Partidos mudam de nome, mas mantêm caciques

Desde 2010, oito legendas nasceram e quatro tiraram “partido” da sigla em troca de palavras de ordem

Por Karina Rivera e Ricardo Magatti

O desgaste da classe política tradicional no Brasil produziu uma onda de rebatismos e criação de siglas partidárias que vão estrear nas eleições de 2018. Na maioria dos casos, entretanto, os políticos que dão as cartas nessas legendas ainda são os mesmos. São conhecidos caciques da política brasileira, como o senador Álvaro Dias, que se filiou ao Podemos (antigo PTN) para disputar as eleições presidenciais no ano que vem, e o ministro Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo e um dos fundadores do Partido Social Democrático (PSD).

No próximo ano, muitas siglas vão se apresentar ao eleitor sem o “p” que representa a palavra partido. Em troca, diversas legendas adotaram palavras de ordem. Como o PTdoB, que virou Avante, ou o PTN, que agora se chama Podemos, ou ainda o PEN, rebatizado como Patriota. Outros apenas excluíram a palavra partido do nome: o PP tornou-se apenas Progressistas e o PSDC espera apenas o registro oficial para ressurgir como Democracia Cristã. Até mesmo o PMDB, uma das legendas mais tradicionais da política brasileira, estuda uma volta ao nome que tinha no período da ditadura militar, Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Em agosto, o presidente do partido, senador Romero Jucá (RR), disse que a legenda poderia voltar ao antigo nome para “ganhar as ruas” e ser uma “força política”. Para especialistas, a mudança de nome pouco representa em termos de novas ideias e representatividade política. “É como se fosse uma empresa mal avaliada que muda de nome para ter outra imagem”, compara o cientista político Tiago Borges, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Três dos cinco partidos que aderiram à mudança – Democracia Cristã, Patriota e Progressistas – aguardam o novo nome ser aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Dos criados desde a eleição de 2010, quatro fugiram do “p”: Novo, Rede e Solidariedade, além do Patriota. Entre os que mantêm a palavra partido no nome estão o PMB, PPL, PROS e PSD. Para o cientista político Ricardo Ismael, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a renomeação dos partidos não significa uma renovação de quadros e ideias.

“Essas alterações nos partidos mudam a embalagem sem alterar o conteúdo para ver se o freguês leva o produto para casa”, afirma Ismael. “A questão é que não existem mudanças de fato no partido, na sua prática, no seu financiamento, na maneira como ele se conduz na política. E é isso que o eleitor, afinal de contas, está desejando hoje.”

O uso da palavra partido nas legendas deixou de ser obrigatório em setembro de 1995, quando a Lei nº 6767, de dezembro de 1979, foi substituída pela Lei nº 9.096. O primeiro caso de partido a abandonar o “p” só ocorreu em 2007, quando o Partido da Frente Liberal (PFL) se transformou em Democratas (DEM), depois de 22 anos com o antigo nome.

O movimento de renomeação das siglas ainda pode ter mais adesões antes das eleições. O Partido Social Liberal (PSL) está em processo de mudança de nome para se tornar Livres. Segundo a sigla, 12 diretórios estaduais do PSL adotaram o Livres: Alagoas, Acre, Amazonas, Ceará, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Roraima, Santa Catarina, Sergipe, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.

Colaboraram Filipe Strazzer, Luiz Fernando Teixeira, Stefano Wrobleski e Thais Ferraz Brunoro