Rotogravura, o ‘Instagram’ dos anos 30

Edmundo Leite

Fotos de família, turma de amigos, bebês fofinhos, animais, astros do cinema, celebridades, retratos, competições esportivas, festas públicas e particulares, belas paisagens, grandes acontecimentos, lugares exóticos e pitorescos do Brasil e do mundo. Tudo em alta resolução, com belo acabamento e colaboração de leitores enviando imagens. Parece o Instagram, a rede social que faz sucesso nos smartphones, mas era uma publicação em papel.

  • Capa do 'Supplemento em Rotogravura' de novembro de 1935 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Página de 1937 mostrando como era feito o 'Supplemento em Rotogravura' (ACERVO/ESTADÃO)

  • Página do 'Supplemento em Rotogravura' falando dos problemas de trânsito da cidade em 1937 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Capa do 'Supplemento em Rotogravura' 135, de maio de 1939 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Capa do 'Supplemento em Rotogravura' de novembro de 1939 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Estádio do Pacaembu prestes a ser imaugurado na capa do número 156 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Catedral da Sé em construção na capa de 14 de fevereiro de 1933 (ACERVO/ESTADÃO)

  • O então recém-inaugurado Mercado Municipal na edição de 14 de fevereiro de 1933 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Convento do Carmo na edição de 30 de abril de 1934 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Corsos do carnaval de 1934 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Crianças fantasiadas para o carnaval de 1934 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Baile com foliões fantasiados de crianças no Clube Hippica em 1934 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Exposição canina na década de 1930 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Avenida 9 de Julho na década de 1930 (ACERVO/ESTADÃO)

  • Corrida de automóveis na Avenida Brasil em 1936 (ACERVO/ESTADÃO)

De 1928 a 1943, o Suplemento em Rotogravura do Estadão foi uma grande janela para o mundo. Ao contrário das edições diárias do jornal, que por limitações técnicas não podiam publicar fotos com boa qualidade, o caderno privilegiava imagens, com alguns textos de apoio. Com formato de revista e circulação semanal, dava aos leitores uma experiência visual numa época em que as câmaras fotográficas começavam a deixar os tripés para se tornar portáteis.

Apresentado inicialmente como duas páginas encartadas na edição regular do Estado no fim dos anos 20, o Rotogravura se tornou suplemento avulso na década seguinte. E era fruto de um grande investimento do jornal na modernização de seu parque gráfico, com a aquisição do mais moderno maquinário disponível na época, importado da Europa.

“A illustração em rotogravura sobre cylindros de cobre, só ella, apresentava tais empecilhos que faziam desconfiar fosse a promessa uma pilheria ou uma ingenuidade”, explicou Luigi Giusti, chefe da oficina de gravura do jornal em 1929, quando anunciava a chegada de uma “possante machina de rotogravura”, da Casa Marinoni, que aumentaria, um ano depois do lançamento da seção, a capacidade para uma edição de oito páginas.

As minúcias do equipamento exigiam uma equipe à parte para a preparação e impressão das páginas. As máquinas eram tão delicadas que “a simples variação atmospherica da manhan para a tarde” era motivo para um complicado reajustamento de cilindros.

Para além das inovações gráficas e tecnológicas, o Suplemento em Rotogravura também adotava uma moderna linguagem editorial. Interativo, publicava, além do material próprio e de agências internacionais, imagens enviadas pelos leitores, que registravam cenas e lugares de vários lugares da cidade, do País e do mundo. Mas não se tratava de um mero álbum aleatório de fotografias. Com edições temáticas, aprofundava assuntos, mostrando detalhes da vida cotidiana, de processos industriais, do esporte e do lazer. Mesmo com a leveza dos principais temas, o caderno não deixava o lado informativo, dedicando-se a documentar as guerras e revoluções do período.

Mas foi no carnaval que o suplemento teve seu apogeu. Em seus 15 anos de circulação, a época dos bailes, corsos, desfiles, festas de clubes e escolhas de rainha rendeu as melhores capas e páginas da publicação.

É COORDENADOR DO ACERVO ESTADÃO