Clima em transformação

Países lançam metas para combater o aquecimento global, mas ainda deixam o planeta no rumo de a temperatura subir pelo menos 3,5°C

por Giovana Girardi

As mudanças climáticas já estão afetando o mundo inteiro e tendem a piorar ao longo das próximas décadas se nada for feito para combatê-las. Na tentativa de evitar que isso aconteça, todos os países terão de fechar um acordo na Conferência do Clima da ONU, que será realizada em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro, para reduzir as emissões dos chamados gases de efeito estufa    Videográfico: Entenda o efeito estufa.

Videográfico: Entenda o efeito estufa

O objetivo é conter o aumento da temperatura média do planeta a no máximo 2°C até 2100, em relação aos valores pré-Revolução Industrial. De 1850 para cá, o clima já aqueceu, em média, 0,85°C. Os tais 2°C são o aquecimento valor considerado seguro por cientistas para evitar as mudanças mais dramáticas do clima.

Países desenvolvidos e em desenvolvimento apresentaram ao longo deste ano as chamadas INDCs, conjunto de compromissos que os países dizem ser capazes de adotar para colaborar com esse processo. Em parceria com pesquisadores do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), compilamos aqui as metas apresentadas pelas nações responsáveis pela maior parte das emissões do planeta. Somadas, porém, elas ainda são pouco ambiciosas e colocam o mundo no trilho de aquecer cerca de 3,5°C até o final do século.

 Gráfico: Planeta em aquecimento
Planeta em Aquecimento
valores em °c

Como a temperatura média do planeta variou em mais de um século

Emissões galopantes

Para entender o que isso significa, compare quanto cada país contribui hoje para a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, quanto eles se comprometem a reduzir até 2030 e qual seria o valor ideal global para controlar o aumento da temperatura.

2010

Emissões atuais

Hoje todos os países juntos emitem cerca de 49 Gt (Gigatoneladas) de gases de efeito estufa por ano (estimativa para 2010), de acordo com o IPCC (o painel de cientistas da ONU)

Antonio Cruz / Agência Brasil

O gás carbônico (CO₂) – o principal gás causador do aquecimento global – demora até mil anos para sair da atmosfera. Sua concentração atual, de cerca de 400 ppm (partes por milhão), é a maior dos últimos 800 mil anos. Veja como cada país colabora com isso, de acordo com dados da base Edgar (Emissions Database for Global Atmospheric Research). Para o Brasil, usamos a estimativa de emissões do Ministério da Ciência e Tecnologia.

 Gráfico: Emissões Galopantes
Emissões Galopantes
valores em partes por milhão (ppm)

Concentração de CO₂ cresceu 25% em 50 anos e é a maior dos últimos 800 mil anos

Planeta em aquecimento
Emissões de CO2
Valores em gigatoneladas de CO2-equivalente para 2010

Quanto cada país emite hoje

2030

Metas dos países

Cento e vinte países apresentaram um conjunto de medidas que eles podem adotar pelos próximos anos para reduzir suas emissões. Apresentamos no próximo quadro as metas de 53 deles mais a União Europeia (que representa 28 países). Juntos eles representam 80% do total emitido hoje no mundo. Se essas propostas foram cumpridas, em 2030 o mundo terá uma emissão de no mínimo 23 Gt, podendo chegar aos mesmos 49 Gt de CO₂-equivalente

Fabian Andres Cambero / Reuters

As emissões da China e da Índia são o grande mistério para estimar esse número. Hoje o maior emissor mundial, a China somente indicou que vai alcançar seu pico de emissões em 2030, sem trazer nenhum indicativo numérico de quanto vai ser isso. A Índia também não trouxe uma meta concreta. Mas considerando estimativas de crescimento para os dois países, o valor global de emissões poderia ficar próximo dos atuais 49 Gt, mesmo com as outras nações diminuindo suas emissões. Clique nas bolinhas de China e Índia para entender como isso pode acontecer.

Emissões de CO2
Valores em gigatoneladas de CO2-equivalente para 2030

Quanto cada país se compromete a emitir no futuro

cenário
ideal

De acordo com o IPCC, para evitar o pior cenário, o mundo só pode emitir, entre 2012 e 2100, mil gigatoneladas (Gt) de CO₂ - é o chamado “orçamento de carbono”

Werther Santana / Estadão

Numa distribuição igualitária ao longo do tempo, isso significa que podemos emitir no máximo 11,3 Gt CO₂ por ano até lá. Considerando as metas apresentadas pelos países, em 2030 o mundo estará emitindo pelo menos o dobro ou até o triplo disso. Desse modo, a partir daquele ano os países terão de fazer uma redução brusca de emissões para segurar o aumento da temperatura. O orçamento não é flexível e se o planeta entrar no “cheque especial”, terá de fazer um esforço muito maior para resolver o problema.

Dida Sampaio / Estadão

Emissões de CO2
Valor em gigatoneladas de CO2-equivalente para o cenário ideal

Até 2100 o mundo poderia emitir até 11,3 Gt CO2-e por ano

Veja algumas possibilidades:
  • Zerar as emissões até 2050 e ficar no chamado zero líquido (tudo o que é emitido é absorvido de algum modo, seja por florestas ou por captura e armazenamento de carbono).
  • Reduzir 70% até 2050 e zerar até 2070; nesses termos teríamos de chegar em 2100 com emissões líquidas negativas (absorver mais do que emitir) de 20 a 25 GtCO₂e/ano, o que é considerado difícil, mas ainda possível.
  • Reduzir apenas 40% até 2050; isso demandaria ter emissões negativas de 40 a 50GtCOe2/ano no final do século. O que não é viável.
possíveis
impactos

Um mundo 3,5°C mais quente. Estudo feito pela ONG Climate Interactive com a Escola Sloan de Administração do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) calculou que as propostas apresentadas pelos países colocam o mundo a caminho de um aumento da temperatura média de 3,5°C, com um intervalo de incerteza entre 2,1 a 4,6°C. Uma temperatura de cerca 3,5°C fica dentro das estimativas do pior cenário previsto pelo IPCC.

Luis Moura / Estadão

  • Nível do mar: pode subir entre 0,5 metro a quase 1 metro.
  • Chuvas: Nas regiões subtropicais secas, é provável que a precipitação média diminua, enquanto nas regiões dessa faixa que são úmidas é provável ocorrer um aumento das chuvas. Eventos de chuva extrema sobre a maior parte das porções terrestres de média latitude e sobre as regiões tropicais úmidas muito provavelmente ficarão ainda mais intensos e frequentes.

Arquivo Estado

  • Ártico: A perda do gelo no verão pode chegar a 94%.
  • Impactos: Risco de abrupto e irreversível impacto nos ecossistemas, com extinção substancial de espécies, aumento significativo de eventos climáticos extremos; grande risco à segurança alimentar por conta de perda de produções agrícolas, dificuldade de acesso à comida e instabilidade dos preços.

Shawn Harper / University of Wyoming

Expediente
  • Reportagem e ediçãoGiovana Girardi
  • PesquisaMariano Cenamo, Pedro Soares & Isabele Goulart, do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam)
  • RevisãoMarco Carvalho
  • Direção de arteFabio Sales
  • VideografiaMarcos Muller & William Mariotto
  • Visualização de dadosCarlos Marin
  • WebdesignCarlos Marin, Caroline Rozendo, Renan Kikuche, Tiago Henrique & Vinicius Sueiro
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Valores em gigatoneladas de CO2-equivalente para 2010

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