão é bem diferente. Os homens passam a ser maioria
Assim como os brancos, especialmente entre os homens

Candidatos

4,85 milhões de pessoas

Conheça quatro jovens que integram este seleto grupo

Os números são de 2016 e se referem à parte objetiva do exame, que inclui ainda Ciências Humanas e Linguagens. As notas gerais de 2017 - que não permitem esse detalhamento - devem ser divulgadas na quinta-feira. O total considerado é de 4,8 milhões de candidatos. Foram excluídos os treineiros e os que tiveram nota zero em alguma área. O ‘Estado’ checou também os mil melhores dos dois anos anteriores do Enem e o padrão se repete.

Esse grupo tem perfil semelhante. As idades variam entre 17 e 19 anos, a maioria estudou em escolas particulares e possui renda familiar acima de R$ 10 mil. Todos tiraram nota maior que 781,68, em uma escala que vai de 0 a 1.000. “Seria de se esperar que pelo menos no grupo dos mil, extremamente selecionado, as diferenças diminuíssem. E as 500 melhores meninas se equiparassem aos melhores 500 meninos”, diz a presidente do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz.

A análise das notas do grupo todo que fez o Enem mostra que mesmo entre os brancos há diferença de desempenho. Em Matemática, a nota de meninos brancos é 52 pontos maior que a de meninas brancas. Com relação às negras, são 81 pontos. Os jovens negros também têm desempenho melhor em Matemática e em Ciências da Natureza do que as brancas e as negras.

Independentemente da raça, homens têm nota 41,8 pontos superior às mulheres em Matemática e 24,3 em Ciências da Natureza, que inclui Física, Química e Biologia. Como a média do Enem é de 500 pontos, a quantidade é considerada significativa por estatísticos. Em Ciências Humanas há diferença de 21,6 pontos no geral, mas o desempenho das meninas é puxado para baixo pelas negras, já que as brancas têm até nota mais alta do que os homens negros. O padrão de notas mais altas dos homens se repete no Enem de 2014 e 2015.

Segundo educadores e pesquisadores ouvidos pelo ‘Estado’, fatores sociais e culturais explicam o pior desempenho das mulheres especialmente em Matemática e Ciências da Natureza. “O que se espera, nas famílias e nas escolas, é que as meninas sejam melhores em se comunicar, em se expressar, e não que elas se saiam bem em Matemática. Essa expectativa sobre elas e delas mesmas influencia muito na aprendizagem”, afirma Priscila.

“A explicação não deve ser buscada na Biologia, embora cérebros de homens e mulheres não sejam iguais. Mas isso não afeta a cognição, em áreas do raciocínio lógico, muito menos na inteligência”, diz o professor titular de neurociência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Lent. Para ele, o que mais influencia são as posições da família e os estereótipos da sociedade.

Os resultados do Pisa, maior exame internacional do mundo, feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que a disparidade nas notas é comum também em outros países. A prova avalia estudantes de 15 anos em cerca de 70 países. Meninos se saem melhor do que meninas em exames de Matemática e Ciências na maioria deles.

O Pisa pesquisa a questão de gênero na educação com questionários aos alunos. Relatórios recentes mostram que as meninas dizem confiar pouco em suas habilidades em Matemática e se sentir menos motivadas a estudar a área. Nos países em que há grande diferença de nota em Ciência, as garotas também se acham menos eficientes.

Outro estudo, feito em 2017 pela consultoria Mackinsey, usando dados do Pisa, demonstrou que estudantes mais motivados têm nota 18% mais alta em Ciência do que os não motivados. Fatores ligados à atitude e à mentalidade do aluno, conclui a pesquisa, afetam mais seu desempenho do que a origem socioeconômica.

Ao questionar os pais dos estudantes, o Pisa também constatou que eles têm mais expectativa com relação aos filhos do que em relação às filhas para que trabalhem em áreas como Matemática, Tecnologia e Engenharia. “Até em países onde meninos e meninas têm uma performance semelhante em Ciência, a quantidade de meninas que veem a área como uma oportunidade de vida é significantemente inferior que a de meninos. Existe uma ligação emocional e social”, disse ao ‘Estado’ o diretor do Pisa, Andreas Schleicher.

No entanto, países como Finlândia, Suécia, Rússia e Estados Unidos não apresentam mais as diferenças de desempenho em Matemática entre meninos e meninas que ocorriam no começo dos anos 2000. Segundo Schleicher, isso aconteceu porque essas nações deram atenção à questão da desigualdade e passaram a oferecer programas especiais para as meninas nessas áreas.

O Brasil é um dos países em que há mais diferença entre gêneros no desempenho de Matemática no Pisa. Para a secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena Guimarães de Castro, a nova base curricular aprovada no País pode ajudar. “Se você tiver um currículo mais instigante, que desperte o espírito investigativo e a resolução de problemas, as meninas podem ter mais interesse pela Matemática e pela Ciência.”

Brinquedos. “A escola brasileira produz desigualdades. Ela acolhe o padrão de desigualdade e ainda tem o efeito perverso de entregar, no fim da educação básica, com mais desigualdade ainda”, diz o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques. Estudos brasileiros mostram que a diferença nas notas entre os gêneros é menor nos primeiros anos do ensino fundamental e vai aumentando. A entidade financia projetos que estimulem meninas a se envolver com Exatas.

Para Henriques, os estereótipos também são produzidos em casa. “Vai desde a primeira infância, com jogos e brincadeiras diferentes para meninos e meninas, que inibem a performance das jovens.” Brinquedos como blocos de montar e jogos de raciocínio acabam sendo mais direcionados aos meninos, enquanto as meninas ficam com as bonecas.

Essas e outras atitudes sutis, dizem especialistas, acabam estimulando ou não as meninas. “Professores sugerem que alunas não entendem algo porque são mulheres. Um comentário desse pode causar desistência de seguir na área”, diz a doutoranda do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP) Bruna Cassol dos Santos, de 27 anos. A pesquisadora se interessou pelas contas ao ver o pai agricultor calcular sacos de milho na sua infância no Rio Grande do Sul. Mais tarde, uma professora de Matemática a inspirou. “Era uma mulher inteligente e falava para eu não desanimar.”

Luana Cattan, de 18 anos, apaixonou-se pela Química também por causa de um professor, que mostrou a disciplina “mais próxima do cotidiano”. Ela é uma das meninas que estão na lista dos melhores do Enem, na 321ª posição. “Na minha casa, pude escolher a área que quisesse. E me esforçar”, conta ela, que cursa Engenharia Química na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“As meninas têm a mesma capacidade, falta incentivo. Ficam dizendo que os homens têm de ser engenheiros”, diz Felipe Mourad Pereira, de 18 anos, que teve a segunda melhor nota em Matemática do Enem: 990,50. Hoje ele estuda no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e reclama que só 10% da turma é feminina. “É ruim porque a convivência no mundo não é assim. E a faculdade, além do ensino, tem de propiciar outras coisas.” / COLABORARAM ARIEL TONGLET, CECÍLIA DO LAGO e VINICIUS SUEIRO

Oposto

Na prova de Redação, alunas do sexo feminino têm nota maior

Os resultados na prova de Redação do Enem 2016 são opostos do ponto de vista de gênero, se comparados aos da prova objetiva, que tem exames de Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Linguagens. A nota média das meninas foi 540, enquanto a dos meninos foi 520.

Além disso, elas representam 70% das mil maiores notas. Quem se sai melhor são as brancas - 42,9% dessa lista. Em seguida, vêm as negras, com 23,2%. Homens brancos e negros têm proporção semelhante, 14,6% e 13,4% respectivamente. Os resultados seguem o mesmo padrão nos exames de Redação de 2015 e 2014.

Na área de Linguagens da prova objetiva, os meninos se saem levemente melhor que as meninas, com 4,6 pontos a mais, em média. É a área com a menor diferença, mas considerada quase insignificante do ponto de vista estatístico.

No Pisa (exame internacional), meninas se saem melhor na área de Leitura na maioria dos países. Mas, ao longo dos anos, os meninos têm aumentado suas notas e a distância entre eles é menor nos exames mais atuais.

Estudos brasileiros mostram que as mulheres abandonam menos a escola porque, entre outras razões, os homens são forçados a entrar mais cedo no mercado de trabalho. As estudantes do sexo feminino também já são maioria no ensino superior no País. Essa proporção muda em áreas como Engenharia e Construção, quando cerca de 35% apenas são mulheres. Na área de Educação, as alunas representam cerca de 70%.

Perfil

Formação dos pais faz a diferença

Mais de 70% dos pais dos alunos que estão entre as mil melhores notas do Enem são formados em ensino superior ou pós-graduação. Além disso, quase 25% deles têm renda familiar acima de R$ 17,6 mil e quase 90% nunca trabalharam. São números que mostram que esses estudantes fazem parte da elite intelectual e econômica, muito diferente do total de candidatos à prova. Menos de 14% dos pais dos inscritos têm a mesma formação, só 0,7% vive com a mesma renda e 44% nunca trabalhou.

“O meu resultado se deve a uma questão de oportunidade mesmo, boa condição financeira para poder estudar”, diz Milena Figueiredo Miranda, de 19 anos, que nasceu na cidade de Boa Esperança, em Minas. Ela é parda e ficou na 18ª colocação da lista dos mil melhores do Enem em 2016. Sua nota – 824,9 em 1.000 possíveis – garantiu um lugar no curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A mãe de Milena é professora de Matemática da escola em que ela estudou; sua nota na área foi 961,9.

Guilherme Pinho Cicivizzo, de 18 anos, mora nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, e tem pais advogados. Ele não fez cursinho e entrou direto com a nota do Enem em Medicina na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Eu sempre estudei muito e adoro Química”, conta. A média de 798,7 garantiu a ele o 268.º lugar no Enem. “Eu fico surpreso de ter tantos homens na lista, as meninas com quem estudei também eram muito boas.”

O ranking com as maiores notas também está dominado pelas grandes capitais do País: 62%. Dos mil alunos, 218 estão em São Paulo, enquanto apenas 4,5% dos inscritos no Enem são paulistas. Em segundo lugar está Belo Horizonte, com 67 alunos, seguida de Brasília, Fortaleza e Rio, respectivamente. Dos mais de 5 mil municípios do País, apenas 223 têm representantes entre os mil melhores colocados.

O estudante de Física Luiz Rodrigo Torres Neves, de 18 anos, que se declara negro, conta que passava o dia todo estudando quando chegou ao último ano do ensino médio. “Na minha escola, a rotina de aulas já era sobrecarregada, com aulas pela manhã, à tarde e no fim de semana. No 1.º e no 2.º ano do ensino médio, eu também estudei por conta própria para o vestibular”, lembra-se.

Egresso de escola privada, como 92% dos alunos com as melhores notas no Enem, Neves foi o único morador de São Luís (MA), a tirar uma das mil notas mais altas. Na capital, 64 mil alunos fizeram a prova.

O fato de nunca ter precisado trabalhar contribuiu. “Sempre que sobrava um tempo da escola, eu também estudava. Meus pais trabalham bastante (o pai é funcionário público e a mãe, nutricionista). Eu só precisei estudar e sempre me educaram para reconhecer a importância do estudo. Sou privilegiado em relação à realidade. Os dados refletem a desigualdade social e racial que existe no País.”

Sem estímulo

‘Sou negra e pobre. Não me encorajaram’

A engenheira Débora dos Santos Carvalho relata preconceito na universidade: ‘Viviam perguntando se eu era mesmo brasileira’. Gustavo Roth

Mesmo quando comparadas às brancas, elas têm as piores notas nas quatro áreas cobradas na prova objetiva

Quando ainda estava prestes a concluir o ensino médio, a engenheira Débora dos Santos Carvalho, à época com 17 anos, mal sabia o que era uma universidade. Aluna de uma escola estadual na periferia de Porto Alegre em 1998, o assunto não era prioridade na sala de aula. “Não se tem muitas expectativas para os alunos mais pobres, ainda mais sendo mulher e negra. Universidade não era um tema na periferia. Não me encorajaram para trilhar esse caminho.”

As dificuldades de Débora para chegar ao ensino superior são vistas nos dados da elite do Enem. Negras têm as piores notas nas quatro áreas cobradas na prova objetiva. Em Matemática, por exemplo, a média foi de 444 pontos, quase 30 pontos menor que a de mulheres brancas, de 473,3. Além disso, apesar de serem 34% dos candidatos à prova, representam só 6% das melhores notas.

“As meninas negras acumulam duas dificuldades: são meninas e são negras”, diz a presidente do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz. Ela explica que esse é o grupo sobre o qual as escolas têm menos expectativa de sucesso, o que influencia na motivação das garotas para estudar. Como sempre foi uma das melhores alunas e se destacava nas Exatas, uma professora aconselhou Débora a buscar um curso técnico - mas não uma universidade.

Ao notar que essa poderia ser sua melhor oportunidade, aceitou a proposta. Prestou vestibular na instituição e passou em sétimo lugar. Em paralelo aos estudos, conseguiu um estágio em uma empresa de saneamento municipal. Foi ali que notou, pela primeira vez, que não estava feliz. “Eu via os engenheiros trabalhando e pensava: é isso que eu quero ser.”

Débora então conseguiu uma bolsa em um cursinho e, dividindo o tempo entre trabalho e estudo, foi aprovada em duas universidades - estadual e federal do Rio Grande do Sul. No meio da graduação, ainda conseguiu transferência para a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), em Engenharia Ambiental, onde concluiu um mestrado recentemente. Hoje ela se prepara para fazer doutorado e estagiar em uma universidade na Alemanha. Estar no meio universitário, no entanto, não facilitou as coisas. “Eu tinha notas muito boas nas disciplinas específicas, por causa da minha experiência no curso técnico, mas no ciclo básico, por causa da precariedade do ensino que tive, tinha dificuldade”.

Ela também diz ter sofrido preconceito. “Há sempre um estranhamento às mulheres negras no meio acadêmico. Viviam perguntando se eu era mesmo brasileira. Tinha gente que chegava a perguntar para qual setor da universidade eu trabalhava, por achar que eu não era aluna”, diz a engenheira.

Débora foi uma das estudantes contempladas pelo programa federal Ciência sem Fronteiras, e assim fez o primeiro contato com uma universidade alemã. Em um evento sobre o programa, em Brasília, se emocionou. “Nasci mulher, negra e pobre. Nasci para contrariar estatística.”

Meninos. O desempenho dos meninos negros surpreende por se parecer muito com o das mulheres brancas no Enem. Entre as mil melhores notas, eles representam 15,7%, enquanto elas são 18%. A nota deles também é maior que a das brancas em Matemática e Ciências da Natureza. Segundo o ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep), Reynaldo Fernandes, isso pode ser explicado pelo fato de os meninos negros abandonarem mais a escola. Atualmente, 16% dos meninos negros de 15 a 17 anos estão fora da escola. “Os piores alunos negros já desistiram da escola. Os que ficaram e fizeram Enem são os mais estudiosos”, diz.

Depoimento

‘A capacidade é a mesma’

O que teria levado uma jovem paraibana, na João Pessoa dos anos 1970, a sonhar em ser cientista? Em parte, pode ter sido a curiosidade e inquietude natural da infância e uma boa dose de apoio familiar. Minha infância, na Praia Formosa, rodeada de natureza, de terra e mar, pode ter sido o primeiro estímulo. Mas também a curiosidade pelas brincadeiras dos meninos, mais criativas e instigantes. Elas me fascinavam, sob o olhar rigoroso de mamãe. Adorava brincar de bolinha de gude com os meninos, criava estratégias. O que tem para pensar numa brincadeira de casinha ou boneca?

Muito estudiosa, na juventude, comecei uma graduação em Medicina, para alegria dos meus pais. Mas me apaixonei pela química orgânica e acabei mudando para Farmácia, na Universidade Federal da Paraíba. De lá, vim fazer pós-graduação em Química na USP. Como toda retirante nordestina, cheguei com uma mão na frente e outra atrás, mas não para trabalhar na construção civil e, sim, construir ciência. Somos culturalmente educadas de maneira diferente, mas a capacidade é a mesma. O importante é que as meninas tenham modelos para se inspirar.

Textos: Renata Cafardo e Luiz Fernando Toledo / Dados: Cecília do Lago e Vinicius Sueiro / Edição de textos: Bia Reis / Edição de infografia: Regina Elisabeth / Infografia: Ariel Tonglet e Gisele Oliveira / Design e desenvolvimento: Ariel Tonglet