Julio Maria (edição) / Felipe Rau (fotos)

Estadão leva para o palco da casa Tupi or not Tupi, na Vila Madalena, a nova geração dos melhores instrumentistas do País

Poucas produções artísticas atingiram nível tão elevado nos últimos anos quanto a música instrumental criada em São Paulo. Com direção e curadoria do jornalista Julio Maria e produção executiva de Debora Venturini, a noite Gig Nova apresenta músicos jovens e revelações em uma mostra de talento e liberdade criativa que marcam uma das mais prósperas gerações de instrumentistas do País. O Estadão convida, monta os grupos e os instrumentistas entram em ação. A Gig Nova 2 será em 31 de agosto, na casa de shows Tupi or not Tupi, na Vila Madalena, a partir das 21h. Aqui estão os grupos (conhecidos no meio musical como gigs) formados pelo jornal que se apresentarão na próxima quinta.

Gig 1

Foto: Elis Ribeirete
Gabriel Grossi gaita
Música está em todo lugar. Absorvemos o que está a nossa volta e sopramos a nossa vivência e nosso aprendizado"

Além de carreira solo bem estabelecida dentro e fora do país, é desde 2005 integrante do Hamilton de Holanda Quinteto, conjunto vencedor do prêmio Tim 2007 e finalista do Grammy Latino por três vezes consecutivas. Tocou ou gravou em boa parte de sua carreira com Paulo Moura, Zélia Duncan e Beth Carvalho. Com dez discos lançados em seu nome, participou de shows com grandes nomes da música nacional e internacional, entre eles, Hermeto Pascoal, Chico Buarque, Ivan Lins, Leila Pinheiro, João Donato, Dave Matthews, Guinga, Lenine, Djavan, Milton Nascimento, Dominguinhos dentre outros) em diversas turnês ao redor do mundo.

Gravou os discos “Diz Que Fui Por Aí”, “Afinidade” (em duo com o grande violonista Marco Pereira), e o terceiro, “Arapuca” (inspirado no universo do forró). Em 2009, lançou “Horizonte”, ao lado de Guilherme Ribeiro (piano) e Sergio Machado (bateria). Em 2011, lançou o CD “Zibididi” com o premiado guitarrista Diego Figueiredo, álbum composto exclusivamente por temas autorais. Já em 2012, Gabriel lançou o CD “Villa Lobos Popular”, em duo com o pianista Amilton Godoy (Zimbo Trio) e o CD “Realejo” com o acordeonista Bebe Kramer. Em 2013 gravou “Urbano”, com temas autorais e uma proposta moderna dentro do universo da harmônica. No início de 2015 foi chamado pelo consagrado jornalista e produtor francês Remy Kopakopul para fazer a direção musical, produção e arranjos do musical “K Rio K ” em Paris. Essa peça fala da relação Rio-Paris dos anos 20. Em julho de 2015 gravou o cd “Roda Gingante” do multinstrumentista Arismar do Espírito Santo. Em setembro do mesmo ano, grava o disco “Nascente”, lançado em 2016.

Em 2016 também produziu dois discos em homenagem aos seus mestres da harmônica: Toots Thielemans e Maurício Einhorn. No projeto “We do it out of love ”, Gabriel e seu parceiro Alex Rossi juntaram diversos harmonicistas de vários lugares do mundo para prestar essa homenagem e entregaram o disco pessoalmente ao homenageado Toots Thielemans em seu aniversário de 94 anos. Já na homenagem “Viva Maurício Einhorn” Grossi e seu parceiro Pablo Fagundes convidaram mais de vinte e seis gaitistas brasileiros para gravar um disco duplo brindando a obra do grande Mauricio Einhorn. Mais recentemente, gravou seu quinto disco com Hamilton de Holanda Quinteto, homenageando Milton Nascimento e comemorando os dez anos de existência do grupo. Também gravou na Espanha em Barcelona pelo selo TempsRecords um disco em duo com o violonista e antigo parceiro Jurandir Santana chamado “Conexões “. Em 2017 grava em Brasília o DVD “Em Movimento”, uma homenagem de Gabriel Grossi a vários de seus ídolos que o transformaram no músico que é hoje.


Felipe Senna piano
Enquanto criador, música é o meu parque de diversões"

Aos 37 anos, Felipe se destaca como compositor e arranjador. Dentre seus trabalhos mais recentes estão a trilha da peça 'Tales of Bedshits and Departure Lounges', de Montague Kobbé, que estreou no Teatro Cervantes em Londres, em julho. "Eu curto muito essa onda das misturas das linguagens, da música em intermedia, e adoro escrever para teatro. Este foi especialmente desafiante por se tratar de teatro contemporâneo europeu – jogue pro alto seus conceitos de narrativa e linearidade antes de entrar! Gostei muito do resultado, especialmente por termos escolhido fazer tudo de piano solo, com pequenos efeitos aqui e ali."

Um mês antes ele estava na Califórina como solista convidado da Echo Chamber Orchestra, junto ao Berkeley Choro Ensemble. Fez uma série de concertos por lá, e tocou a Brazilian Choro Suite, que escreveu para solistas e orquestra baseada em temas de Harvey Wainapel e Ricardo Peixoto.

O último ano foi especialmente produtivo. "Eu reorquestrei o álbum 'Cartas Brasileiras', da compositora Léa Freire, para um programa com a Orquestra Sinfônica da Unicamp, que regi como maestro convidado. Basicamente aumentei as formações originais do disco para uma “orquestra clássica”, para usarmos sempre que houver a oportunidade de fazer programas com uma orquestra sinfônica. Amilton Godoy (piano), Vinicius Barros (percussão), Fábio Peron (bandolim) e a própria Léa (flauta) como convidados, foi muito emocionante." Sobre sua origem, ele fala mais: "Minha família meio europeia meio brasileira sempre teve a música bastante presente. De forma amadora, quase todos tocavam um pouco de algum instrumento. Desde os dois, três anos de idade, quando visitávamos minha avó alemã, eu passava o máximo de tempo que podia em seu piano, então meu brinquedo preferido. Aos cinco, pedi para fazer aulas e foi assim que tudo começou. Enquanto primos, irmãs e familiares passavam tardes de folga ao redor da churrasqueira ou piscina, eu as passava no piano. Aos dez, onze, a professora que tinha em Atibaia (onde cresci) disse a meu pai que não tinha mais o que fazer comigo, e fui parar na extinta ULM, onde estudei com o saudoso Mario Casali até os 17, quando fui pra Unesp estudar Composição e Regência.”


Vinicius 'King' Coelho guitarra
Música é uma forma de expressar o que eu não consigo dizer com palavras"

Aos 19 anos, Vini King, como é conhecido por seus amigos de Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo, é o integrante mais jovem da segunda edição do Gig Nova. Ele começou muito cedo a tocar guitarra, ouvindo discos de George Benson, de maneira quase autodidata. Depois de uma matéria do Estadão, em 2015, mostrando Vini tocar com um grupo de jovens em um projeto chamado Louva na Laje, ele ganhou patrocinadores e pode ter uma guitarra nova. Vive com a mãe cuidadora e técnica de enfermagem e quatro irmãos. "Comecei tocando na igreja", diz, sobre uma origem muito comum nas periferias do Brasil. Seus ídolos são desde o brasileiro Cacau Santos até músicos como Benson e BB King.


Thiago Espírito Santo baixo
A música é um idioma universal, sem fronteiras, que me possibilita comunicar com as pessoas do mundo todo através da minha arte"

Com 23 anos de carreira, seus últimos CDs, Alma de Músico - Musician’s Soul (2014) e The Jazz Tradition (2011), congregam nos títulos a tradução do ofício eleito. Além da carreira solo e formações em banda, com mais de uma dúzia de CD’s lançados, Thiago atua intensamente em cada um dos pilares, com shows, produções, palestras e oficinas. Como produtor, foi indicado ao Grammy Latino em 2012 pelo álbum Forró Chorado, de Oswaldinho do Acordeon. Como professor, além de ministrar aulas e oficinas pelo País, desenvolveu o método de contrabaixo aplicado hoje em 360 polos do Projeto Guri. Gravou ou tocou por diversos países, ao lado de parceiros como Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Maria Bethânia, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa, Wilson Simonal, Jair Rodrigues, George Benson, Gregoire Maret, Alessio Menconi, Dom Moio, Todd Johnson, Kenwood Dennard, dentre muitos outros.


Foto: Dani Gurgel
Thiago Big Rabello bateria
Música é compartilhar, celebrar... uma das maiores formas de expressão do ser humano"

Aos 36 anos, Big tem uma vida artística típica dos veteranos. Ele atua como baterista desde a adolescência, gravando e fazendo turnês com artistas desde ícones do jazz como Cesar Camargo Mariano e Romero Lubambo, como estrelas sertanejas como Chitãozinho e Xororó, Jorge & Mateus ou outros estilos como Claudia Leitte, Pedro Mariano, Emílio Santiago, Diogo Nogueira, Jorge Vercilo, Moska, Lenine e Rogério Flausino, Paulo Moura, Leny Andrade, Arnaldo Antunes, Elza Soares, Mariana Aydar, Dani Black, entre muitos outros. Além de todos esse trabalhos, nos últimos anos, vem produzindo e excursionando com o grupo Dani e Debora Gurgel Quarteto pelo Japão, Argentina, Uruguai e Estados Unidos. "Comecei a carreira graças a meu pai, o baterista Luiz Guilherme Rabello. Quando eu tinha 12 anos, pedi uma bateria de Natal. Meus pais esconderam num quartinho até chegar o dia, mas logo que chegou eu pulei a janela e saí tocando. Desde então não parei mais. Sempre tive música e músicos em casa, por isso gosto de tantas coisas diferentes, de Tom Jobim a Deep Purple. Minha maior influência hoje é a música brasileira”.

Gig 2

Nicolas Krassikviolino
Música é uma das poucas coisas que me ajudam a acreditar que o mundo pode ser melhor"

Nascido na periferia de Paris, Nicolas estudou 15 anos de música erudita e jazz e passou oito anos atuando na Europa com artistas como Michel Pettrucciani, Didiel Lockwood, Vincent Courtois e Pierrick Hardy. Em 2001, aos 32 anos, resolveu embarcar para o Rio de Janeiro para se dedicar à música popular brasileira. Conquistou seu lugar no cenário brasileiro tocando ou gravando com artistas como Yamandu Costa, Hamilton de Holanda, Carlos Malta, Marisa Monte, Beth Carvalho, João Bosco e Gilberto Gil.

"A música surgiu na minha infância, aos 5 anos de idade. Minha mãe tocava piano, meu pai violão e uma irmã, violoncelo. Eu segui o caminho do conservatório. Mais tarde, aos 16, descobri o jazz, resolvi me formar em música clássica pra depois entrar no mundo da popular. Aos 24 anos, já no jazz profissional, eu descobri a música brasileira e aqui estou. Minhas influências no violino jazz foram Jean-Luc Ponty e Didier Lockwood, dois grandes violinistas franceses, mas eu escutava muito Miles Davis, Coltrane e Cannonball Adderley. No Brasil, minhas maiores influências foram Dominguinhos, Carlos Malta, Hamilton de Holanda e Yamandu Costa"

Seus trabalhos principais, na França, foram acompanhar Michel Pettrucciani em 4teto de cordas, tocar no 11tet de violino Jazz, do Didier Lockwood e acompanhar Pierrick Hardy, violonista e compositor, por dez 10 anos. Já no Brasil, gravou seis discos autorais e criou o projeto Cordestinos, reunindo instrumentos de cordas e percussão para tocar ritmos nordestinos. Fez parte do trio do violonista Yamandu Costa, acompanhou Gilberto Gil por cinco anos e gravou com Marisa Monte, Beth Carvalho, Gilberto Gil, João Bosco, Hamilton de Holanda, Yamandu Costa, Chico Buarque, entre outros.


Salomão Soarespiano
A música é o sentido da minha vida"

Ele é de Cruz do Espírito Santo, município da região metropolitana de João Pessoa, na Paraíba, mas vive hoje em São Paulo. Começou a tocar profissionalmente em 2004 e já gravou ou se apresentou com artistas como Hermeto Pascoal, Filó Machado, Gabriel Grossi, Nenê, Vinicius Dorin, Fábio Leal, Arismar do Espírito Santo, Gabriel Grossi, Altay Veloso e Lilian Carmona. Excursiona com o Rodrigo Digão Braz Trio, participando de festivais pelo Brasil inteiro. O trio gravou, no final de 2014, o seu primeiro disco intitulado “Carvão”. Salomão Soares também produziu e arranjou o disco “Casa que é mundo"“ da cantora paraibana Rinah, lançado em 2016.

Um dos grandes momentos de sua carreira se deu mais recentemente. Salomão foi um dos dez músicos selecionados do mundo, o único da América Latina, a concorrer como melhor pianista do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, entre junho e julho de 2017. Não esteve entre os três primeiros lugares, mas a vitória do garoto de Cruz do Espírito Santo já estava consumada.

Ele cita como influências Luiz Gonzaga e Hermeto Pascoal.


Ana Karina Sebastião baixo
Música é a grande maneira de expressar um estado de espírito"

Aos 23 anos, Ana Karina se desponta como uma das revelações em seu instrumento. É baixista do programa Conversa com Bial, da Globo, além de estar nos grupos de Chico César e Arrigo Barnabé. Ela fala sobre seu início: "Venho de uma família grande. Meu avô tocava cavaquinho e talvez tenha influenciado de alguma forma eu e meus irmãos. Um certo dia um de meus irmãos pediu um violão e minha avó deu de presente. Para não parecer injusto, meu pai comprou um violão para o restante de cada um de nós. Somos em cinco irmãos. A partir daí, começamos a aprender música na igreja e logo depois formamos uma banda e cada um escolheu um instrumento diferente. Para mim sobrou o baixo.” Sobre sua identidade artística, ela conta que teve muitas fases. "Quando era criança, ouvia pagode, Raul Seixas, Djavan e Iron Maiden. Na época em que entrei na escola de música e comecei a ouvir jazz, conheci o baixista da minha vida, Jaco Pastorius, e também ouvi muito Hermeto Pascoal e Filó Machado. Logo depois comecei a tocar com Arrigo Barnabé. Me considero com uma identidade mais formada agora, aos 23 anos, depois de já ter vivido algumas experiências diferentes, mas nitidamente minhas influências maiores são da música brasileira e da música negra americana como funk, groove."


Foto: Caio Palazzo
Pedro Itobaterista
Música é amor, liberdade, delicadeza, energia e movimento"

"Meu pai toca piano erudito como hobby, foi ele que me colocou na música. Um dia, minha tia me deu de aniversário o álbum Thriller, do Michael Jackson. Aquilo mudou minha visão. Comecei a me ligar na energia do ritmo e a gostar muito de rock. Então, com 14 anos, Pedro Mourão, que era do grupo Rumo e dava aulas de vários instrumentos, foi meu primeiro professor de bateria. Na primeira aula me passou um ritmo básico e começou a tocar guitarra comigo, aquilo foi uma tremenda revelação, eu estava fazendo música. Senti uma vontade profunda de fazer aquilo pra sempre. Logo me interessei pelo violão, então fazia meia aula da bateria e meia de violão. Adorava os dois e cheguei a ficar dividido por um tempo, mas a bateria falou mais alto, literalmente" As influências o ajudaram a formar identidade foram muitas. Elvin Jones, Roy Hanes, Buddy Rich, Jeff Ballard, Brian Blade, Jamey Haddad, Itamar Duari, Nana Vasconcelos, Márcio Bahia, Erivelton Silva, Milton Banana, Nenê, Edu Ribeiro, Airto Moreira, Tony Allen, John Bonham, Neil Peart, Steve Gadd, Billy Cobham. Dos principais trabalhos que já fez, ele cita Ricardo Herz Trio, Arnaldo Antunes, Trio Improvisado, Esperanza Spalding, Benjamim Taubkin, The Fringe, Céu e Romulo Froes. Ito se formou pela Berkley College of Music em 2002 e viveu nos EUA por 7 anos. Já tocou ou gravou com artistas como Paquito de Rivera, George Garzone, Esperanza Spalding, Didier Lockwood, Dave Fiuczynski, Luciana Souza, Dave Pietro (Maria Schneider Orchestra), Arnaldo Antunes, Jamelão, Céu, Ney Matogrosso, Ricardo Herz, Tetê Espíndola e muitos outros. Em turnês nos EUA e Europa, já se apresentou nos festivais de Montreux (Suíça), de Rochester (USA), no Dunya Rotterdam (Holanda) e lecionou workshops em escolas e universidades por onde passou. Atualmente, integra o Ricardo Herz Trio, ao lado do violinista Ricardo Herz e o violonista Michi Ruzitschka."

Gig 3

Alexandre Ribeiroclarinete
Música para mim é sinônimo de viver bem, vida, generosidade, educação, saúde, amor e alegria. Se não for por isso ou para isso, a música para mim não faz o menor sentido"

Um dos maiores clarinetistas da nova geração, Alê Ribeiro, 35 anos, é de São Simão, interior de São Paulo. Seus grupos de maior destaque são Panorama do Choro, Quarteto Roda de Choro, duo Alexandre Ribeiro e Alessandro Penezzi, além de seu trabalho solo. Já tocou com artistas como Guinga, Antonio Nóbrega, Osvaldinho do Acordeon, Dominguinhos, Nelson Ayres, Paulo Moura, Yamandu Costa, Raul de Souza, André Mehmari, Toninho Ferragutti, Ken Peplowsky, Tom Zé, Ed Motta, Jair Rodrigues, Riachão, Aldir Blanc, Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Tulipa Ruiz entre outros. Em 2009, estabeleceu uma forte parceria com o violonista Alessandro Penezzi, que resultou em dois discos, 'Cordas ao Vento' e 'Ao Vivo na Bimhuis-Amsterdã'. Em 2014, lançou o disco Alexandre Ribeiro Quarteto e em 2015 lançou o disco solo, 'De Pé na Proa', ambos produzidos por Swami Junior. Em 2016 Alexandre, ao lado de um quinteto, foi convidado pelo grande diretor americano Bob Wilson para participar de seu espetáculo Garrincha, no SESC Pinheiros.

"Minha família tem uma tradição muito bonita de Folia de Reis e foi daí que surgiu meu primeiro contato com a música. Meu avô João e meu tio Orlando me ensinaram a tocar cavaquinho quando eu tinha uns 7 anos de idade. Bastaram alguns acordes, como os famosos “primeira, segunda e terceira de ré” (na ordem, os acordes de ré maior, lá com sétima e sol maior), e levadas como a da guarânia e da “marchinha sertaneja” (quase uma polca de andamento médio) para que eu fizesse minhas primeiras “saídas” com a Companhia de Reis dos Prudêncios pelas fazendas da região da cidade de Cajuru, interior de São Paulo."

"A situação financeira em casa não era das melhores, então conseguia pagar as aulas de clarinete somando a ajuda do meu pai e os lucros que eu e meu irmão adquiríamos nas vendas de verduras pela cidade". Entre os 15 e 17 anos, ele conta, sua vida era, exatamente nessa ordem, "o clarinete, a banda, a escola e claro, a horta."

As pessoas que ele agradece por ser clarinetista: "Meu pai, José Carlos, e meu avô João – pelos primeiros passos com a música e pelo respeito e serenidade para com o instrumento. Isso foi de extrema importância em toda minha vida musical e faço questão de lembrar disso constantemente. A Krista Helfenberguer, Sergio Burgani e Montanha – pelo desenvolvimento técnico, despertar da musicalidade e importância do estudo e do conhecimento completo do instrumento. A Paulo Sérgio Santos, quem ouviu muito, admirando sua técnica e ousadia e com quem ouviu os primeiros temas de choro. Paulo Moura, com quem fez o Festival de Curitiba em 2003, Proveta e Stanley Carvalho, clarinetista tradicional de choro na cena de São Paulo.


Michi Ruzitschka violão
Música possibilita uma reflexão sobre as grandes questões da vida.. Quem somos, porque estamos aqui, para onde vamos?..."

Austríaco de 42 anos, o violonista e guitarrista se dedica à música desde muito jovem. Seu primeiro contato com sons brasileiros foi na adolescência quando apresentou um concerto solo para violão clássico em que tocou obras de Villa Lobos e Laurindo Almeida. Já iniciado, mergulhou em Baden Powell, João Gilberto e Tom Jobim e logo após no violão de João Bosco, Gilberto Gil e Filó Machado. Em 1998, graduou-se no Brucknerkonservatorium de jazz na Áustria e ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, na renomada Berklee College of Music. de Boston, onde passou quatro anos. Tem formação de música erudita e estudou oboé, instrumento com o qual tocou na orquestra do Brucknerkonservatorium e em outras formaçõs de música de câmara.

Mudou-se para o Brasil em 2003 e desde então dedica-se à composição e arranjo. Tem trabalhado ao lado de artistas como Hamilton de Holanda, Elba Ramalho, Chico César, Rodrigo Campos, Paula Lima, Paulinho Moska, Danilo Caymmi, Moreno Veloso, Verônica Ferriani, Luisa Maita, Luisa Possi, Ana Cañas, 5 a Seco, Toninho Ferragutti, Kiko Dinucci e Tatiana Parra.

Como se dá sua formação musical?

"A música sempre esteve muito presente em minha família, apesar de ninguém ser músico profissional. Meu pai toca violão e guitarra, minha mãe faz parte de um coral, meus dois irmãos mais velhos também tocam. Então eu, como mais novo, tive contato com música, ensaios, instrumentos, desde que consigo me lembrar. Acabei aprendendo violão e oboé desde criança. A música ocupou um lugar importante na minha vida."

Sobre sua bagagem erudita, ele diz: "Como nasci na Áustria, escutei bastante música erudita, toquei em orquestra, conheci a obra de Villa-Lobos e, ao mesmo tempo, um amigo meu me deu uma fita com o som de João Gilberto e Baden Powell. Lembro também de shows do (violonista espanhol) Paco de Lucia, que foram muito marcantes. Mais tarde, já morando e estudando nos EUA, escutei muito jazz e funk, todo tipo de música negra, pois a questão do suingue sempre me atraiu. Nisso, entra também meu interesse pela música africana, por países como Benin, Mali, Marrocos e Congo." De Brasil, ele lembra de Garoto, Baden Powell, Rafael Rabello, Roberto Mendes, Yamandú Costa e Nelson Veras.

As novidades de sua carreira são promissoras: "Vou lançar neste ano meu primeiro disco solo, intitulado 'SP'. Faço parte do Ricardo Herz Trio, com o qual já tocamos Brasil e mundo afora, lançamos dois discos." Ele tem ainda dois discos com grupos experimentais, o Afroelectro e o Trigonotron. Produziu o DVD e CD 'Estado de Poesia', de Chico César, e tem três discos em parceria com a cantora Giana Viscardi (um lançado no Japão e na Coréia), além de gravações com Guilherme Ribeiro, Gabriel Grossi, Dani Gurgel. Composições suas já foram registradas por Izzy Gordon, Mariana Aydar, Joana Duah e Ana Paula da Silva.


Edson Sant'annapiano
Música para mim é um canal para conectar com o Divino. Um espaço de criação continua, que dá acesso ao infinito de possibilidades. A liberdade."

Pianista, compositor e arranjador de 35 anos, Edson Sant’anna é natural de Joinville (SC) onde iniciou na música tocando em bandas de baile em sua cidade. Em São Paulo estudou piano popular e concluiu o Bacharelado em Composição pela Universidade de São Paulo – USP. Participou de diversos grupos de música instrumental, como Bob Wyatt Quartet, Paulo Malheiros Noneto, Thiago do Espirito Santo Trio (com CD gravado), Banda Jazz Sinfônica de Diadema (SP), Alex Buck Octeto (com CD gravado). Como pianista convidado já acompanhou artistas como o baterista e compositor Wilson das Neves (RJ), as cantoras Sara Chrétien (SP), Silvia Maria (SP) e Fabiana Cozza (SP). Faz parte dos grupos de Música Instrumental Marcos Paiva Sexteto (com dois Cds gravados), Jorginho Neto Sexteto (com dois Cds gravados), Trio Ciclos, ao lado de Bruno Migotto e Alex Buck – trio de música instrumental brasileira e improvisação com dois cds gravados e preparando o terceiro (Mobiles Vol. II), Daniel D’Alcantara Quinteto (com Cd gravado) e Soundscape Big Band Jazz em que participou da gravação de seus III e IV cds (Cores e Paisagens sonoras). Edson Sant’anna é professor do Curso Superior de Música (Bacharelado) da Faculdade Cantareira.

"Meu avó gostava muito, ele e seus irmãos mantinham a “música por perto”, eram amadores que tocavam algum instrumento. Eu cresci em contato com ele, pois morávamos em uma casa ao lado e a música que veiculava nesse ambiente familiar era a caipira, moda de viola, terno de reis e a música da igreja”, conta Edson. Suas maiores influências são Charlie Parker, Bud Powell, Thelonious Monk, Bill Evans, Oscar Peterson, Herbie Hancock, Michel Petruciani, Chick Corea, Brad Melhdau, Miles Davis quintet, Bach, Beethoven, Schumann, Chopin, Debussy, Ravel, Stravinsky, Bartok, Grisey, Messiaen, Villa Lobos, Camargo Guarnieri, Almeida Prado. Tom Jobin, K-Ximbinho, Johnny Alf, Miltom Banana, Luiz Eça, João Donato, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, o choro em geral e os sambas da época “pré-bossa nova.

Gig 4

Jorginho Netotrombone
Música para mim é liberdade"

Começou sua vida musical na Banda Marcial da igreja aos 13 anos, tocando trombone de vara. Aos 18, entrou na Universidade Livre de Música Tom Jobim e, aos 22, já formado, começou a tocar com artistas como Frank Sinatra Jr., Roberto Menescal, Johnny Alf, Joyce e Agnaldo Rayol. Acaba de lançar do cd autoral Harlem, de Jorginho Neto Collective, projeto criado em 2015 pelo próprio trombonista que reúne os instrumentistas Sidmar Vieira (trompete), Gustavo Bugni (piano), Vitor Cabral (bateria) e Robson Couto (baixo). O grupo parte da pesquisa do jazz em suas várias vertentes e explora suas intersecções com a levada do funk dos anos 1970.

Aos 34 anos, ele lembra dos principais trabalhos. "Eu fiz um duo com mestre Raul de Souza, toquei com a Jazz Sinfônica e a Osesp, em Londres, e ainda com Gilberto Gil, Ivan Lins e João Bosco, Frank Sinatra Jr, Paquito D'Riviera e a Banda Mantiqueira, na Sala São Paulo." Seus trabalhos hoje, além da carreira solo, são com a Big Band Soundscape, a Banda Retete, a Banda Urbana e a Banda Savana.


Rubinho Antunestrompete
Música é a poesia dos sons"

Trompetista de Johnny Alf desde 1998, o músico de Ribeirão Preto, 38 anos, formado pela UNICAMP , já tocou com nomes como Toquinho, Banda Mantiqueira, Orquestra Jazz Sinfônica, Soundscape, Mozar Terra, entre outros. Rubinho gravou também com Sá, Rodrix & Guarabira e com o Grupo Bons Tempos, em comemoração aos 100 anos de nascimento de Ary Barroso e aos 50 anos da Petrobrás. É um dos fundadores do grupo Comboio, onde atua como arranjador e compositor. Além de seu trabalho autoral, integra as bandas Cacique Jazz Combo, Bissamblass e o quarteto Ludere, ao lado do pianista Philippe Baden Powell, o baterista Daniel de Paula e o contrabaixista Bruno Barbosa, com quem lança neste momento o cd Retratos.

"Não venho de família de músicos, mas em casa sempre se ouviu muita música. Comecei a tocar flauta doce aos seis anos na banda de Santa Rosa de Viterbo. Aprendi a ler música antes de ler letras. Aos oito, comecei a aprender trompete e sigo aprendendo até hoje”, conta Rubinho.

Sua principal influência é a canção brasileira. Aos 12 anos, ouvia João Gilberto, Chico, Jobim, Milton, Caetano, Gil, João Bosco. O jazz veio depois, quando comecei a frequentar escolas de música com o intuito de ser profissional.


Mariana Sanchez bateria
Música é o que me faz entrar em contato com a minha alma"

Aos 29 anos, Mariana conta como a música se impôs em sua vida. "Sempre tivemos o costume de escutar muita música na minha casa, e a bateria sempre me chamou muito mais a atenção do que os outros instrumentos. Comecei a fazer aula aos 12 anos e, desde então, nunca mais parei de tocar. Teve influências de Thelonious Monk, Tony Williams, Elvin Jones, John Coltrane, Miles Davis, Roy Haynes, Hermeto Pascoal, Edu Ribeiro e Lilian Carmona. Um de seus maiores feitos foi participar de uma apresentação com o baterista Steve Smith, nos EUA.


Glécio NascimentoBaixo
Música é o meu presente, dado pelo universo"

Baixista de mãos cheias, Glécio, 34 anos, cresceu em um ambiente onde tudo era motivo para festa e o som de toda comemoração familiar era quase sempre o forró de Luiz Gonzaga e de Dominguinhos. Porém, foi aos 12 anos de idade, quando ganhou um disco de vinil e uma fita K7 do Elvis Presley, que o garoto decidiu que "tinha que tocar guitarra". "Mas meu coração falava outra coisa e, resumindo, um dia fui com minha mãe em uma loja comprar uma guitarra e voltei com o meu primeiro contrabaixo."

Ele descreve Chopin, Sivuca, Dominguinhos e Charlie Parker como seus heróis.

Dentre os trabalhos que já fez, estão a presença em vários festivais de jazz e música instrumental pelo Brasil, incluindo Rio das Ostras Jazz & Blues, Santos Jazz Festival e Ilhabella Live Jazz, além de outros programas de TV, como o de Jô Soares, artistas (cantores) como Wanderléa, Sandra de Sá, Wilson Simoninha, Mariana Avena (Raices de América) e Babi Mendes. Músicos e grupos como o Bocato 5tet, Edu Ardanuy, Spok (Spok Frevo Orquestra) Michel Leme, Faiska, Igor Willcox 4tet, Lupa Santiago, Nenê Baterista (Realcino Lima Filho), Cuca Teixeira e Marcelo Coelho.