O Brasil tem uma taxa de desocupação entre 5% e 7,1%. Isso pode sugerir que vivemos uma situação na qual todos que procuram trabalho conseguem encontrar. No entanto, a realidade não corresponde aos números divulgados. Para os jovens com 18 a 24 anos, por exemplo, o índice sobe para 13%.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), pleno emprego é a situação em que o número de vagas oferecidas é próximo à quantidade de pessoas que procuram trabalho. O conceito também inclui boas condições de trabalho, como carteira assinada, jornada e remuneração justas, além de utilizar o máximo da capacidade produtiva do País.
Em tempos de baixo crescimento da economia, o atual índice de desocupados é atribuído, em parte, à forte expansão do setor de serviços, que inclui o comércio e engloba desde quem trabalha em bancos até taxistas. O problema é que as pessoas empregadas nessas vagas têm salários baixos, pouca produtividade e alta rotatividade.
Dizer que o desemprego diminuiu ou que há menos pessoas desocupadas não basta para afirmar que estamos no pleno emprego. Segundo o economista Gabriel Ulyssea, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não é possível avaliar a situação sem considerar o número de brasileiros que deixaram de procurar uma ocupação. "Se esse contingente tivesse ficado no mercado de trabalho, possivelmente nós teríamos uma taxa de desemprego maior", diz.
O que se tem observado nos últimos anos é uma mudança no perfil da economia brasileira. Se antes a indústria era atrativa por contratar mais pessoas, agora é o setor de serviços que se destaca, contando com maior participação no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (69,4% em 2013).
Para Jorge Arbache, economista do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), o modelo baseado na expansão do emprego no setor de comércio e serviços é muito particular da economia brasileira e sua no PIB é maior quando comparada a outros países. Mas o economista pondera que o porcentual elevado é resultado do alto valor cobrado pelos serviços no País e não pelo ganho de produtividade.
A quantidade de vagas oferecidas não vem necessariamente alinhada à qualidade. Segundo o economista João Sabóia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a maioria das pessoas contratadas nos últimos anos se concentrou em vagas que pagam mal em que o trabalhador produz pouco. Para ele, a situação é perfeitamente compatível com o cenário atual de baixo crescimento.
Uma das consequências da baixa taxa de desocupação é o aumento da rotatividade causada pela vasta oferta de vagas. O entra e sai nos postos de trabalho dificulta o investimento do próprio funcionário em qualificação, principalmente entre os jovens. Isso tem um grande impacto na produtividade e no crescimento da economia.
Segundo a coordenadora executiva do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patricia Pelatieri, "não se consegue nunca dar o salto de qualidade necessário, já que (a rotatividade) mantém os trabalhadores sempre em suspensão." Para ela, no entanto, é natural haver dinamismo na troca de emprego quando o mercado está aquecido.
A rotatividade de emprego passou de 52% para 64% entre 2003 e 2012, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Para o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, essa alta taxa tem relação direta com a falta de ganho de produtividade no País.