Martijn de Waal: Hackers colaboram para melhorar a cidade

Makers do espaço urbano compartilham ideias para intervir onde o poder público não atua

Lucas Lopes e Thiago Wagner

Martijn de Waal, pesquisador holandês considerado pioneiro nos estudos sobre hackers urbanos Crédito: Divulgação

As soluções para as cidades podem ser simples, e nem sempre precisam partir do poder público. Essa é a ideia central por trás do conceito dos hackers urbanos, pessoas que realizam intervenções para modificar o cotidiano dos locais onde vivem. Considerado pioneiro nos estudos sobre o conceito de hackers urbanos, o holandês Martijn de Waal diz que hackear é se apropriar de um sistema e transformá-lo para que ele faça algo que não foi originalmente projetado. “Qualquer um pode ser um hacker na cidade”, afirma o pesquisador de Mídia Urbana e Empoderamento do Cidadão na Universidade de Amsterdã, Holanda.

Qual é o conceito de cidades hackeáveis?

Nós usamos o termo hackear como uma metáfora. No mundo dos computadores há uma cultura de longa data de pessoas que constroem seus próprios sistemas, apropriando-se livremente de tecnologias para uso próprio e colaborando para objetivos comuns. Um exemplo é o movimento de código aberto. Podemos pensar em maneiras de empregar tecnologia para criar uma cultura similar nas cidades, onde as pessoas fazem uso de novas tecnologias de mídia para melhorar de forma colaborativa suas cidades, do ponto de vista do interesse público.

Quem pode hackear uma cidade?

Qualquer um pode ser um hacker urbano. As soluções podem ser simples para as cidades. No entanto, acho que os designers têm um papel importante neste processo, uma vez que são eles que projetam as plataformas que permitem a cooperação.

Você tem algum exemplo prático?

Um exemplo são leis como “o direito de contestar", na qual todo cidadão tem o direito de apresentar um plano alternativo se puder provar que seu plano é mais eficiente para alcançar os objetivos propostos pelo governo. Dessa forma, eles podem hackear a cidade existente com seus próprios planos.

E qual é a ligação com a cultura maker?

Eu acho que eles podem ser muito relacionados, a cultura maker também é muito sobre colaboração, troca de ideias e conhecimento para criar recursos em novas formas.

Como a cultura hacker pode mudar as cidades brasileiras?

Como em todos os lugares, cidades hackeadas podem trazer à tona questões sociais importantes para chegar a maneiras de resolvê-las. Estas podem ser soluções muito simples para a vida cotidiana, como uma iniciativa que vi em minha recente viagem ao Brasil. Uma empresa criou etiquetas dizendo 'qual ônibus passa aqui', permitindo que as pessoas criem a informação sobre rotas de ônibus no espaço público, tornando o transporte coletivo mais acessível. Outro exemplo com o qual me deparei foi o movimento Minhocão, em São Paulo, em que um grupo de pessoas usa as redes sociais, como o Facebook, para resgatar as ruas como espaço público, transformando uma artéria de tráfego da cidade em um parque. São exemplos como esses que, para mim, simbolizam o movimento do hacker civil: usar uma tecnologia como uma rede social para fazer uma mudança para melhor na cidade.