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Comissão da Verdade

O relatório final

AS CONCLUSÕES

AS VÍTIMAS

A GUERRILHA

REPRESSÃO INTERNACIONAL

OS BASTIDORES

Oepisódio com maior número de mortos e torturados em 21 anos de ditadura militar mereceu pouco destaque no relatório final da Comissão Nacional da Verdade. São 38 páginas que resgatam a história da Guerrilha do Araguaia, abordada em depoimentos de agentes da repressão e sobreviventes apenas na reta final dos trabalhos do colegiado. Com isso, surgem falhas de apuração e não se entra nos polêmicos “justiçamentos”, execuções de militantes pelos próprios grupos de oposição armada ao regime autoritário.

 

A opção da Comissão da Verdade em não abordar esses episódios, assim como os de mortes ou ferimentos de civis e militares nas ações das guerrilhas urbana e rural, nos anos 70, é um dos principais motivos de críticas ao colegiado, em especial vindos dos clubes que reúnem os reservistas. São casos já relatados em pesquisas acadêmicas, livros históricos e biografias, mas que ainda encontrariam espaço em um relatório que pretende reconciliar de vez o País com sua história.

 

 

Trechos

 

 

 

LEONENCIO NOSSA / Brasília

Das mais de mil páginas de seu relatório final, a Comissão Nacional da Verdade reservou apenas 38 para registrar a história da Guerrilha do Araguaia, episódio com maior número de mortos e torturados do período militar. Embora tenha atuado durante dois anos e meio, o grupo só resolveu ouvir agentes da repressão e sobreviventes da guerrilha na reta final dos trabalhos, quando o relatório já estava em fase de preparação.

Os números de mortos são inflados. O relatório inclui dados de uma pesquisa sem provas, incluindo como camponeses "desaparecidos" Aloisio Nunes Ferreira, homônimo do ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN) e atual senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), nome que não aparece em registros militares. Apelidos de guerrilheiros como João Goiano, Mané, Cazuza e Landinho, que constam em listas conhecidas, também aparecem como "novos" personagens.

 

O relatório evita episódios polêmicos como os "justiçamentos", isto é, as mortes de militantes políticos pelos próprios companheiros nas guerrilhas urbanas. É o caso de Márcio Leite de Toledo, executado por Carlos Eugênio Paz, último líder da ALN.

 

O capítulo sobre camponeses e índios é recheado de "estimativas" e números, como, por exemplo, o suposto massacre de 5 mil cintas-largas em Mato Grosso e Rondônia. Conflitos do campo como a Guerra de Perdidos, no Pará, não são detalhados nem as vítimas da repressão policial citadas. O relatório também não cita civis ou militares mortos em ações das guerrilhas urbana e rural nos anos 1970.

 

Um personagem contestado por grupos de direitos humanos e ex-agentes da repressão ganha destaque no relatório. O documento chancela relatos sem provas do ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo Cláudio Guerra. Em sucessivos depoimentos à comissão, Guerra disse ter atuado na incineração de corpos de militantes políticos em Campos dos Goitacazes, no Rio de Janeiro. Com sua carreira praticamente limitada ao Espírito Santo, onde foi uma espécie de embaixador do crime organizado sediado no Rio, nos anos 1980, Guerra foi um testemunho considerado importante para uma comissão formada por cinco representantes do direito e uma psicanalista. Não havia historiador no grupo para cruzar os dados apresentados por ele com os revelados pelo ex-agente Marival Chaves. Em 1991, Chaves disse que as vítimas "incineradas" por Guerra foram enterradas em outros cantos do Rio.

General Nilton Cerqueira presta depoimento para a Comissão Nacional da Verdade
WILTON JÚNIOR / ESTADÃO – 29.07.2014

Militares na época da guerrilha do Araguaia nos anos 70
ARQUIVO PESSOAL