Por um Grammy mais universal

Premiação, que tem histórico de pouca diversidade e muita injustiça entre os vencedores, não terá pela primeira vez homens brancos entre os indicados a disco do ano

por Alexandre Bazzan, publicado em 28.01.2018


O 60º Grammy, que acontece neste domingo, tem entre as curiosidades um ineditismo um pouco constrangedor. Pela primeira vez na história, a categoria de disco do ano não terá um homem branco concorrendo. Foram 59 edições desde 1959 e em apenas 20 oportunidades o prêmio foi vencido por uma mulher. Stevie Wonder foi o primeiro artista negro a levar a principal categoria com Innervisions, isso 16 anos após a primeira cerimônia. Ele ainda conquistaria mais dois gramofones com Fulfillingness' First Finale e Songs in the Key of Life. Ao todo, os negros ganharam 12 vezes. As mulheres negras saíram vitoriosas apenas três vezes. A última vez que uma mulher negra venceu foi em 1999, há 18 anos. Mesmo com a maior diversidade em 2018, esse hiato vai ser ampliado por mais um ano, já que a única mulher indicada, Lorde, é branca.

Os indicados de 2018
Childish Gambino
Awaken, My Love!
Kendrick Lamar
DAMN
Jay-z
4:44
Lorde
Melodrama
Bruno Mars
24k Magic

Homens brancos ganharam o disco do ano em 34 ocasiões e somente em uma delas um artista gay foi agraciado: George Michael, em 1989. Mesmo assim, o britânico só abordou publicamente sua sexualidade quase 10 anos após vencer o prêmio.

Quando se trata de nacionalidade, os americanos dominam com 42 troféus. Artistas de países que não têm o inglês como língua materna venceram apenas duas vezes. João Gilberto dividiu o prêmio com o estadunidense Stan Getz, em 1965, e o Daft Punk, que tem músicas em inglês apesar de ser da França, levou em 2014. Santana conseguiu um gramofone em 2000, mas o guitarrista de origem mexicana tem toda sua história nos EUA e contou com a colaboração de cantores americanos. Atualmente, existe o Grammy Latino, mas ele foi criado apenas em 2000.

Com oito indicações, Jay-Z lidera a disputa em 2018 seguido por Kendrick Lamar, que concorre a sete gramofones. Bruno Mars tem seis nomeações e Childish Gambino, projeto do ator Donald Glover, tem cinco. Os artistas nacionais estão representados na categoria World Music pelo grupo Trio Brasileiro, que acompanha a israelense Anat Cohen no disco Rosa dos Ventos.

A noite, porém, traz a oportunidade de o Grammy desfazer injustiças recentes. Uma delas seria eleger DAMN. de Lamar, que concorre com Jay-Z, Childish Gambino, Bruno Mars e Lorde, como disco do ano. Em 2015, o rapper e o seu To Pimp a Butterfly foram preteridos em favor de Taylor Swift. Essa, aliás, não foi a única derrapada da academia de gravações. A maior premiação da música já elegeu o Milli Vanilli, dupla que não cantava as próprias músicas e foi desmascarada posteriormente, como melhor artista estreante e nunca reconheceu ícones como Jimi Hendrix, Bob Marley e Chuck Berry.

Shows. A diversidade este ano também se estende aos palcos da cerimônia. Além de figuras carimbadas como U2, Lady Gaga, Rihanna, Kendrick Lamar e Elton John, a cerimônia terá os estreantes Childish Gambino e a dupla que ficou famosa com o hit Despacito, Luis Fonsi e Daddy Yankee. O Grammy ainda deve lembrar as vítimas do atentado de Las Vegas em outubro do ano passado, que deixou 58 mortos. Eric Church, Maren Morris e Brothers Armstrong, que tocaram no festival de country onde ocorreu o ataque, subirão ao palco para as homenagens.

A cerimônia será transmitida no Brasil pelo canal TNT e a TNT GO, via streaming, à partir das 22h30, horário de Brasília.