O Passado e o Futuro
No dia 27 de janeiro de 2014, a Sabesp emitiu o primeiro alerta público para a seca no Sistema Cantareira. À época, o principal manancial paulista, que abastecia 8,8 milhões de pessoas só na região metropolitana, estava com 23,1% da capacidade, índice mais baixo dos últimos dez anos até então. Segundo a companhia, "a falta de chuvas em dezembro", a pior em 84 anos de registros, "agravou" o problema. "Neste momento é muito importante a sua colaboração. Economize água", pediu aos consumidores em um comunicado de 30 segundos na TV.
Dados oficiais levantados pelo Estado mostram, contudo, que a estiagem já rondava as represas do manancial. Desde agosto de 2012, o Cantareira recebe um volume de chuva e de seus rios afluentes abaixo da média história. Mesmo assim, a quantidade de água retirada dos reservatórios continuou próxima do limite máximo para atender a Grande São Paulo e mais 5 milhões de pessoas na região de Campinas e Piracicaba. A partir de maio de 2013, o manancial inicia uma trajetória de queda que perdura até hoje, após dois verões.
Um plano de rodízio para os clientes do Cantareira foi feito em janeiro pela Sabesp, conforme revelado pelo Estado em agosto do ano passado, mas o governo estadual vetou a medida, alegando que ela traria prejuízos à população de baixa renda. Vieram o bônus na conta para quem diminuir o consumo, a transferência de água entre sistemas, uma redução cada vez mais drástica da pressão na rede e, mais recentemente, a multa para os chamados "gastões". Mas as chuvas, não. E até agora todas as ações foram insuficientes para impedir o iminente colapso do Cantareira.
Sem o maior sistema de abastecimento do Estado, os moradores da Grande São Paulo e parte do interior poderão sofrer com longos períodos sem água, uma vez que as obras que podem amenizar a crise só ficam prontas a partir de 2016 e as chuvas continuam uma incógnita. Este especial traz a cronologia completa de 1 ano da crise, com as principais reportagens sobre o tema, um simulador inédito que permite projetar como estará o manancial no decorrer deste ano, além do drama de quem já vive a escassez e as dicas para economizar.
Simulador
Veja como ficará o sistema neste ano se a entrada de água for igual à...
Cálculos consideram quatro diferentes cenários de entrada de água (vazão afluente) no sistema e quantidade de retirada (vazão defluente) igual à média atual
O Sistema
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Medidas Adotadas
Especialista
Estocar água. Esta é uma das alternativas que Maria Cecilia Wey de Brito, secretária-geral do ONG WWF-Brasil, indica para a população da Grande São Paulo, diante do colapso total dos reservatórios. "As pessoas tem que estocar água, mesmo com todos os riscos. Se for guardar, faça isso em lugar fechado para não dar dengue. É o que nos restou", afirmou. De acordo com ela, a população também precisa mudar o pensamento em relação às chuvas. Não é porque há precipitações pontuais que os reservatórios irão ficar cheios novamente. Muita gente ainda tem aquela leitura da chuva do dia, uma ilusão de que se chover bastante vai resolver o problema. O governo nos ajudou a ficar em uma situação pior que não vai ser resolvido em médio prazo. Para o Cantareira encher vai ter que ser dilúvio. Não tem área de reservação nova", disse Maria Cecilia. "A possibilidade de ficar sem água vai acontecer. A indústria vai brigar para ter água, o restaurante também, a dona de casa vai precisar para tomar banho e dar de comer. Não vai ser um conflito fácil de se mediar, não sabemos como vai ficar."
Transparência e informação. Ainda de acordo com a especialista, os governos federal, estaduais e municipais precisam deixar claro para a população de que a água pode acabar. "Tem que deixar claro para a população o que está acontecendo, dizer que a água está acabando e que o governo vai ter que tomar atitudes. Precisa informar o horário que vai faltar água e explicar como a Sabesp está manejando o sistema", disse.