Júlio Maria (textos) / Gabriela Biló (fotos)
16 Maio 2017 | 0h

Jornal leva para o palco da casa Tupi or not Tupi os melhores instrumentistas de São Paulo.

Poucas produções artísticas atingiram nível tão elevado nos últimos anos quanto a música instrumental criada em São Paulo. Idealizada e com a curadoria do jornalista Julio Maria, a noite Gig Nova apresenta músicos jovens e revelações em uma mostra de talento e liberdade criativa que marcam uma das mais prósperas gerações de instrumentistas do País. O Estadão convida, monta os grupos e os instrumentistas entram em ação. A noite Gig Nova será em 18 de maio, na casa de shows Tupi or not Tupi, na Vila Madalena, a partir das 21h. Aqui estão os grupos (conhecidos no meio musical como gigs) formados pelo jornal que se apresentarão na próxima quinta

GIG 1

Origem

Ainda no berço, Herz dava sinais de que se acalmava quando exposto a qualquer som organizado. Sua entrada foi pela iniciação musical e pelo piano, até o dia em que assistiu a um concerto da Osesp e os solos de violino o arrebataram. Foi procurar professor do instrumento e ouviu, aos 8 anos de idade. “Está velho.”

Influências

A música erudita foi seu foco até os 20 anos. Desse universo, leva consigo nomes poderosos como Itzhak Perlman e Joshua Bell. A migração para a música popular foi feita com doses extras de Dominguinhos e Egberto Gismonti.

Um álbum

Infância (Egberto Gismonti Group - 1991)

Histórico

Discos solos, lançados com seu trio, e outros feitos com músicos como o baterista Edu Ribeiro, o baixista Thiago do Espírito Santo, o percussionista Ari Colares o pianista Nelson Ayres. Tocou seis anos com o grupo de forró Orquestra do Fubá.

Ao lado do violonista Michi Ruzitschka e do baterista Pedro Ito, formou seu trio em 2011 e, no ano seguinte, lançou o CD Aqui é o meu Lá. Mantém também dois duos, um com o vibrafonista Antonio Loureiro e outro com Samuca do Acordeon.

Origem

Os pais, músicos, levaram logo os 10 filhos para os cultos da Igreja Assembleia de Deus. Foi lá que eles, todos instrumentistas, tiveram seus primeiros contatos com a música sagrada. O jazz e a música brasileira viriam depois.

Influências

Sua formação pessoal vem de muitas audições de discos de Clifford Brown, Lee Morgan e Miles Davis.

Um álbum

Seven Steps to Heaven (Miles Davis - 1963)

“Isso me fascinou demais. É uma fase em que Miles está tocando muito, no auge, um absurdo.

Histórico

Sidmar possui dois discos solo: Livre, de 2013, e Madri Riviaes (2016). Já esteve ao lado de Cesar Camargo Mariano, Ivan Lins, João Bosco, Gilberto Gil e da pianista Maria Schneider.

O sonho do avô de Leandro, sanfoneiro, era ver a filha tocando o instrumento. Depois de perceber que dali não sairia uma instrumentista, percebe que o neto pode salvar a linhagem dos músicos na família Cabral. E Leandro vai desembarcar no piano.

Influências

O “grande cara” para ele é Hermeto Pascoal. “Ele e Egberto Gismonti”, corrige-se. Do jazz, Herbie Hancock, Keith Jarrett e Bill Evans. E dos contemporâneos, André Mehmari e Hamilton de Holanda.

Um álbum

The Melody at Night, with You (Keith Jarrett, 1999)

“Ele gravou esse disco depois de mais de um ano sem poder tocar, por problemas de saúde. Então, volta e grava esses temas como forma de agradecimento à esposa. Seu coração está em cada nota.”

Histórico

Tem dois discos solo, de 2015 (Sobre Tradição) e 2016 (Teatro Alfa). Já tocou ou gravou com Ed Motta, Maria Rita, Proveta, Letieres Leite e o trombonista Ed Neumeister.

Origens

O teclado entrou em sua vida quando tinha nove anos. Aos 11, mudou para o baixo elétrico por recomendação de um primo, já que a vizinhança não permitiria uma bateria em seu apartamento. Seu primeiro grupo foi de rock and roll, mas logo começou a sentir-se limitado. Assim que veio o interesse pelas harmonias do jazz e da bossa nova, um novo campo se abriu.

Inspiração

Ray Brown, Ron Carter, Charles Mingus, Sizão Machado e Christian McBride têm grande peso na formação de sua identidade.

Um álbum

A1 (Charles Mingus - 1960)

“Foi o disco que mudou tudo para mim”

Histórico

Além de um álbum solo, de 2009, ele tem trabalhos com a big band Soundscape, Trio Ciclos, projeto Unknown e Reunion Project. Já tocou no Brasil com nomes como Wilson das Neves e Raul de Souza e, do exterior, com Mike Moreno e Ed Neumeister.

Origem

Mais novo dos três irmãos de uma família de músicos, não deu outra: “Só me restou a bateria”. Ao lado do pai guitarrista, começou a tocar em bailes e aprendeu uma lição importante: ouvir bem uma música e tirá-la, com repetições à exaustão, da forma mais fiel possível. “Iria fazer isso depois, com artistas de quem iria gostar mais”.

Influências

Muitas pessoas participaram de seu processo pessoal de construção de personalidade artística: Proveta, Léa Freire, Sizão Machado, Chico Pinheiro e Yamandú Costa.

Um álbum

Forças D’Alma (Tutti Moreno - 1998)

O quarteto de Tutti, com André Mehmari, Proveta e Rodolfo Stroeter

Histórico

Venceu dois Grammy graças ao álbum Songs for Maura, de 2013, feitos com o Trio Corrente. Gravou e trabalhou com Yamandu Costa, Lea Freire e Bocato, Theo de Barros, Arismar do Espírito Santo, Vento em Madeira, Randy Brecker e Eliane Elias.

GIG 2

Cassio vem de uma geração de músicos de sopro revelados por igrejas evangélicas de São Paulo. Como integrante de um grupo de louvor da Assembleia de Deus, começou logo a se destacar, mesmo não tendo outros músicos na família.

Influências

Até os 12 anos, ouviu exclusivamente músicas da igreja, até o dia em que um fato o marcou para sempre. “Eu tinha 14 anos quando estava ouvindo um radinho de pilha em casa sintonizado na Cultura FM, um programa de jazz chamado ‘Linha Imaginária’. Aquela música me arrebatou durante a madrugada toda.” A ‘conversão’ de Cassio duraria das 23h às 6h da manhã.

Um álbum

Cannonball and Coltrane (Cannonball Adderley e John Coltrane - 1959)

“Os dois são fantásticos. Ali tem muito suingue e força de impacto.”

Histórico

Gravações e trabalhos com Michel Leme, Bruno Migotto, Toninho Ferragutti, Banda Mantiqueira, Rubens Farias e Leandro Cabral. Ainda não tem disco solo. Já tocou com Ed Motta e se apresenta com a big band Reteté Big Band.

Origem

Sem músicos na família, a paulista de São Bernardo do Campo começou ao violão com nove anos de idade. Aos 13, trocava de instrumento e migrava para a guitarra, tendo Fábio Leal como seu primeiro professor. Apenas dois anos depois, já ganhava dinheiro como instrumentista. Filha de mãe merendeira de uma escola do município e de pai vigilante, Luciana passou logo a viver com o que ganhava a partir dos 15 anos de idade.

Influências

Dois nomes a pegaram primeiro: o guitarrista e violonista pernambucano, Heraldo do Monte, e o também guitarrista norte-americano Pat Metheny. “Foi ele quem me despertou para a improvisação.”

Um álbum

Só Não Toca Quem Não Quer (Hermeto Pascoal - 1987)

“Um momento de afirmação”

Histórico

Se apresenta em bares como Drosófila, duas vezes por mês, e Jazz nos Fundos. Ainda não tem álbum solo.

Origem

Começou a tocar inspirado por uma banda de rock de seu irmão mais velho, que ensaiava na casa de seus pais em Ourinhos, interior de São Paulo. "Minha diversão era passar horas e horas naquele quartinho fuçando em todos os instrumentos. Havia teclado, baixo, guitarra, bateria, percussão.". Um dia, o baixista da banda foi morar fora do País e os outros integrantes apontaram para ele e disseram: "Fi, você vai tocar baixo na banda, ok? Se vira!"

Influências

Entre baixistas, compositores e intérpretes, seu time de inspiradores é grande. Luizão Maia, Sizão Machado, Arismar do Espírito Santo, Claudio Bertrami, Fabio Leal, Jaco Pastorius, Djavan, Rosa Passos, John Patitucci, Dori Caymmi, Maria Schneider, Gilberto Gil, Avishai Cohen, Hermeto Pascoal, Wayne Shorter, Brian Blade e Herbie Hancock.

Um álbum

Beyond the Sound Barrier (Wayne Shorter Quartet - 2005)

“Foi um disco que me trouxe muito frescor e liberdade na maneira de encarar a música. Sempre gostei de música improvisada, mas quando me deparei com esse disco, foi uma experiência incrível e única, pois consegui realmente entrar na atmosfera da música criativa, espontânea e da criação coletiva. Me mostrou que o diálogo musical requer sempre muito respeito, organização e bom gosto, conceitos estes que acredito que devam sempre andar conosco em qualquer tipo de som que fizermos.”

Histórico

Ao lado da cantora Vanessa Moreno, tem um duo de baixo e voz e dois discos gravados: 'Vem Ver' (2013) e 'Cores Vivas - Canções de Gilberto Gil' (2016) . Com o guitarrista Fabio Leal, gravou dois discos com o quarteto que leva seu nome: 'Fabio Leal' (2009) e um outro gravado recentemente. Com o baterista Rodrigo "Digão" Braz, gravou 'Carvão'. Ele faz parte de três grupos de música instrumental com discos lançados: Trio Jabour ( 'Água Nova', de 2009), Oritá ('Oritá, 2014) e Cincado ('Cincadeando', de 2009, e 'Novos Rumos', de 2015). Ele acaba de produzir e fazer os arranjos do primeiro solo da cantora Vanessa Moreno ('Em Movimento') e de gravar com o baterista Mutinho seu primeiro disco solo, a ser lançado. Dividiu palcos e gravações com artistas como Elza Soares, Wilson das Neves, Hamilton de Holanda, Monica Salmaso, Fabiana Cozza, Chico Pinheiro, Hermeto Pascoal, Sergio Santos, Zé Pitoco, Heraldo do Monte, Arismar do Espírito Santo, Thiago Espírito Santo, Jorge Helder, Dani Black, Maria Gadu e Bastian Baker.

Origem

Família, tios e pai bombardeavam Sergio Machado com música, o dia todo, em suas formas mais variadas. Filó, grande compositor e harmonizador, foi paciente e não partiu para uma catequização forçada. “Ele sempre me deu muita liberdade”.

Influências

Além do som que saía daquele motor, ver o baterista Billy Cobham em ação foi o que mais o impactou. “Grandão, fortão, eu o via e dizia, ‘caramba, esse cara é um gigante’”

Um álbum

E.S.P. (Miles Davies - 1965)

“Foi o que me fez ouvir jazz”

Histórico

Lançou recentemente seu primeiro solo, Plim. Já se apresentou ou gravou com músicos como Raul de Souza, Ney Matogrosso, Laércio de Freitas e Toninho Horta

GIG 3

Origens

Filho de mãe pianista e professora e de pai violonista, Fabio iniciou tudo com a flauta doce, aos cinco anos de idade. Estudava em uma escola em São Paulo que oferecia aos alunos um vale-CD. Assim que recebia o seu, ia buscar um disco de Pixinguinha na loja mais próxima. “O vendedor estranhava ao ver aquele garoto pedindo um disco de Pixinguinha.”

Influências

“Os solos e o jeito do Jacob do Bandolim de interpretar uma música sempre me encantaram.” Por intermédio do pai, Fabio foi parar nas rodas de samba e choro da casa do saudoso compositor Paulo Vanzolini. Lá, se deparou com sua imagem mais transformadora: Izaías do Bandolim. “Fiquei louco com aquilo.” Outro ponto de impacto em sua formação foi assistir ao show de Lea Freire, com o repertório do álbum Cartas Brasileiras.

Histórico

Ele possui três discos solo, e mais trabalhos em palcos ou estúdios com Arismar do Espírito Santo, Lea Freire, Thiago do Espírito Santo, Amilton Godoy e Yamandu Costa.

Origem

Nascido em Vitória, no Espírito Santo, Hercules conheceu música graças ao pai, violonista e baixista. Foi incentivado a aprender violão, mas surpreendeu a família quando um amigo deixou um teclado em sua casa. Foi assim que começou a tirar os acordes, de ouvido. Seu estudo foi autodidata até os 18 anos.

Influências

Nomes que se dedicam à intepretação do choro ao piano, como Radamés Gnatalli e Laércio de Freitas. Gosta ainda de instrumentistas que fazem o trabalho de conduzir a música popular para o concerto, como o pianista russo ucraniano Nicolai Kapustin.

Um álbum

Solo Brasileiro (Cesar Camargo Mariano)

“Eu tirava tudo o que Cesar fazia”

Histórico

Em 2013, lançou seu primeiro álbum solo, Pianismo. Tem gravações com Wilson das Neves, Jussara Marçal, Karina Buhr e Arismar do Espírito Santo. Ele faz questão de deixar claro, contudo: “Não é fácil ser músico. Precisamos de mais espaço. Por favor, escreva isso.”

Origem

Vanessa entrou na música graças a um tio que também tocava contrabaixo. Ao vê-lo, sentiu que deveria buscar por discos de jazz. Sem saber exatamente o que era a música que queria conhecer, sentiu o primeiro arrebatamento com o baixista Charles Mingus.

Um álbum

Blues and Roots (Charles Mingus - 1960)

“Foi o que me fisgou. Depois dele, não queria saber de ouvir mais nada que não fosse jazz

Histórico

Tocou com formações variadas de big bands e participou de uma série de workshops nos Estados Unidos. Esteve ainda em edições dos festivais de jazz de Belo Horizonte e do Paraguai.

Origem

Uma “batucadeira” nata, Jackie partiu logo para a música, aos 12 anos. A mãe manicure (o pai se foi antes que ela tivesse idade para conhecê-lo) logo se sensibilizou e a inscreveu no projeto social Meninos do Morumbi. Com o ritmo nas veias, já vivia pela quadra da escola de samba Vai-Vai, de São Paulo, reafirmando o que queria para sua vida.

Inspiração

A percussionista escocesa cega Evelyn Glennie é uma forte influência em sua porção artística europeia. Entre os brasileiros, ela destaca Marco Lobo e Simone Soul.

Um álbum

Nomade (Lena Barruli - 2015)

Histórico

Gravou ou trabalhou com Meninos do Morumbi, Falamansa e Sandra de Sá. Ainda não tem disco solo

GIG 4

Sanfoneiro de Itabaiana, interior de Sergipe, Mestrinho é neto do tocador de oito baixos, Manezinho do Carira, e filho do sanfoneiro Erivaldo de Carira. Aos cinco anos de idade, ganhou sua primeira sanfona, quase maior que ele. Começou a trabalhar com 12 anos, apresentando-se pelo nordeste.

Inspiração

Dominguinhos é seu mestre. Mas ele lembra ainda de Hermeto Pascoal, Sivuca, Charlie Parker, John Coltrane e Miles Davis

Um álbum

A Maravilhosa Música Brasileira (Dominguinhos - 1982)

“Um disco sensacional, com Dominguinhos tocando, instrumental, a obra de Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Johnny Alf e Jobim.”

Histórico

Está gravando seu segundo disco solo. Esteve no palco ou em estúdios ao lado de artistas como Dominguinhos, Ivete Sangalo, Gilberto Gil e Elba Ramalho.

Origem

Começou a tocar violão aos sete anos, por influência da mãe. “Ela me obrigou no começo, fui forçado mesmo”. Pouco tempo depois, virava o jogo. “Comecei a adorar aquilo”.

Influências

“Ouvi Keith Jarret a vida toda. Outro cara muito importante foi (o guitarrista holandês) Jesse van Ruller"

Um álbum

Passarim (Antonio Carlos Jobim, 1987)

“Muito importante, mexeu demais comigo.”

Histórico

Com 17 discos lançados, é também membro da diretoria so IASJ (International Association of Schools of Jazz). Com seu quarteto, lançou recentemente o álbum Ubuntu. Se apresenta também em duo com o pianista Paulo Braga. Já tocou ou gravou com músicos como Jerry Bergonzi, Bill Pierce, Jaleel Shaw, Ohad Talmor e André Charlier.

Origem

Começou cantando aos 14 anos, migrando logo depois para o baixo e o violão.

Influências

“Gente como Jaco Pastorius, Charles Mingus, Jimi Hendrix, Miles Davis, John Coltrane, Tom Jobim, Chico Buarque e Milton Nascimento.

Histórico

Zéli tem cinco discos autorais: 'Voando Baixo' (2001), 'Em Movimento' (2006), 'Duo', com Vitor Alcântara (2010), 'Una' (2014) e 'Agora é Sempre' (2016) . Tocou com nomes como Zé Menezes, Osvaldinho do Acordeon, Badi Assad, Cida Moreira, Chico Pinheiro e Chico Saraiva

Um álbum

'Elis & Tom' (Elis Regina e Tom Jobim - 1974)

"Composições, arranjos, execuções e músicos em sintonia"

Origem

Matriculado para iniciação musical aos seis anos na escola Clam, de Amilton Godoy (Zimbo Trio), já começava a descobrir o que queria ser vendo o tio baterista tocar em bandas de rock. “O rock and roll foi minha porta de entrada para a música.” Seu gosto foi, a partir daí, sendo construído para uma atuação em frentes tão distintas que vão do jazz às expressões erudita contemporânea e eletroacústica.

Influências

Das mais variadas, desde o compositor renascentista Carlo Gesualdo a John Cage, passando por Hermeto Pascoal, Wayne Shorter e Miles Davis

Um álbum

“Ouvi o (pianista de jazz domenicano) Michel Camilo com 16 anos. Foi ele quem me pegou para o jazz”.

Histórico

Três discos solo, dois gravados com o Grupo Bambu, dois com o Trio Ciclos, um com o guitarrista Michel Leme e outro com o baixista Thiago do Espírito Santo e Silvia Góes.