Política

O que os candidatos à Presidência pensam sobre educação:
– Ciro Gomes (PDT)

O Estado de S. Paulo
10 Agosto 2018

Foto: Helvio Romero/Estadão

O candidato defende rever a emenda que criou um teto de gastos públicos e expandir projetos do Ceará para o País

Texto: Renata Cafardo,
Luiz Fernando Toledo
Design: Bruno Ponceano
Desenvolvimento: Ariel Tonglet

Quais os principais problemas da educação hoje no Brasil?

Ciro Gomes
O financiamento foi agravado pela Emenda Constitucional 95, que congelou os gastos com saúde e educação. Isso precisa ser revisto para que possamos expandir a rede educacional e aumentar os investimentos. É preciso também reformular o currículo, oferecer conteúdos mais aprofundados, para o aluno pensar criticamente. Também ampliar o acesso na educação infantil, ensino médio e superior.

A Emenda Constitucional 95, enviada por Michel Temer e aprovada pelo Congresso, criou um teto para o gasto público que durará 20 anos. As despesas dos órgãos federais passaram a ter um limite que não pode ultrapassar a inflação do ano anterior.

A inclusão da educação e da saúde foi criticada por parte da sociedade. Segundo o governo, a medida era necessária para garantir o reequilíbrio das contas do País.

O Plano Nacional de Educação pede aumento de gastos. Concorda que é preciso mais dinheiro para a área?

Ciro Gomes
O teto de gastos foi uma medida absurda desse governo golpista, não existe nada parecido em nenhum lugar do mundo. Essa emenda precisa ser imediatamente revista para que possamos cumprir as metas do Plano Nacional de Educação. Muitas delas já estão atrasadas, mas com mais recursos e com o esforço de toda a comunidade escolar, poderemos virar esse jogo.

O Plano Nacional de Educação foi aprovado sem vetos em junho de 2014 pela ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT).

Entre as metas, está o aumento do investimento em educação para 10% do PIB e a erradicação do analfabetismo.

Fonte: Inep

O que acha do movimento Escola sem Partido?

Ciro Gomes
O que precisa ser preservado na relação professor-aluno é a liberdade de cada um. Não se pode partir do pressuposto equivocado de que os alunos são incapazes de ouvir criticamente as informações repassadas em sala de aula. Isso é tão estúpido que desconsidera que as informações estão disponíveis na internet, por exemplo.

O movimento Escola Sem Partido defende a neutralidade do ensino. É contra que se discuta questões de sexualidade, moral ou religião em sala de aula.

Há um projeto em discussão no Congresso Nacional sobre o assunto. Seus críticos dizem que ele é antidemocrático e fere a liberdade do professor.

“Devemos fazer uma grande formação dos professores e respeitar a pluralidade” – Ciro Gomes

Foto: Helvio Romero/Estadão

O que acha de programas como Fies e ProUni?

Ciro Gomes
Precisamos aperfeiçoar os programas que ampliam o acesso ao ensino superior, garantindo maior controle na qualidade e ampliando os recursos. É necessário, ainda, ampliar a oferta de vagas nas universidades públicas.

O Financiamento Estudantil (Fies) foi uma das apostas do governo Dilma Rousseff (PT) para aumentar as matrículas no ensino superior, por meio de contratos a juros baixos para quem estuda em universidades privadas.

O programa vem sendo mudado por causa do grande número de alunos inadimplentes. Já o ProUni oferece bolsas de estudo integrais e parciais (50%) em instituições privadas de ensino superior para graduação.

Considera algum tipo de privatização no ensino público (básico ou superior, ainda que parcial)?

Ciro Gomes
Não podemos considerar isso, até porque ainda temos problemas básicos na educação a serem solucionados.

Acredita que deve haver cobrança de mensalidade em universidades públicas para quem tem renda alta?

Ciro Gomes
A classe média é crescentemente onerada com serviços de educação pelo desmantelo dos serviços públicos. Ela só encontra algum alívio no ensino superior. O que precisa ser melhorada é a qualidade do ensino básico público, garantindo que os alunos possam realizar o Enem em condições de igualdade.

O governo federal deve se responsabilizar mais pela falta de creches nos municípios?

Ciro Gomes
Estamos estudando os números de déficit de vagas na educação infantil e já temos a previsão de ajudar Estados e Municípios a abrirem e custearem 300 mil novas vagas de creches e mais 440 mil vagas no ensino infantil nos próximos oito anos.

Fonte: IBGE

O que faria para melhorar a qualidade do ensino nas escolas e reduzir as desigualdades?

Ciro Gomes
Expandir a rede e assegurar um ensino atrativo, em tempo integral, em que o aluno se sinta feliz na escola. O caso do Ceará é exemplar. Precisamos replicar para o País essa experiência exitosa. Hoje, das 100 escolas públicas do ensino fundamental com maior Ideb do País, 77 estão no Ceará.

O Ideb do ensino médio, no entanto, não atingiu à meta estipulada para 2015

*Foram consideradas também as 8 escolas seguintes à 100ª devido a empate de nota
Fonte: Ideb 2015/Inep

Vídeo: Canal Roda Viva no YouTube

O que faria em relação à política salarial dos professores?

Ciro Gomes
Deve haver um esforço nacional de melhoria efetiva dos salários dos professores. A União deve ter maior participação nessa conta junto aos Estados e municípios.

O piso salarial nacional do professor é de R$ 2.455.

Qual será a prioridade do governo federal: educação básica ou ensino superior?

Ciro Gomes
Precisamos investir maciçamente na expansão da rede da educação básica para garantir mais acesso e ampliar os investimentos em ciência e tecnologia. O Brasil tem um Plano Nacional de Educação, em que existem metas de igualdade de acesso para o ensino básico e o ensino superior.

O Ministério da Educação tem como principal atribuição a criação de políticas nacionais de educação, avaliações e pesquisa, mas não administra escolas diretamente. Elas ficam sob responsabilidade de Estados e municípios.

Diretor de arte: Fabio Sales / Editora de infografia: Regina Elisabeth / Editor assistente de infografia: Vinicius Sueiro