O que 15 mil tweets revelam sobre seu candidato

Divulgação de obras. O candidato tucano, Geraldo Alckmin, que renunciou ao governo de São Paulo para concorrer ao Planalto, enfatiza no Twitter seu trabalho no Palácio dos Bandeirantes.

"Entregamos" é, de longe, a palavra mais característica do ex-governador. Ele costuma divulgar as obras que o governo paulista concluiu recentemente.

Termos relativos ao pleito de outubro são raros. O tucano pouco fala em candidatos, em eleições ou na Presidência.

Na parte de baixo do gráfico, acumulam-se referências a outros políticos. Alckmin não deu destaque para os nomes de Dilma, Lula ou Michel Temer, por exemplo.

O nome da vereadora carioca assassinada em 14 de março, Marielle Franco, também está entre as palavras usadas menos por Alckmin do que pelos demais candidatos.

O mais ativo. O senador Álvaro Dias (PODE) não esconde suas raízes políticas no Paraná e tem um discurso marcado pela postura moralista. Ele foi o candidato que mais publicou no Twitter durante o período analisado, diferenciando-se por enfatizar temas de seu estado, escândalos de corrupção e críticas ao funcionamento do jogo político.

A palavra mais características de Dias é "balcão", consequência de um bordão que repete com frequência. De acordo com ele, a política brasileira é, hoje, um balcão de negócios.

A crítica se estende ao foro privilegiado para políticos eleitos. Ele também defende a prisão após condenação em segunda instância como medida contra a impunidade.

O discurso anticorrupção, especialmente o relativo aos escândalos protagonizados pelo PT, aparece no alto. O paranaense é o candidato que mais fala de "mensalão", "petrolão" e também da operação Lava Jato.

O Paraná, estado que lhe deu 77% dos votos na disputa pelo Senado em 2014 é outro tema frequente. Além de falar dos "paranaenses", Dias menciona algumas das principais cidades do estado.

Na ponta inferior do gráfico, onde estão as palavras pouco características, aparecem termos relacionados à economia, como "mercado" e "PIB".

No ataque. Jair Bolsonaro, do PSL, tem uma carreira política marcada pela controvérsia e por declarações polêmicas. No Twitter, não é diferente.

Dois dos termos que o político do PSL mais usa são adjetivos agressivos. Adversários são chamados de "canalhas"...

...e a palavra "vagabundos" é reservada para criminosos.

Bolsonaro também se caracteriza por questionar a integridade do processo eleitoral quando fala sobre supostas fraudes em urnas eletrônicas. Ele defende com frequência a adoção do voto impresso. O pré-candidato fala também de uma empresa contratada pelo TSE que, segundo ele, está envolvida em suspeitas.

O campo à esquerda também costuma aparecer nos tweets do militar da reserva, e de maneira pouco amistosa. Ele cita com frequência maior que os demais presidenciáveis termos como “PSOL”, “MST” ou “comunista”. Por vezes, a ideologia é vinculada ao terrorismo.

Entre os temas menos comuns de seu discurso estão palavras como "reforma" e "previdência". Quando Bolsonaro falou de reforma, aliás, aproveitou para cutucar a esquerda. De acordo com ele, a melhor reforma econômica para o país seria romper relações com governos vinculados a esse campo ideológico.

Nas universidades. Ciro Gomes é, entre os políticos com resultados relevantes nas pesquisas de intenção de voto, o que menos usou o Twitter. Foram apenas 275 publicações até o fechamento do material. Isso explica o gráfico magro, já que ele acumulou um número menor de palavras.

Ciro tem dado preferência a universidades e eventos acadêmicos em sua pré-campanha. Essa ênfase aparece também em seu discurso. Ele cita as universidades inglesas “Sussex” e “Oxford”, além da brasileira “FAAP”. Países que o pedetista visitou nessa turnê por diversas faculdades também aparecem com destaque.

Além de fazer referências ao mundo universitário, ele coloca-se como um debatedor: termos como "auditório", "discutirmos" e "debates" ocorrem com destaque.

Já entre as palavras pouco características de Ciro, vemos referências a Lula. Em seu discurso, de fato, o pedetista tenta se desvincular do ex-presidente preso e do PT. Ele o mencionou apenas para repudiar os tiros contra a caravana do candidato pelo sul do Brasil. Em momento algum entra abertamente na campanha pela libertação do ex-presidente.

Ciro também fala pouco sobre temas diretamente relacionados às eleições. Há pouco uso de palavras como "crise", "partido" ou "política".

Lacônico. Como indica o gráfico magro, Fernando Collor (PTC) pouco usa o Twitter. Ele publicou apenas 29 vezes no período de análise. É, entre os pré-candidatos analisados, o menos ativo.

Palavras relacionadas a uma agenda com países estrangeiros, em especial o mundo árabe, aparecem no topo das mais típicas do senador e ex-presidente. Marrocos é sua palavra mais típica.

Apesar das ambições internacionais, ele não esquece de onde veio. Seu estado de origem, o Alagoas, também aparece no topo das menções.

Militante. Os tweets de Guilherme Boulos (PSOL) revelam mais sobre sua atuação como líder de um movimento de moradia (MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) do que como pré-candidato à Presidência da República.

Seu vocabulário inclui “ocupação” e “despejo”, além do seu termo favorito: “MTST”.

A indignação com o assassinato ainda não esclarecido da vereadora Marielle Franco (PSOL) no Rio de Janeiro, também aparece nos tweets. “Marielle” e “assassinada” são termos que se destacam, juntamente com “Anderson”, nome do motorista da vereadora, também morto.

Há também uma série de palavras relacionadas ao movimento que pretendia resistir a prisão do ex-presidente Lula, quando defensores do petista cercaram o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Boulos esteve presente no episódio e mostrou-se um defensor leal do petista. Foi, inclusive, elogiado no discurso feito pelo antigo sindicalista.

No grupo das palavras pouco representativas de Boulos, encontram-se temas como “segurança”, “emprego” e “educação”.

Curiosamente, a palavra menos característica de todas é “PT”: o pré-candidato do PSOL associa-se a Lula e o defende abertamente, mas sem citar o nome da legenda.

Rival de Doria. Fernando Haddad, cuja carreira política sempre esteve ligada a Lula, evita se colocar abertamente como pré-candidato. O PT insiste que o único plano para a eleição é o nome do ex-presidente, de quem Haddad foi ministro. Entretanto, já se cogita um "plano B" e Haddad pode fazer parte dele, seja como candidato à Presidência ou a vice de algum político de fora das fileiras petistas.

Tanto "Doria" como "Dória" – a última grafada com um acento inexistente – estão entre as principais palavras de Haddad, que perdeu a prefeitura de São Paulo para o tucano em 2016. Ele também fala bastante sobre o ENEM, que foi ampliado quando era ministro da educação no governo de Lula. Aliás, "Lula" é uma palavra pouco característica do ex-prefeito.

Pode parecer que ele se importa pouco com Lula, mas essa estatística começou a mudar desde que o líder petista foi condenado. Haddad fala abertamente em defesa do ex-presidente. Esteve, inclusive, nos atos que antecederam a prisão no Sindicato dos Metalúrigos do ABC. Dos 15 tweets em que mencionou o padrinho político, seis foram publicados depois que Lula se entregou para a Polícia Federal.

Jargão de economista. Ao ler os tweets de Henrique Meirelles (MDB), seu perfil salta aos olhos: técnico, com crédito entre as principais figuras do mercado, o Ministro da Fazenda abusa do jargão econômico. É esse conhecimento que ele pretende demonstrar para se gabaritar como o pré-candidato capaz de driblar a recessão.

Ele quer ser presidente, mas não fala disso. Mesmo que tenha trocado de partido e deixado o Ministério da Fazenda para se dedicar a articulação de sua pré-candidatura, ele evita falar de Brasília, das eleições ou da Presidência.

Temer era o chefe do economista até o final de março, mas não parece estar em alta com o antigo ministro. Seu nome é a palavra menos típica de Meirelles. O presidente foi citado duas vezes, em tweets que divulgavam a inauguração de uma obra e uma conversa com jornalistas.

Ênfase local. Jaques Wagner, ex-governador da Bahia pelo PT, não se coloca oficialmente como pré-candidato. Ele segue o discurso de seu partido, que mantém Lula, mesmo condenado e preso, como único nome para a disputa eleitoral. Porém, nos bastidores, ele é cotado como uma possível segunda opção, seja como cabeça de chapa ou parte de uma aliança.

Ele tweeta muito sobre o estado em que fez carreira política. "Bahia" e "baiano" são seus termos mais característicos. Assim como Haddad, ele também fala pouco de Lula. Quando o faz, usa mais o nome de usuário do ex-presidente no Twitter, "lulapelobrasil".

A posição de Lula, lá embaixo no gráfico, surpreende. Entretanto, é uma tendência que começa a se inverter. No intervalo de 15 dias entre a prisão de Lula e o final da análise, Wagner mencinou "Lula" ou "lulapelobrasil" em 46 tweets. Nos 15 dias anteriores, foram 31. O número aumentou quase 50%.

Liberalismo. João Amoedo é o pré-candidato do Partido Novo, legenda registrada em 2015 e que defende uma agenda econômica liberal. Seu comportamento no Twitter reflete valores desse espectro ideológico.

Entre suas palavras mais características está “indivíduo”, sempre usada em um contexto que exalta o empreendedorismo e critica a interferência do estado na vida econômica.

Seu discurso enfatiza a necessidade de desburocratizar o funcionamento da máquina estatal. Nesse afã, o pré-candidato fala até de criptomoedas - ou seja, de tecnologias monetárias do mesmo tipo que o Bitcoin. Ele as saúda como uma maneira de “devolver o poder ao cidadão”.

Entre as palavras menos características de Amoedo estão termos como “social”, “esquerda” e “luta”. Ele também fala pouco de investimentos: de acordo com ele, a reforma da previdência é condição necessária para que sobre dinheiro e para que o país possa voltar a gastar. “Mulheres”, porém, é sua palavra de menor destaque. Foi usada apenas uma vez, em um tweet publicado no Dia Internacional da Mulher.

Nem veio e já foi. Joaquim Barbosa publicou apenas uma vez na rede social durante o período de análise. No Twitter, ele avisou que havia postado uma nota em seu perfil pessoal no Facebook, sem o link. Nela, revelava ter se filiado ao PSB.

Mesmo lacônico, o ex-ministro do Supremo Tribubal Federal (STF) figurava entre os nomes mais fortes nas pesquisas de intenção de voto. Entretanto, ele rompeu o silêncio no dia 8 de Maio para anunciar que não vai mais concorrer.

Na defesa. Não há grandes diferenças entre o Lula dos comícios e o Lula do Twitter. Trechos de discursos, frequentemente, eram publicados em tempo real pela equipe que cuida das redes sociais do petista.

No alto, vemos palavras como "inocente" e "tranquilo". Assim como nos palanques, Lula usava o Twitter para tentar demonstrar que está sereno quanto às acusações que acabaram levando-o à prisão.

Entretanto, o nome de seu advogado, Cristiano Zanin, aparece com destaque, especialmente desde que o ex-presidente foi preso. Com a prisão do petista, que afastou os correligionários de seu contato, Zanin tornou-se o principal interlocutor e uma espécie de porta-voz de Lula.

"Pobre", "caravana", "Prouni", "Fies" e "elite" também são palavras recorrentes. Elas estão alinhadas à campanha que Lula fez pelo país, na qual usou um discurso que defendia o legado de seu governo e atribuía as derrotas jurídicas a um suposto rancor da população mais rica.

Ainda mais no topo, vemos "Stuckert". Trata-se do sobrenome do fotógrafo de Lula, citado sempre que a conta do ex-presidente publica uma imagem. Lula fala dele com muita frequência, e os demais pré-candidatos, quase nunca. Por isso, o círculo fica bem acima no gráfico.

A parte inferior reúne palavras pouco representativas do que Lula fala na rede social. São termos que foram mais usados por outros pré-candidatos do que pelo petista.

Em um dos quatro tweets em que Lula usou o termo "segurança", tema considerado central para a eleição, ele questiona se o foco do debate público deve ser realmente esse tópico.

A palavra menos característica de todas, porém, é "privilégios". Foi usada apenas uma vez, para descrever o Brasil pré-governo do PT.

Feminismo. Manuela D'Ávila, do PCdoB, foi a 3ª candidata que mais postou na rede social, atrás apenas de Álvaro Dias (PODE) e Lula. Ela, além de falar sobre seus planos políticos, costuma interagir com os seguidores e convidá-los para eventos e publicações em outros sites.

De tanto agradecer o carinho e os elogios que recebe de seu público, “obrigada” é a palavra mais típica da pré-candidata. Outros termos cordiais aparecem com destaque: "querido" e "querida".

Entretanto, a pré-candidata não é apenas gratidão. Sobram críticas à pessoas e situações que a deputada estadual caracteriza como "fascistas", "racistas" e "machistas".

Sua pauta mais característica, a defesa da igualdade de gênero, é outro tema que aparece de modo relevante no vocabulário. A pré-candidata fala de "feminismo", "lgbts" e "mulheres" mais que os outros postulantes ao Planalto.

Manuela, por outro lado, não embarcou no debate sobre corrupção. "Impunidade" e "corruptos" são palavras que os outros candidatos usam com frequência maior. Até a Lava Jato fica de fora. Ela cita a operação só uma vez, em referência ao título do livro do sociólogo Jessé Souza, “A Elite do Atraso - da escravidão à Lava Jato”.

Fé e floresta. Marina Silva continua destacando temas relativos ao meio ambiente, pauta importante em sua trajetória ligada à militância ecológica. Além disso, ela usa com frequência termos relacionados à religiosidade cristã e não enfatiza alguns dos tópicos mais presentes no debate político atual.

Grande parte das palavras típicas de Marina Silva está relacionada à militância ambientalista. “Floresta”, “sustentável”, “sustentabilidade” estão entre os termos que ela usa mais que os outros postulantes ao Planalto. A ex-senadora é a maior representante da pauta ecológica na corrida presidencial, ao menos no Twitter.

A palavra "apagão", porém, aparece lá no alto por uma questão retórica e não necessariamente por refletir seu programa. Ela usou o termo para falar não só da recente falha energética, mas de uma série de apagões metafóricos.

Também aparecem em posição de destaque referências à religião evangélica da ex-senadora.

Quando fala explicitamente do jogo político, Marina se coloca como uma alternativa à polarização e aos extremismos. Ela ataca pretensos salvadores da pátria.

Na pauta de combate a corrupção, ela critica quem rouba. Mais especificamente, aqueles que, por afinidade ideológica, são coniventes com quem rouba.

No extremo inferior, entre as palavras menos características de Marina, estão "mulher" e "mulheres". Quando o termo foi usado, o tweet condenava o preconceito contra diversas minorias.

Há quase nenhuma referência a "reforma" ou "reformas". Na única vez que usou a palavra no singular, aliás, Marina não falava de reforma da previdência, tributária ou trabalhista: falava do aniversário da Reforma Protestante.

Protocolar. O magro gráfico de Rodrigo Maia reflete como o atual presidente da Câmara dos Deputados usou pouco a rede social no período monitorado. Ele é o pré-candidato à Presidência pelo DEM.

Sua palavra mais típica é “observatório”, usada nas publicações em que menciona o Observatório Legislativo da Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro. Base de Maia, desde o final do Carnaval de 2018 o estado tem suas forças de segurança subordinadas ao general Braga Netto.

Como utiliza o Twitter menos do que outros presidenciáveis, suas publicações têm um perfil mais de divulgação do que de um instrumento de discurso político.

Comentários sobre uma resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) acerca da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e entrevistas dadas por Maia a veículos de imprensa aparecem como palavras típicas deste pré-candidato.

Vitrine do legado. No Twitter, Michel Temer tenta defender seu governo. Ele enfatiza algumas das medidas e reformas que aplicou, embora procure se esquivar de outras.

No topo, entre os termos mais relevantes de Temer, há referências à programas de seu governo. Leilões” é usado para falar sobre a venda das reservas de petróleo do pré-sal para investidores estrangeiros. A reforma curricular do Ensino Médio e a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro também aparecem no alto.

A “marinha” que está no topo de suas palavras típicas não está somente ligada às forças militares que reforçam a segurança no Rio. O destaque também acontece porque o presidente criou grandes áreas de unidades de conservação no Atlântico, em março. Foi a maior realização ambiental de sua gestão até agora.

Em uma conta que é usada principalmente para divulgar mensagens escritas pela assessoria de imprensa do Planalto, abundam eventos e anúncios protocolares de agenda. “Cerimônia” e “assinatura” são termos que aparecem quase sempre lado a lado.

Dois dos principais itens do programa de governo do presidente aparecem no meio do gráfico, o que indica que Temer fala deles com frequência semelhante aos demais pré-candidatos. A reforma trabalhista e a reforma de previdência não estão entre as pautas mais distintivas de seu discurso, ainda que o governo do emedebista seja responsável pela concepção de ambos os projetos.

A última vez que Temer citou a reforma da previdência foi no dia 9 de fevereiro. Exatamente uma semana depois, 16, decretou a intervenção federal no Rio de Janeiro, medida que impede que a reforma ou qualquer outra PEC (proposta de emenda constitucional) seja votada em plenário.