Tradição

A camisa mais pesada do futebol mundial

Pele é carregado após a conquista do tricampeonato. em Guadalajara AP

Com cinco títulos conquistados e uma enormidade de craques reverenciados no mundo da bola, Brasil tem a história mais rica entre todas as seleções

A camisa da seleção brasileira de futebol é a mais pesada do planeta – nem mesmo uma derrota por 7 a 1 em casa contra um dos maiores rivais, na semifinal da última Copa do Mundo, pode deixar dúvidas sobre isso. O Brasil chega para a disputa do Mundial da Rússia com o maior número de títulos entre todos os países, cinco. O pentacampeonato foi construído com uma legião de craques, que ficaram com o troféu em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Além disso, o time que vai brigar pelo hexa a partir de 14 de junho é o único que não ficou fora de nenhuma edição do torneio. É preciso respeitar a tradição da seleção brasileira.

Ao analisar as estatísticas de todas as seleções em Mundiais, a do Brasil se sobressai. Nas 20 edições das disputas da Fifa, a seleção brasileira entrou em campo 104 vezes, com 70 vitórias (é a que mais venceu), 17 empates e 17 derrotas – em quase 68% dos jogos a equipe foi a vencedora. Além disso, o ataque marcou 221 gols, contra 102 levados pela defesa.

Os mundiais começaram a ser disputados em 1930, no Uruguai. Nessa Copa e na de 1934, na Itália, o Brasil não conseguiu chegar até as semifinais. Em 1938, na França, a seleção começou a sentir o gosto pelos primeiros lugares e terminou na terceira colocação. Depois de 12 anos sem o torneio por causa da destruição na Segunda Guerra Mundial, veio a Copa de 1950, disputada justamente no Brasil. A enorme expectativa pelo título levou 200 mil pessoas ao Maracanã para a final entre as seleções brasileira e uruguaia. A decepção foi enorme – de virada, o time frustrou a todos e perdeu por 2 a 1. Um garoto chamado Edson viu seu pai, Dondinho, chorar com a derrota.

O jogador brasileiro Bellini, capitão da equipe, levanta a Taça Jules Rimet Acervo Estadão - 29/6/1958
Garrincha passa o pé sobre a bola e engana seu marcador Acervo Estadão - 10/6/1962
Brasileiros festejam o tetra após Baggio perder o pênalti Andre Camara/Reuters - 17/7/1994
Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo beijam a taça após o penta Luca Bruno/AP - 30/6/2002

Quatro anos depois, na Suíça, o Brasil não passou das quartas de final, em novo fracasso. Em 1958, na Suécia, no entanto, veio a redenção e o primeiro dos cinco títulos – era o começo da ‘Era de Ouro’ da nossa seleção, já com o garoto Edson sendo chamado de Pelé. A delegação do Brasil levou até um psicólogo para ajudar os jogadores a superar o trauma das derrotas nos mundiais anteriores. A equipe tinha atletas experientes, como o goleiro Gylmar, Bellini, Zagallo, Nílton Santos, Didi, Vavá e Pepe, e jogadores mais jovens, como Zito, Pelé e Garrincha. Ficou com a taça ao bater os donos da casa, Suécia, por 5 a 2, de virada.

Em 1962, no Chile, além dos remanescentes do título de quatro anos antes, o Brasil mostrou ao mundo a categoria de Djalma Santos, Mengálvio, Amarildo e outros. Pelé se machucou cedo e o Brasil teve de apostar suas fichas nas pernas tortas de Garrincha. Aquela foi a sua Copa, praticamente a ganhou sozinho.

Em 1966, na Inglaterra, uma decepção, já que a seleção não passou da primeira fase. O Brasil e o mundo viviam dias revolucionários, e bastante perigosos. O tri estava reservado para ser no México, onde os brasileiros passaram a ser amados. Em 1970, com Pelé no auge e chamado de Rei, o Brasil voltou a dar show, venceu todos os jogos da Copa e conquistou a posse definitiva da Jules Rimet. Eram muitos craques juntos. Além de Pelé, jogaram Jairzinho, Carlos Alberto, Tostão, Rivellino, Clodoaldo, Caju, Gerson… O tri deu ao Brasil o respeito que ele sempre mereceu no futebol.

Em 1974, na Alemanha, e em 1978, na Argentina, a seleção não brilhou, mas ficou entre os quatro primeiros colocados. Já na Espanha, em 1982, o time de Telê encantou com um esquadrão que tinha Oscar, Júnior, Falcão, Sócrates, Zico e Éder, entre outros, mas caiu nas quartas para a Itália, de Rossi, por 3 a 2. Em 1986, de novo no México, mais uma vez ficamos nas quartas. Após empate (1 a 1), perdemos para a França nos pênaltis.

Em 1990, na Itália, novo baque, desta vez diante da Argentina, de Maradona e Caniggia, nas oitavas, por 1 a 0. O hiato de títulos de 24 anos terminaria em 1994, nos EUA. Com o goleiro Taffarel e os atacantes Romário e Bebeto como destaques, o Brasil venceu a Itália nos pênaltis. A seleção era tetra. Em 1998, o time de Zagallo foi vice, engolido pela anfitriã França, de Zidane, por 3 a 0. Quatro anos mais tarde, em 2002, no primeiro Mundial disputado na Ásia (Coreia e Japão), a seleção conquista o penta com Marcos no gol, Cafu e Roberto Carlos nas laterais, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo no meio e o artilheiro Ronaldo no ataque. De lá para cá, o Brasil se perdeu. Em 2006, na Alemanha, e 2010, na África, o time caiu nas quartas. E, como todos sabem, em 2014, a maior frustração: 7 a 1 para a Alemanha. Há quem diga que chegou a hora de nova conquista.

Reportagem: Glauco de Pierri, Almir Leite, Raphael Ramos, Wilson Baldini Jr., Gonçalo Jr., Pedro Hallack e Rodrigo Luiz Diagramação: Eduardo Bettiol e Eloy Mattoso Arte: Glauco Lara Coordenação Infográfico: Paulo Favero Colunistas: Antero Greco e Ugo Giorgetti Editor de Fotografia: Eduardo Nicolau Edição de Esportes: Robson Morelli