7 a 1

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Abalados

A dependência de Neymar

Robson Morelli

Em um ano, a dependência da seleção a Neymar só fez aumentar. O futebol brasileiro continua na estaca zero e cheio de desconfiança

Quando Neymar levou as mãos às costas naquele 4 de julho de 2014, o Brasil imediatamente colocou as mãos na cabeça. A seleção perdia ali seu melhor jogador, esperança do hexa e certeza de enterrar de vez a maldição de 1950. A jogada do colombiano Zúñiga, que derrubou Neymar e junto com ele um país inteiro, nem falta foi marcada.

O atacante teve a terceira vértebra lombar esquerda fraturada, deixou o gramado do Castelão de maca para não voltar mais. Para muitos, o Brasil perdeu o Mundial ali. Neymar era o cara. Felipão sempre soube disso, mas teve pouco tempo para repensar o time sem sua referência. O rival da semifinal era a Alemanha, candidata ao título desde que pisou no Brasil. Deu no que deu. Sem Neymar, com o grupo abalado, a surra foi doída, com ecos para sempre na história do futebol. "Eu queria muito essa Copa, mas o sonho não acabou", disse Neymar, antes da eliminação do Brasil, na Granja Comary, já de volta de Fortaleza após a contusão. Sua tristeza era do tamanho do País.

Para contar a dependência da seleção ao futebol de Neymar, é preciso voltar quatro anos no tempo. Dunga era o técnico e o Brasil ganhava tudo. Havia Kaká, Robinho, Luis Fabiano, Elano, Grafite e outros que davam ao treinador a certeza de não precisar de um moleque que já dava o que falar na Vila. Na verdade, eram dois: Neymar e Ganso. Eles chamavam a atenção e eram tratados como bons jogadores, mas promessas. Neymar ainda tinha o cabelo sarará. Nem de longe era o craque em que se transformou de um Mundial para o outro.

Neymar é atendido em campo no Castelão

Em 2014, quando apresentou a lista para a Fifa e para a torcida brasileira, Felipão, não pensava numa equipe sem o menino do Santos, que já jogava no Barcelona. Era ele e mais 10, numa condição até diferente das outras Copas. Neymar se transformou no único craque da seleção. Não havia outro como ele. Por isso que quando deixou o campo diante da Colômbia, o Brasil perdeu o fôlego.

Neymar chega ao hospital acompanhado do médico José Luiz Runco

Na abertura da Copa do Mundo, na vitória brasileira de 3 a 1 sobre a Croácia, Maradona já fazia a leitura da importância do atacante. "O Brasil jogou bem, mas teve problemas nas laterais. É um time muito dependente do Neymar. Não é um time imbatível", disse o argentino. Pelé, antes do Mundial, tinha opinião diferente. "Não é só o Neymar que vai ganhar a Copa. Precisamos de uma equipe bem montada. Pela primeira vez na história da seleção vejo a defesa melhor do que o ataque. Não podemos colocar a responsabilidade de vencer em cima do Neymar."

O torcedor levará para sempre a dúvida sobre o resultado contra a Alemanha se Neymar estivesse em campo. Nunca saberá. Machucado, o jogador viu a derrota sem poder ajudar. De lá para cá, Neymar carrega o Brasil nas costas. Não há sequer um companheiro para dividir o fardo, que também nunca foi tão pesado. No tri do México, em 1970, Pelé era Pelé, mas havia Rivellino, Gerson, Tostão, Jairzinho, Clodoaldo. Em 1994, Romário teve a ajuda de Bebeto, que contou com uma zaga imponente e um meio de campo capaz, do qual Dunga fazia parte. Em 2002, Ronaldo tinha Rivaldo ao seu lado e Ronaldinho Gaúcho chegando por trás. No ano passado, havia Neymar e incertezas.

Nesse um ano dos 7 a 1, a fama de Neymar aumentou na mesma proporção que a dependência do Brasil em seu futebol. Desde que assumiu o posto de Felipão, Dunga nunca escondeu isso. Seus companheiros também sabem dessa realidade, e aceitam a situação. Não há outro como Neymar. No Barcelona, o craque ganhou tudo ao lado de Messi e Suárez. Aumentou fortuna e fama e já é reverenciado como um dos melhores do mundo. Fora de campo, a negociação do seu contrato do Santos para o Barcelona continua a ser investigada pela Justiça. Há processos na Espanha contra ele e seu pai, suspeitos de terem levado dinheiro não declarado na negociação.

A contusão. Fonte: Dr. Sylvio Noronha Sacramento

Nesse intervalo de 365 dias, Neymar ganhou status de 'pop star' na seleção. Com Dunga, após o fracasso no Mundial, atuou em 11 partidas. Ganhou 10 e marcou 9 gols de um total de 20, quase 50%. Seus números sempre foram bons. E já eram com Felipão (de 2013 a 2014): entrou em campo 27 vezes, ganhou 19 e marcou 18 gols - 26% dos gols da equipe. Da mesma forma, Neymar foi importante quando esteve sob o comando de Mano Menezes. Em 27 jogos, comemorou 16 vitórias e balançou as redes 17 vezes - 31% dos gols do Brasil. Ao todo, Neymar já marcou 44 gols pela seleção.

E foi dessa forma que ele levou o Brasil para o Chile, para a Copa América, a primeira competição da seleção depois do vexame dos 7 a 1. Dunga deu a Neymar toda a confiança que ele precisava, além da braçadeira de capitão. Mas ainda havia um craque sem um time. O Brasil suou para se classificar com ele campo. Na partida diante da Colômbia, marcada pelo encontro de Neymar com seu algoz da Copa, Zúñiga, nova confusão. Neymar estava irreconhecível com a bola nos pés e mais ainda nas discussões e provocações de jogo. Queria briga.

Na véspera, ele e o pai foram oficialmente arrolados na confusão de sua venda pela Justiça da Espanha. "O Neymar é um ser humano e é difícil separar as coisas", disse Dunga. O Brasil perdeu da Colômbia e Neymar foi expulso após a partida. Mais uma vez o Brasil seguiria no torneio sem seu principal jogador. A punição de quatro partidas tiraria o craque definitivamente da Copa América. Sem ele, a seleção foi eliminada diante do Paraguai. O filme dos 7 a 1 se repete um ano depois, em curta metragem, gerando incertezas e desconfiança. O futebol brasileiro volta à estaca.

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