Fotos de família, turma de amigos, bebês fofinhos, animais, astros do cinema, celebridades, retratos, competições esportivas, festas públicas e particulares, belas paisagens, grandes acontecimentos, lugares exóticos e pitorescos do Brasil e do mundo. Tudo em alta resolução, com belo acabamento e colaboração de leitores enviando imagens. Parece o Instagram, a rede social que faz sucesso nos smartphones, mas era uma publicação em papel.
De 1928 a 1943, o Suplemento em Rotogravura do Estadão foi uma grande janela para o mundo. Ao contrário das edições diárias do jornal, que por limitações técnicas não podiam publicar fotos com boa qualidade, o caderno privilegiava imagens, com alguns textos de apoio. Com formato de revista e circulação semanal, dava aos leitores uma experiência visual numa época em que as câmaras fotográficas começavam a deixar os tripés para se tornar portáteis.
Apresentado inicialmente como duas páginas encartadas na edição regular do Estado no fim dos anos 20, o Rotogravura se tornou suplemento avulso na década seguinte. E era fruto de um grande investimento do jornal na modernização de seu parque gráfico, com a aquisição do mais moderno maquinário disponível na época, importado da Europa.
“A illustração em rotogravura sobre cylindros de cobre, só ella, apresentava tais empecilhos que faziam desconfiar fosse a promessa uma pilheria ou uma ingenuidade”, explicou Luigi Giusti, chefe da oficina de gravura do jornal em 1929, quando anunciava a chegada de uma “possante machina de rotogravura”, da Casa Marinoni, que aumentaria, um ano depois do lançamento da seção, a capacidade para uma edição de oito páginas.
As minúcias do equipamento exigiam uma equipe à parte para a preparação e impressão das páginas. As máquinas eram tão delicadas que “a simples variação atmospherica da manhan para a tarde” era motivo para um complicado reajustamento de cilindros.
Para além das inovações gráficas e tecnológicas, o Suplemento em Rotogravura também adotava uma moderna linguagem editorial. Interativo, publicava, além do material próprio e de agências internacionais, imagens enviadas pelos leitores, que registravam cenas e lugares de vários lugares da cidade, do País e do mundo. Mas não se tratava de um mero álbum aleatório de fotografias. Com edições temáticas, aprofundava assuntos, mostrando detalhes da vida cotidiana, de processos industriais, do esporte e do lazer. Mesmo com a leveza dos principais temas, o caderno não deixava o lado informativo, dedicando-se a documentar as guerras e revoluções do período.
Mas foi no carnaval que o suplemento teve seu apogeu. Em seus 15 anos de circulação, a época dos bailes, corsos, desfiles, festas de clubes e escolhas de rainha rendeu as melhores capas e páginas da publicação.