Chardonnay no Brasil


Luiz Horta


Frescor e qualidade

Texto: Marcel Miwa, especial para o Estado
foto: Daniel Teixeira/Estadão
A ideia original desta degustação de chardonnay era focar apenas em amostras da nova denominação de Origem do Vale dos Vinhedos e fazer isto às cegas. No entanto, conforme Luiz Horta disse: "se perdemos em cartesianismo, com este novo painel de chardonnays brasileiros, ganhamos em diversidade e amplitude. Seria um pecado deixar de lado alguns bons chardonnays produzidos em outras regiões brasileiras".

Antes de começar a degustação Luiz Horta traçou algumas características típicas da variedade: aroma sutil, um tanto neutra, normalmente cítrica e nos casos mais nobres, mineral. Pelo lado negativo pode ter excesso de aromas de barricas de carvalho, como baunilha, caramelo, tostados e manteiga, nos moldes dos chardonnays americanos. "Felizmente hoje, no Brasil, os produtores estão buscando o frescor e delicadeza na chardonnay, sem excesso de madeira. Como já disse em outras oportunidades, estamos entendendo que somos muito mais parecidos com a Toscana ou o Loire, que com Mendoza", diz Luiz Horta.

Pizzato Chardonnay 2012 (Vale dos Vinhedos-RS)
Sem estágio em barricas. Cítrico, fresco, limpo e agradável. Boa vocação gastronômica e equilíbrio geral.

Quinta da Neve Chardonnay 2011 (São Joaquim-SC)
6 meses em barricas de carvalho francês. Herbal (grama), pimenta verde, acidez potente, retrata um estilo mais austero. Apenas sutil referência de baunilha.

Lidio Carraro Dadivas Chardonnay 2012 (Serra do Sudeste-RS)
Sem estágio em barrica. Estilo mais tropical, com notas de abacaxi, maçã madura, textura untuosa e final mais quente.

Pizzato Legno Chardonnay 2012 (Vale dos Vinhedos-RS)
8 meses em barricas francesas. Ataque com notas abaunilhadas e tostadas, creme de leite e maçã. Mais cítrico em boca (laranja), sutil untuosidade e baunilha.

Miolo Cuvée Giuseppe Chardonnay 2012 (Vale dos Vinhedos-RS)
8 meses em barricas francesas novas. Nariz discreto, apenas leve baunilha, cítrico e maçã verde. Bom equilíbrio entre acidez, estrutura e madeira, com estilo discreto.

Casa Valduga Chardonnay Leopoldina 2011 (Vale dos Vinhedos-RS)
6 meses em barricas de carvalho romenas e francesas. Elegante, com discreta nota de baunilha, cítrico e maçã, num conjunto bem integrado, onde álcool e acidez trabalham no mesmo nível. Junto com Pizzato Chardonnay (sem madeira) foi uma das amostras preferidas dos ouvintes.

Salton Virtude Chardonnay 2009 (Campanha Gaúcha-RS)
6 meses em barricas, 50% francesas e 50% americanas. Um pouco mais evoluído (normal em função da safra), com coloração dourada e notas de caramelo, amêndoa e maçã seca. Lembra mais o estilo norte-americano, mas muito bem feito, com acidez que não o deixa enjoativo.

O elo em comum é o bom frescor que os vinhos brasileiros possuem. O que levou a um pequeno debate sobre preconceito dos consumidores com o vinho branco e de forma mais incisiva com a palavra acidez. "Embora signifique a mesma coisa, a palavra "frescor" é bem recebida enquanto "acidez" não", disse um dos membros da plateia. Independente dos preconceitos e interpretações o chardonnay brasileiro mostra que existe um caminho para buscar uma identidade original, sem pretensões de parecer com vinhos de outra região. "Não tivemos nenhum vinho que fosse fraco ou desagradável", finalizou Luiz Horta.