Ao mesmo tempo que pesquisadores chamam atenção para o “esvaziamento” da biodiversidade da Mata Atlântica, câmeras escondidas mostram que ainda há muito o que se preservar no âmago da floresta
Luciano Candisani/Legado das Águas
É noite na Mata Atlântica. Uma anta caminha tranquila com seu filhote pelo interior do Parque Estadual Carlos Botelho, no Vale do Ribeira, região sul do Estado de São Paulo. O pequeno pausa para bisbilhotar uma planta, depois aperta o passo para não se distanciar da mãe. Predadores podem estar à espreita. Não muito longe dali, no Parque Estadual Intervales, uma onça-pintada fareja o solo em busca do cheiro de uma presa ou, quem sabe, de uma parceira para se acasalar. No topo das árvores, uma família de muriquis descansa em segurança, depois de um dia coletando frutos e espalhando sementes pela floresta; enquanto que mais ao leste, na reserva Legado das Águas, um casal de cachorros-do-mato-vinagre deixa a toca (roubada de um tatu-galinha no dia anterior) para caçar.
Estúdios fotográficos escondidos na selva pelo fotógrafo Luciano Candisani revelam a fauna da Mata Atlântica na reserva Legado das Águas, do grupo Votorantim, em Tapiraí (SP)
Cenas como essas ainda ocorrem com frequência nas profundezas da Mata Atlântica; mas estão cada vez mais raras. Mesmo pesquisadores experientes, que dedicam a vida ao estudo desses animais, raramente têm a oportunidade de observá-los ao vivo no interior da mata, tendo de se contentar com pegadas, fezes e restos de comida para extrair pistas sobre o seu comportamento. Não foi à toa que os habitantes da Mata Atlântica ganharam o apelido de “fauna invisível” — termo cunhado pelo fotógrafo Luciano Candisani, após anos documentando esses bichos na natureza.
“Embora represente uma das maiores concentrações de biodiversidade do planeta, a fauna da Mata Atlântica é uma das mais difíceis de ser observada. Você anda, anda, anda por horas dentro da mata e não vê nada”, relata, por experiência, a bióloga Sandra Cavalcanti, presidente da ONG Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais, mais conhecida como Instituto Pró-Carnívoros (IPC).
É o maior primata das Américas; só existe na Mata Atlântica; tem uma cauda preênsil, que funciona como um braço. É um importante dispersor de sementes, inclusive de grandes espécies de árvores, ao se alimentar dos frutos e defecar as sementes a quilômetros de distância. Sua carne é muito apreciada por caçadores. Esta espécie (do sul) só ocorre nos Estados de SP, RJ e PR.
Bicho raro e de aparência esquisita; é um canídeo de pernas curtas e com membranas interdigitais nas patas, como as de uma lontra. Carnívoro, é um predador que se alimenta principalmente de tatus, mas pode também abater presas maiores, como veados e catetos.
Espécie descoberta em 1996, com base em estudos genéticos de alguns poucos animais de cativeiro; confirmada na natureza a partir de 1998. É a mais rara de três espécies de veados selvagens da Mata Atlântica, e pouco se sabe sobre ela. Acredita-se que sua ocorrência seja restrita às florestas de São Paulo e Paraná.
Maior porco selvagem das Américas. Extremamente sensível à caça e à degradação ambiental; mesmo populações grandes podem desaparecer em pouco tempo. Anda em grandes bandos que reviram a floresta em busca de sementes, frutos e raízes. Nesse processo funcionam como “engenheiros ambientais” que mantêm a dinâmica do ecossistema. Também comem minhocas, ovos, sapos, cobras e outros pequenos vertebrados.
Segundo maior roedor do Brasil, depois da capivara; é muito caçada pela sua carne, considerada saborosa e de alta qualidade. É um roedor que se alimenta de frutas e sementes; tem hábitos noturnos, é bom nadador e costuma fugir para a água quando ameaçado. Vive em tocas e túneis que ele mesma cava.
É o maior e mais comum dos pequenos felinos das florestas tropicais, frequentemente confundido com filhotes de onça-pintada. Carnívoro, se alimenta de pequenos mamíferos, pássaros e lagartos, ajudando a manter as populações desses animais sob controle.
É o maior felino das Américas, com a mordida mais forte dentre todos os felinos no mundo (incluindo leões, tigres, etc). Predador supremo das florestas tropicais no continente; tem uma dieta que pode ser muito variada, mas prefere mamíferos de médio porte, como os porcos selvagens (queixadas e catetos). Precisa de grandes áreas para sobreviver e é bastante sensível à degradação ambiental
Felino de aparência peculiar, semelhante a um gato doméstico, mas com uma cabeça pequena em relação ao corpo. Carnívoro, caça no chão e nas árvores, alimentando-se de pequenos mamíferos, aves, répteis e anfíbios. É um bicho com ampla distribuição geográfica, porém bastante raro. Compete por território e presas com as jageuatiricas.
É o maior primata das Américas, ao lado de sua espécie irmã do sul (B. arachnoides) — que é ligeiramente maior. Também endêmica da Mata Atlântica, só existe nos Estados de MG, ES e BA, onde a Mata Atlântica está mais fragmentada (e por isso seu status de ameaça é mais grave). Diferencia-se morfologicamente do muriqui-do-sul pela presença de manchas claras no rosto.
Animal extremamente adaptável a diferentes condições ambientais, desde montanhas nevadas até florestas tropicais (por isso é bem mais comum que a onça-pintada). Espécie ocorre em todo o continente, mas tem subpopulações ameaçadas. Na Mata Atlântica, é muito perseguida por predar animais de criação, como bezerros, porcos e ovelhas. Não é forte como a onça-pintada, porém muito ágil e esguia.
É o maior mamífero terrestre do Brasil. Herbívoro, consome folhas e uma grande variedade de frutos da floresta, exercendo um papel crucial de dispersão de sementes pelas suas fezes, especialmente de palmeiras. Vive próxima à água e abre trilhas no meio da mata com seu corpanzil (“carreiros de antas”), que são usadas por outros animais para locomoção. Já foi extinta na Caatinga e na Mata Atlântica do Nordeste.
Predador extremamente ágil, parecido com um grande furão. Pode nadar e escalar árvores com facilidade em busca de comida. Alimenta-se de pequenos mamíferos (como roedores ou até macacos), aves, répteis e anfíbios. Também consome frutos e mel — por isso é popularmente conhecido como papa-mel.
Depois de quase uma década trabalhando com monitoramento de onças-pintadas no Pantanal, Sandra desembarcou na Mata Atlântica de São Paulo em 2009 com um pé atrás. “Vou fazer o que lá? Nem deve ter mais onça”, pensou ela, antes de arrumar as malas e se mudar de uma fazenda perdida nas planícies de Mato Grosso para Atibaia, às margens da capital paulista.
Seu pessimismo era justificado. Fragmentada e sitiada há mais de cinco séculos pela ocupação humana, com míseros 12,5% de suas florestas ainda de pé (ou pior, 8,5%, se considerarmos apenas os fragmentos com mais de 100 hectares), a Mata Atlântica parecia incapaz de sustentar populações significativas de um carnívoro de grande porte como a onça-pintada, que necessita de grandes áreas e uma oferta generosa de presas para sobreviver.
O único jeito de ter certeza era ir a campo. Em 2011, Sandra e outros três biólogos passaram um mês se embrenhando pelos pontos mais remotos da maior mancha contínua de Mata Atlântica que resta no País, na interface do Vale do Ribeira com a Serra de Paranapiacaba, instalando dezenas de “armadilhas fotográficas” (câmeras camufladas automáticas, que disparam quando algo se move diante delas), na esperança de capturar imagens de uma ou outra onça-pintada que passassem por ali.
RG de OnçaClique e acesse o infográfico sobre a identificação de onças-pintadas Ao todo foram montadas 38 estações de monitoramento, com duas câmeras cada uma, cobrindo 80 mil hectares de floresta. Alguns pontos eram tão remotos que as caminhadas chegavam a durar 18 horas, obrigando os pesquisadores a dormir na mata, molhados, exaustos e carregados de carrapatos. “Se você quiser se perder na Mata Atlântica, esse é o lugar”, avisa o biólogo Alexandre Martensen, que participou do trabalho.
Três meses depois, quando todas as câmeras foram recolhidas, e suas imagens, contabilizadas, a equipe mal podia acreditar no que via. As armadilhas não só “capturaram” um número bem maior de que o esperado de onças-pintadas (63 registros fotográficos, de 8 animais diferentes), como vários outros mamíferos da “fauna invisível”, incluindo onças-pardas, jaguatiricas, gatos- mouriscos, pacas, antas, iraras, quatis, cotias, tatus, macacos, veados selvagens e cachorros- do-mato-vinagre. Dezessete espécies no total, além de outras seis, como a lontra e o tamanduá-mirim, que os pesquisadores conseguiram registrar direta ou indiretamente durante suas incursões na mata.
Sandra Cavalcanti“Quando sentava todo mundo para ver as fotos era uma festa” Os resultados, diz Sandra, foram “surpreendentes e extremamente gratificantes”, revelando que a Mata Atlântica continua viva, apesar de todos os estragos causados pelo homem. “Esses bichos são invisíveis aos nossos olhos, mas eles estão lá”, celebra a pesquisadora. “A diversidade de espécies que registramos é simplesmente impressionante.”
“É incrível como esses bichos resistem, apesar de tudo”, concorda Mauro Galetti, pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, que há cinco anos também utiliza armadilhas fotográficas para monitorar espécies da Mata Atlântica. “É algo que nos dá mais esperança para continuar trabalhando.”
Armadilhas fotográficas deixadas por pesquisadores do Instituto Pró-Carnívoros (IPC) na matas do Parque Estadual Intervales e Fazenda Nova Trieste capturaram imagens de uma grande variedade de animais.
Como funcionam as armadilhas fotográficasVideográfico de como funcionam as armadilhas fotográficas As “camera traps”, como são chamadas em inglês, já são usadas há algumas décadas para fins de pesquisa e conservação, mas foi só nos últimos dez anos, com a disseminação e o barateamento das tecnologias digitais, que elas se tornaram compactas, simples e acessíveis o suficiente para serem empregadas em larga escala no campo — dando início a uma revolução tecnológica que “alavancou as pesquisas com mamíferos no mundo todo”, segundo Galetti.
Como num reality show, as câmeras permitem aos cientistas espiar os animais no seu estado natural, sem interferir no seu comportamento. Na Mata Atlântica, as imagens são uma injeção de vida na floresta, trazendo à luz animais raros e furtivos que a maioria das pessoas nunca viu ou nem sabe que existe. Há 270 espécies de mamíferos no bioma, mas apenas uma minoria é conhecida do grande público. Se incluirmos répteis, anfíbios e invertebrados nessa conta, então, o desconhecimento ganha proporções astronômicas.
PE Jurupará
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Capão Bonito
Legado
das Águas
Intervales
Nova
Trieste
EE Juréia-
Itatins
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Miracatu
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Riberão Grande
PE Carlos Botelho
APA Serra do Mar
PENAP
Luciano Candisani“A imagem tem esse enorme poder de comunicação e de emocionar” “Desde pequeno eu me lembro de olhar para a Mata Atlântica e pensar: O que será que tem ali dentro?”, conta o fotógrafo Luciano Candisani, que, como tantos outros paulistanos, cresceu descendo a Serra do Mar para fugir da cidade e passar os fins de semana na praia. Determinado a saciar essa curiosidade, ele desenvolveu uma versão mais sofisticada das armadilhas fotográficas, com câmeras e flashes profissionais, capazes de registrar não só a presença dos animais, mas também suas belezas e personalidades. “São verdadeiros estúdios na mata, em que os animais fazem seus próprios retratos”, descreve ele.
Desse projeto, implementado há três anos numa reserva particular de Mata Atlântica do Grupo Votorantim (Legado das Águas), estão brotando imagens emblemáticas e inusitadas da fauna invisível — incluindo a de uma anta albina, nunca antes registrada na natureza. “Toda vez que olho as fotos dessas câmeras pela primeira vez é uma emoção, ver esses animais surgirem da floresta”, conta Candisani.
Os registros de onças-pintadas são especialmente relevantes para os cientistas por causa do papel fundamental que a espécie exerce no organograma ecológico da floresta. Segundo Galetti, a onça-pintada é como o executivo-chefe (CEO) de uma grande empresa. “É ela quem organiza e controla todo o ecossistema”, diz o pesquisador. “Se você perde esse CEO, a empresa não funciona direito.”
Outra figura fundamental nesse organograma florestal é a presa favorita da onça-pintada: o queixada, um porco selvagem que se alimenta das sementes de palmeiras e que, na sua constante busca por comida, acaba atuando como um “engenheiro de ecossistemas”. Ao caminharem pela mata em grandes bandos, pisoteando, cavoucando, revirando e mordiscando tudo que encontram pela frente, os queixadas introduzem uma necessária pitada de caos no sistema, que ajuda a floresta a se manter dinâmica e se renovar continuamente.
Já os muriquis-do-sul, também conhecidos como mono-carvoeiros (por causa do rosto negro, que parece sujo de carvão), têm um papel fundamental na dispersão de sementes, que eles carregam em seu ventre por longas distâncias após se alimentar dos frutos das árvores. São os “jardineiros da mata”, nas palavras do pesquisador e primatólogo Mauricio Talebi, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), campus Diadema, e coordenador científico da Associação Pró- Muriqui. Sem esses grandes macacos peregrinando pelo topo da mata, a distribuição de várias espécies de árvores ficaria comprometida.
“A equação é simples: Você planta muriqui e colhe floresta”, resume Talebi. “Sem o muriqui, a floresta perde diversidade.”
Choro de um filhote recém-nascido.
Comunicação entre indivíduos localizados não muito distantes entre si, com intuito de localização espacial. Algo como: “Oi, estou aqui. Você está por aí?”
Comunicação entre indivíduos localizados distantes entre si, com intuito de localização espacial. Algo como: “Estou por aqui. Onde estão vocês?”
Comunicação entre indivíduos localizados a grande distância entre si, com intuito de localização espacial, associado a um contexto de alimentação ou uso de algum recurso, como comida, sítio de dormida ou manutenção de coesão de grupo. Pode ser ouvido a 2 quilômetros de distância. Algo como: “Estou por aqui, tem alguém por aqui? Encontrei comida, venham até aqui, vamos dormir aqui”.
Chamado de contato individual, interação amistosa entre dois ou mais indivíduos.
Contexto amistoso, podendo ser saudação, entre dois ou mais indivíduos.
A anta exerce um papel semelhante na dispersão de sementes — especialmente sementes grandes, que só ela tem condições de comer. Maior herbívoro do continente, podendo pesar mais de 250 kg, ela abre trilhas por onde passa, conhecidas como “carreiros de anta”, que outros animais — incluindo seres humanos — utilizam para se locomover dentro da selva. Encontrar seus rastros é fácil; mas ver uma anta na floresta é difícil. Apesar do tamanho, é uma espécie discreta e de olfato aguçado, que raramente se deixa ser vista pelo homem.
Essa “invisibilidade” pode ser atribuída a uma combinação de fatores naturais e antrópicos (causados pelo homem), segundo os pesquisadores. É natural que seja difícil avistar animais numa floresta tropical, pois a visibilidade é restrita, não faltam lugares para se esconder e os bichos percebem a presença das pessoas muito antes do contrário. Por outro lado, não há dúvida de que o número de animais seria bem maior sem a interferência humana.
Em áreas sob forte pressão de caça, a quantidade de mamíferos de médio e grande porte na floresta chega a ser 98% menor, segundo Galetti. “A Mata Atlântica hoje é uma floresta vazia, com alta diversidade, porém baixa abundância”, afirma ele.
“Andar na Mata Atlântica sem ver bicho nenhum é profundamente antinatural”, diz o biólogo Fernando Fernandez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em ecologia populacional de mamíferos. “A gente se acostumou a essa situação e pensa que é normal, mas não é.”
Ainda que o número de onças-pintadas “capturadas” no projeto de Sandra em 2011 tenha sido maior do que o esperado, sua situação é frágil. A espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção na Mata Atlântica, com uma redução de 80% da sua população efetiva nos últimos 15 anos. Hoje, estima-se haver menos de 250 indivíduos sobreviventes em todo o bioma.
No contínuo florestal da Serra de Paranapiacaba (uma área de quase 3 mil km²), o número de onças-pintadas registradas não chega a 20. “É uma população pequena demais para ser viável”, alerta a pesquisadora Beatriz Beisiegel, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do ICMBio, que monitora onças na região desde 2006. “Numa situação dessas, qualquer desequilíbrio pode levá-la ao colapso.”
No Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), apesar de sua grande cobertura florestal, os registros de onças-pintadas são raríssimos, o que sugere que o número de onças na unidade é extremamente baixo.
Em outros lugares, é possível que isso já tenha acontecido. No emblemático Parque Estadual da Serra do Mar, são raríssimos os registros de onça-pintada nos últimos dez anos. “Ela está lá, mas é praticamente um fantasma”, diz o biólogo Peter Crashaw, um pioneiro da pesquisa com onças-pintadas no País. “É um estágio que eu chamaria da funcionalmente extinta.” No Parque Nacional do Iguaçu, a situação também é preocupante: o Instituto Pró-Carnívoros estima que o número de onças-pintadas nas matas da unidade caiu de 100 para 20 nas últimas duas décadas, com risco de a espécie desaparecer por completo de lá até o final deste século.
“A Mata Atlântica pode ser o primeiro bioma do mundo a perder o seu predador de topo”, afirma Galetti. Logo abaixo da onça-pintada na cadeia alimentar está a onça-parda, que é bem mais abundante, mas não tem as características necessárias para assumir a “chefia” do bioma. Ela é menor do que a pintada, bem menos exigente em termos de qualidade ambiental e bem mais flexível em sua dieta, podendo comer desde ratos até antas.
E se a coisa não está fácil para as onças, não está fácil para ninguém. As duas espécies de muriqui também correm risco de extinção; em especial o muriqui-do-norte, que se agarra à sobrevivência em alguns poucos fragmentos de mata do Espírito Santo, Minas Gerais e sul da Bahia. O porco queixada sumiu de boa parte do Vale do Ribeira, apesar de ser abundante no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, no extremo sul do litoral paulista — tão abundante que chega a prejudicar a floresta, porque não há onças-pintadas lá para controlar sua população.
Pesquisadores calcularam a capacidade dos remanescentes da Mata Atlântica de abrigar as quatro espécies-chave do bioma (veja abaixo). Só 16% das florestas que restam conseguem abrigar as quatro.
Há desequilíbrios por toda parte. Pesquisadores, incluindo Galetti, estimam que 88% dos remanescentes de Mata Atlântica do País já não possuem mais nenhuma dessas quatro espécies-chave: onça-pintada, queixada, anta ou muriqui; sem as quais toda a biodiversidade da floresta fica comprometida. Apenas 16% ainda mantêm condições naturais propícias para abrigar todas elas — a maior parte, nas Serras do Mar e de Paranapiacaba.
José Golfetto“A biodiversidade aqui é muito grande, muito grande mesmo” Outro estudo calcula que a Mata Atlântica precisaria ter no mínimo 30% de sua cobertura vegetal original preservada — mais que o dobro do que ela tem hoje — para garantir a sobrevivência da maioria de suas espécies. “Menos do que isso, e a biodiversidade começa a declinar rapidamente”, diz o ecólogo Jean Paul Metzger, da Universidade de São Paulo, responsável pelo trabalho.
Os cientistas torcem para que as imagens registradas pelas armadilhas fotográficas capturem também a atenção do público e das autoridades, a tempo de evitar que o adjetivo “invisível” se torne sinônimo de “inexistente”.
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