Vitórias de um jovem prodígio

Com apenas 18 anos, Felipe Buniac desenvolveu um software premiado de criptografia no ensino médio

Julia Lindner

Felipe Buniac já morou em diversos países como México e Estados Unidos, fala quatro línguas e acaba de se tornar o primeiro brasileiro a apresentar um projeto científico no Seminário Internacional de Jovens Cientistas de Estocolmo (SIYSS, na sigla em inglês), que integra os eventos da cerimônia do Prêmio Nobel, na Suécia. Parte da geração maker e usuário assíduo de Fab Lab. Buniac criou um software de criptografia na metade do ensino médio. Não faz muito tempo: ele tem apenas 18 anos.

O jovem prodígio estuda Engenharia da Computação no Insper e teve a sua primeira experiência maker na Flórida, em 2012. Na escola em que estudava, fez cursos de fotografia, Photoshop e programação em 3D. “No Brasil, ainda há poucas atividades extracurriculares. Ter tido essa experiência fora foi fundamental para despertar a minha curiosidade por computação.” Nas aulas de programação em 3D, ele desenvolveu um jogo de futebol para computador.

Ao retornar ao Brasil, Buniac aproveitou um projeto escolar para criar o Encrypta - um sistema de criptografia de mensagens de texto para proteção de conjuntos de dados na internet. Baseado na teoria do caos, da Física, o estudo garantiu nota dez no boletim de Buniac e a oportunidade de apresentar a ideia na maior feira do setor na América do Sul, em 2013 - a Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec). Não recebeu nenhum prêmio, mas persistiu.

Felipe Buniac apresentando seu projeto para mais de mil pessoas na Suécia Crédito: Daniel Teixeira

Desenvolvido no segundo ano do ensino médio sob a supervisão do professor Thiago Nogueira, o projeto não terminou junto com o ano letivo. No terceiro ano, o estudante convenceu o professor a continuar investindo de maneira independente no software para retornar à Mostratec em 2014. “Houve um momento em que nos encontrávamos diariamente, mas não imaginava que o estudo ficaria tão em evidência. Felipe é autônomo e dedicado, tem garra. Ele evoluiu rápido em temas complexos”, elogia o professor.

Adriana, mãe de Buniac, chegou a procurar a escola para diminuir a carga horária nas atividades, mas o esforço valeu a pena. O software criado pelo estudante se mostrou seguro o suficiente para ser usado por empresas e governos e garantiu dois dos principais prêmios do evento: participar da feira Broadcom Masters International, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, em maio de 2015, e um mês de estágio no Instituto Weizmann, em Israel, com 80 jovens do mundo todo.

No Insper, ele atua como monitor no Fab Lab da faculdade, o que exige dedicação de pelo menos quatro horas semanais. Sem sacrifício, ele acaba frequentando o espaço pelo menos três vezes mais do que isso. “O movimento maker é sensacional e até meio viciante. Às vezes você entra com um objetivo simples, como imprimir uma caixa para guardar fios eletrônicos. Então, vê alguém imprimindo um braço robótico e, se a pessoa te passa o arquivo, pode fazer também. Esse compartilhamento gera criatividade, economia e aprendizado.”

Empolgado, Buniac quer fazer makerspaces móveis, inspirado na ideia dos food trucks, para levar caminhões com laboratórios e kits de ciências até as escolas. “Cada dia algo novo poderia ser criado”, propõe. Ele está com viagem marcada para os EUA em janeiro de 2016, oportunidade que vai aproveitar para conhecer outros Fab Labs, universidades e empresas, como Stanford, Google e Dropbox. Chamado de nerd pelos amigos, ele garante que tem outros interesses e gosta de se divertir e ir a festas - mas admite que não tem muito tempo livre.